Trinta e Oito - Alice

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Lá estava eu, em mais uma festa, mas daquela vez não era meu casamento

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Lá estava eu, em mais uma festa, mas daquela vez não era meu casamento. E, pela primeira vez, era exatamente onde eu deveria estar.

Jax estava do outro lado da escada, impecável em seu uniforme, sorrindo.

Tinham se passado apenas dois dias desde o incidente na torre, mas tudo parecia uma lembrança distante. Quase um sonho nebuloso.

A banda começou a tocar. Era o sinal para nós descermos, de mãos dadas, até o salão.

Jax pegou minha mão, dando um beijo nela, e eu sorri. Aquela era a primeira vez que alguma coisa surreal estava acontecendo e eu não queria atirar alguém da janela por causa disso.

– Pronta? – Jax perguntou em um sussurro.

E eu estava.

Assenti.

Jax respirou fundo e, juntos, nós descemos a escadaria até o salão principal.

Como eu disse, não era um casamento. Nem eu nem Jax queríamos nos casar, pelo menos não naquele momento. O que nós queríamos era aproveitar os momentos juntos, nos conhecer, rir e fazer planos. Como sempre dissemos, nós tínhamos tempo, e aquilo nos bastava.

– Por que você está dando esse sorrisinho? – ele perguntou, o rosto perto do meu, enquanto dançávamos devagar.

– Nada - respondi. – Só estava lembrando de... bem, de tudo. Essa é a terceira vez que eu desço aquela escada, mas é a primeira que eu realmente quis descer.

Ele sorriu de volta, beijando meus lábios.

– Se depender de mim você vai descer muitas outras. Comigo.

Sim. Com ele.

Dançamos sozinhos por alguns minutos, até que a banda mudou a música e todos os convidados se juntaram a nós. Coloquei uma mecha de cabelo de Jax atrás de sua orelha.

– O que foi? – perguntei. As sobrancelhas dele estavam franzidas.

Jax respirou fundo, depois olhou para mim.

– Tobias. Eu não o vi desde aquele dia. Desde que nós entramos no castelo. Eu não sei... não sei o que aconteceu com ele.

Bem, era verdade. Ninguém tinha encontrado nenhum sinal dele, de... bem, de nenhuma forma.

– Talvez ele tenha escapado – sugeri. – Sabe, depois de tudo. Como humano.

– Achei que talvez ele fosse querer vir à festa hoje. Depois de tanto esforço, depois de tanto tempo. – Jax sacudiu a cabeça. – Mas de qualquer forma, ele merece viver a própria vida. Do mesmo jeito que nós merecemos.

Abracei Jax, dançando mais junto dele, e foi quando vi Sebastian do outro lado do salão, dançando com... um homem?

– Jax? – chamei. Ele se afastou de mim, e eu apontei com a cabeça para Sebastian. Para minha surpresa, Jax sorriu.

– Finalmente. – disse ele, mudando o nosso movimento para que pudéssemos ver melhor.

– Como assim, finalmente? Você... já sabia?

Jax suspirou.

–Ele sempre tentou esconder, mas eu sabia. Sempre soube. Minha mãe sabe. Ele não é muito bom em guardar segredos, na verdade, mas talvez você estivesse ocupada demais com outra coisa para reparar nisso. – ele me puxou para perto, segurando meu queixo. – Eu.

Ri, deixando que ele me beijasse.

– Ah, quanta modéstia.

Jax riu também e os relógios começaram a badalar. Uma, duas, cinco, dez... meia-noite.

Havia alguma coisa mágica nas doze badaladas, em ver um dia se transformar em outro.

Até que alguém gritou.

Não foi um grito de desespero – porque agora eu saberia identificar um a quilômetros de distância – mas foi um grito de "não" que todo mundo ouviu. A pessoa que estava dançando com Sebastian simplesmente saiu correndo, porta afora, para longe do salão, provavelmente em direção às escadas do castelo que levavam para o jardim.

Sebastian correu atrás dele, parecendo completamente perdido e desolado. Jax e eu trocamos um olhar e no segundo seguinte estávamos correndo atrás de Sebastian, esperando apenas que ele não tivesse caído e se estatelado no chão, porque do jeito que ele tinha corrido, parecia que essa era a coisa mais provável de acontecer.

Quase achei que ele tinha mesmo, porque Sebastian estava agachado, de costas para nós. Quando ele se virou, havia um sapato em suas mãos.

– Ele deixou cair – Sebastian disse sem olhar para cima.

– Um sapato?

– Aham.

– Quem deixa um sapato cair?

Sebastian olhou para nós dois, a cara fechada. Ainda achei ter visto uma figura meio mancando correndo noite afora. Sebastian suspirou.

– Será que eu consigo encontrá-lo?

Dei de ombros.

– Você pode tentar fazer todos os convidados do sexo masculino experimentarem o sapato e ver em quem serve.

Sebastian levantou uma sobrancelha.

– Isso é estúpido.

– Bem, eu tentei. Vamos para dentro, Sebastian, eu não acho que ele vai voltar.

Ele ainda ficou olhando para o vazio por alguns segundos, depois suspirou e, com certa relutância, nos seguiu.

Jax passou o braço pelos ombros dele.

– Eu posso te ajudar a procurá-lo se você quiser.

Sebastian olhou para cima, encarando Jax com um sorrisinho nos lábios.

– Você faria isso?

– Seb, eu faria qualquer coisa por você.

Sebastian o empurrou para longe, rindo.

– Não seja meloso. Acho que eu gostava mais de você quando não era meloso.

– Ah, eu duvido.

Sebastian sorriu, chegando perto de Jax outra vez. Deixei que os dois se abraçassem, me contentando com a mão que Jax me estendeu. Assim, juntos, os dois entraram de volta no castelo; Jax com a minha mão na sua, Sebastian com o sapato perdido firme entre as dele.

Coração de vidro [FINALIZADA]Onde histórias criam vida. Descubra agora