Limite

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Assistir aos ponteiros em movimento daquele relógio sobre o microondas pareceu-me uma boa ideia de início. O ponteiro dos segundos parecia querer roubar a minha manhã cada vez mais; o ponteiro dos minutos... aquele, vezes movia-se rápido, vezes movia-se devagar, levando-me a questionar se este estaria mesmo à mercê do tempo de segundos; o ponteiro das horas não andava... vi aquilo como se fosse minha vida.

Observar o relógio começou a ficar chato, visto que nem barulho o mesmo fazia ao trabalhar. Corri meus olhos para outro canto da cozinha e tomei a xícara de chá, levando à boca em uma velocidade parecida com o do ponteiro dos minutos.

Para onde eu olharia desta vez?

Parei o olhar na geladeira. Naquele momento me toquei de precisava fazer compras, mas com isso acabei sendo possuída por um enorme e inabalável desânimo. Respirei fundo e soltei o ar pela boca, o que fez eu receber um vapor significantemente quente perto do meu queixo: o chá intocável.

Baixei a xícara e depositei-a em cima da mesa. Desde cedo não possuía vontade de comer, então o que eu ainda estava fazendo com aquilo?

Resolvi levantar-me da cadeira e fazer algo útil para minha vida, como, por exemplo, correr até o shopping do qual Eunji provavelmente já estaria me esperando.

E foi o que fiz, mesmo sem possuir vontade alguma para sair. Vesti qualquer roupa que me apareceu primeiro, amarrei o meu cabelo em um rabo-de-cavalo alto e não precisei olhar-me no espelho para constatar que estava feia e sem graça.

Ao chegar no primeiro andar do prédio, lembrei-me de que a porta não foi trancada. Fechei meus olhos, sentindo uma raiva enorme de mim mesma aparecer do nada e subi novamente ao meu andar.

[...]

Eunji e eu havíamos combinado de nos encontrarmos na praça de alimentação. Eu estava atrasada uns bons 40 minutos, mas o estranho era que não estava ligando para isso. Na verdade, se Eunji tivesse desistido de me esperar e eu não o encontrasse mais por lá, seria realmente uma boa.

Não por não desejar a companhia dele, eu o adorava, mas o meu ânimo estava abaixo de zero para tudo.

Cheguei na praça de alimentação e comecei a procurar Eunji com o olhar. Não foi difícil encontrá-lo, afinal ele estava sozinho e sua mesa continha nada menos que 4 copos de suco.

Caminhei até ele e, ao chegar na mesa, sentei-me sem mais delongas. Soltei um suspiro enquanto me ajeitava na cadeira e observei Eunji me olhar com a testa franzida.

— O que você tem? — Ele perguntou.

— Oi pra você também, Eunji. — Falei baixo. Eu não deveria nem estar com vontade de falar.

— Você é quem tinha que me dar oi. Foi você quem chegou.

— Oi. — Apontei os copos sobre a mesa — O que é isso?

— Suco de laranja.

— Isso eu sei. Me refiro sobre você ter ultrapassado o próprio recorde com esses quatro copos.

— Esses sucos devem ter alguma macumba. — Ele olhou para os copos com uma expressão frustrada e depois voltou a olhar para mim — Quanto mais eu bebo, mais eu quero.

— Será que você está viciado em sucos de laranja?

— Desde quando a laranja vicia? Essa é nova... — Eunji olhou para o copo que segurava e resolveu indicá-lo a mim — Você quer?

— Não perguntamos "você quer", e sim "você aceita". Soa como se estivéssemos com vontade, e não como se você quisesse dividir comigo.

— Falou a expert.

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