Verdadeira realidade

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É engraçado você viver 19 anos achando que é linda e poderosa. Você acordar com um ótimo humor, passar aquele lápis no olho e caminhar por aí, com um sorriso corajoso no rosto.

Na minha cidade natal, eu sempre fui apontada como "linda" "fofa" e "adorável". Era uma cidade pequena, no interior do Texas, Estados Unidos, donde o nome pode ser completamente ignorado. Não havia nada de mais naquela cidade, então não vejo razão para falar sobre.

O ponto que eu quero chegar aqui é que lá eles gostavam de mim. Eu amava ser taxada de adorável, linda e fofa. Quem não amaria? E por esta razão, acho que cresci mimada demais.

Quer dizer, mimada demais não seria a interpretação correta. Talvez iludida demais.

É, iludida demais.

Os meus pais eram separados e eu sempre vivi com a minha mãe. Entretanto e felizmente, a relação entre o meu pai e eu era a melhor possível. O pai vivia em Houston, com o cargo respeitado de cirurgião plástico e sempre me visitava em suas raras folgas; e um ponto de se tocar é que ele é coreano.

Bom, de qualquer forma, não tenho em nada, parecido com meu pai. De longe sou americana. De perto também.

No dia 24 de novembro de 2014, completei 19 anos. No outro dia, chegou o meu pai com um presente enorme embalado e o meu passaporte para a Coréia do Sul. Meu pai se formou na Coréia, e o sonho maluco dele sempre fora de eu me formar por lá também.

E apesar de ser um sonho maluco, eu já havia o aceito. Fiquei muito tempo aprendendo a língua coreana, porém não sou lá tão fluente. Bom, ao menos sirvo para dialogar.

Meu sonho sempre fora cursar design gráfico. Inicialmente, o plano fora de eu começar a cursar quando estivesse na Coréia, e eu até que faria se minha ansiedade não fosse maior que tudo isso. Conclusão: comecei a faculdade em Houston e tive que pedir transferência ao final de novembro. Eu não podia ir contra o desejo do meu pai, doido – E por que não dizer obcecado – em me enviar para a sua amada Coréia do Sul.

Completa-se hoje um mês desde que me mudei para cá. Para esta terra inteiramente diferente da minha. Não vou dizer que seja algo absurdamente diferente, até porque estamos na modernidade do século XXI. Mas lembra do que falei sobre crescer sob boa reputação, sobre o sorriso confiante no meio da rua e sobre resumidamente achar que estava abalando geral?

Tudo isso fora embora para a puta que pariu.

Estou sozinha no refeitório da faculdade, ora olhando pro prato de comida ora encarando o garfo. Eles me parecem bem interessantes, até porque não há nada mais a se fazer no momento; a mesa em que estou sentada está situada num canto de luz escuro do refeitório, mas conhecido como Ninguém me enxerga.

Eu estudava no turno da noite por preferência. O meu pai ficaria a cargo de me cobrir as despesas todo final de mês, mas de qualquer forma preferi a escuridão. Estudar durante a noite sempre fora o meu sonho, e outra: vai que eu encontro um trabalho legal por aí? Nunca trabalhei, seria legal pegar alguma experiência e já ir conseguindo o meu próprio dinheiro.

Dei uma garfada na salada e mastiguei olhando para o nada. Eu nunca pedi por atenção, nunca mesmo. Claro, nunca precisei pedir. Mas hoje vejo que eu necessito de atenção. Até agora não entendi porque ninguém veio falar comigo, porque ninguém daqui tornou-se o meu amigo. Eu não falo coreano tão mal assim... E poxa, poderia ser ao menos um " Onde fica o banheiro? ", eu teria o prazer de responder! Dialogaria por alguns felizes segundos.

Sério... O meu estado não é lamentável?

- Christine, Christine! – Olhei para trás e lá estava Eunji vindo correndo em minha direção. Revirei os olhos e voltei a meu prato, dando mais uma garfada na salada. – Ah! Que bom que eu te encontrei!

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