Coração de vidro [FINALIZADA]

Trinta - Tobias

Era claro que a ideia de Ludo ia ser absurda, porque afinal de contas ele era uma fada madrinha e esse é o tipo de ideias que as fadas-madrinhas têm: absurdas. Mas essa nem foi a pior parte. A pior parte foi quando contei para Trent o que Ludo tinha sugerido e o infeliz simplesmente achou aquilo fantástico.

– Você ouviu o que eu disse, Trent? – repeti, porque não era possível.

– Claro que ouvi. É brilhante.

– Não é brilhante. É estúpido e arriscado.

– Toda essa ideia foi estúpida e arriscada desde o princípio, Tobias.

– Eu sei, mas... -

– Shhhhhh. – ele tapou a minha boca com os dedos. – Vai dar certo. Eu sabia que salvar a Sra. Malkin tinha sido uma ótima ideia.

Aham. Claro.

Ótima ideia.

Eu bufei e estreitei os olhos, mas Trent não pareceu se abalar com a minha indignação. Ainda tendo certeza de que aquilo ia dar errado, me movi para o fundo do salão, onde Ludo tinha dito que eu deveria estar quando ele desse o "sinal". Que tipo de sinal ele não quis dizer. Só disse que eu ia entender, o que era ligeiramente aterrorizante.

Não precisei esperar muito. De repente um pop ecoou no meio do salão, uma luz verde piscou e Ludo estava ali, de vestido e tudo. As pessoas pararam onde estavam, olhos arregalados. As bolinhas flutuantes que continham as fadas flutuavam estáticas.

Olhei ara Ludo confuso, levantando as mãos e girando o indicador ao lado da minha cabeça, esperando que ele entendesse minha pergunta: você ficou maluco? Ou mais maluco, para todos os efeitos, porque ele com certeza não era uma fada madrinha normal.

– Senhoras e senhores – disse ele. Movi os olhos pela multidão, procurando por Trent, por Quentin, por qualquer um que pudesse estar prestes a pular no pescoço de Ludo, porque eu tinha certeza que era isso que ia acontecer. – Um minuto de sua atenção, por favor.

As pessoas continuaram paradas, como se estivessem hipnotizadas. Se ele tinha algum tipo de poder especial, ou se elas só estavam em choque demais para fazer alguma coisa eu nunca soube, porque naquele momento Ludo bateu uma palma e o caos começou.

As bolinhas de vidro que continham as fadas madrinhas começaram a descer na direção das pessoas, como abelhas furiosas querendo picar a multidão. Gritos ecoaram por cima de passos apressados, até se juntarem com o som das bolas de vidro se quebrando. Um sorriso começou a se formar em meus lábios.

Cada vez que alguém era tacado e tentava se defender, cada vez que uma mão acidentalmente batia em uma bolinha, ela explodia. Exatamente como Ludo tinha dito, quando algum humano encostava na esfera...

As fadas madrinhas começaram a pipocar pelo salão, cada uma com um vestido mais colorido que a outra. Eu estava rindo, mas parecia ser a única pessoa me divertindo com a situação. Todas as outras pessoas estavam simplesmente apavoradas.

A multidão começou a querer ir para fora do salão, mas guardas estavam tentando entrar, uma multidão de corpos, o barulho de metal sendo puxado da bainha, os gritos de terror, os pops e crashes das esferas de vidro.

Eu ainda estava observando todo o caos quando um pop ecoou perto de mim e a voz de Ludo sussurrou no meu ouvido.

– Agora.

Engoli em seco e só hesitei por um segundo.

Comecei a correr pelo salão, pelo meio das fadas e das pessoas. Os soldados agora estavam com as espadas desembainhadas, tentando chegar nas fadas. Eu não tinha certeza se fadas podiam morrer da forma tradicional, mas se aquelas espadas por algum motivo tivessem ferro...

Minha pergunta foi respondida quando um dos guardas conseguiu atingir uma fada de vestido laranja e ela explodiu no ar, floquinhos brilhantes caindo no chão como se fosse purpurina. Senti um frio subir pela minha espinha, meu coração bater ligeiramente mais rápido. Eu não sabia quanto tempo eu e Jax teríamos para encontrar Sebastian, mas, se era tão fácil assim estourar uma fada, eu suspeitava de que não seria muito.

Acelerei minha corrida, até desembocar no pátio oeste.

Mustafa já estava ali esperando por mim.