Nunca Se Apaixone

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Quando parto para cima de Vinicius ouço um barulho de tiro. Após alguns segundos sinto minhas pernas bambas e a dor é tão aguda que não escuto mais nada. Tudo vai ficando escuro. Percebo que as pessoas estão em torno de mim, mas não escuto o que dizem. Somente escuto o silêncio.

Parece estranho isso, eu sei, mas pela primeira vez eu percebo que o silêncio tem som. Um som triste e enlouquecedor.

Vejo uma luz ofuscando meu olhar. Uma luz que aos poucos está se aproximando de mim e me consumindo.

Vejo-me quando criança, com minha linda mãe cantarolando para que eu conseguisse dormir. Vejo meu pai sorrindo enquanto olhava para nós duas e dizia: Vocês são as mulheres da minha vida...

Laura se aproxima de mim. Ela está linda. Seu cabelo preto e cacheado está esvoaçando com o vento. Vestida em um simples vestido branco que me traz paz. Uma paz que há muito tempo eu não conseguia alcançar. Uma paz que me faz querer viver novamente.

Ela sussurra algo enquanto sorri. Ao se aproximar um pouco mais eu compreendo: Vanessa, você tem que viver.

Ela me abraça, me reconfortando.

Eu não quero sair daqui.

Laura acena e vai desaparecendo aos poucos, deixando um vazio. Porém, não é um vazio triste.

***

É estranho como eu estou desacordada, mas sinto presença humana perto de mim. Eu não compreendo o que dizem. Eu tento abrir meus olhos, mas não consigo.

Num desses dias, Martin estava perto de mim. Ele segurou minha mão e o calor que foi transpassado por ela, me fez querer voltar à vida.

Quando abro meus olhos com dificuldade – como se eu estivesse desacostumada com a claridade – vejo um homem todo de branco me encarando. Ele balbucia algo inaudível.

Após um tempo olhando toda a movimentação no quarto também branco, os sons começam a fazer sentido.

Martin se aproxima novamente e segura minha mão.

— Estou tão feliz que você despertou. — Ele me dá um beijo na testa.

Não sei quanto tempo se passou, mas vejo Rafael entrando na sala. E me esforço para lhe receber com um sorriso.

— E aí, minha paciente? Como está se sentindo? — Ele diz enquanto sorri.

Esforço-me um pouco e consigo levantar minha mão e fazer um sinal de 'ok'. O que lhe faz sorrir.

Dr. Ricardo entra no quarto acompanhado de uma enfermeira — uma mulher baixinha, morena, de meia idade — e começa a me examinar.

Ele toca meus braços e pergunta se estou sentindo, eu confirmo. Então ele desce para minha perna.

O estranho é que eu só sei que ele está segurando minha perna por que estou o vendo fazer isso. Eu não sinto nada.

— Quando sentir a pinça em sua perna faça sinal, por favor. — Ele fala enquanto passa algo sobre minha canela.

Não sinto nada ainda.

Eu sei o que isso quer dizer, mas não consigo acreditar.

— Doutor, por que eu não estou conseguindo sentir as minhas pernas? — Pergunto quase em um sussurro.

Ele não diz nada, apenas pede para as enfermeiras me levarem até outra sala.

Lá ele me explica que irá fazer um exame de estimulação magnética. Eu concordo, mesmo sem entender direito do que se trata.

RENDA-SE! A Casa Caiu...  (COMPLETO) (REVISÃO)Onde histórias criam vida. Descubra agora