Por um segundo eu achei que a carruagem não fosse conseguir entrar no reino de Tão Tão Distante. Achei que o mensageiro de Quentin tivesse mentido, que fosse haver uma exército nos esperando na entrada, que fôssemos morrer ali mesmo.
Mas aparentemente ele estava falando a verdade.
Percebi que o envelope com os convites brilhou ligeiramente quando passamos pela fronteira. Troquei um olhar com Tobias, que estava claramente com as mesmas preocupações que eu. Ele parecia estar segurando a respiração, porque se desmontou todo no banco quando conseguimos entrar em Tão Tão Distante.
– Você também achou que era uma armadilha – disse.
Ele concordou com a cabeça.
– Teria sido uma forma bastante estúpida de morrer e eu faria o favor de te lembrar disso todos os dias no além, Trent.
Eu sorri. Ele não tinha mudado em nada.
Um pouco mais aliviado por termos conseguido entrar, relaxei no banco e olhei a paisagem lá fora. Agora a floresta tinha ficado para trás e o reino se espalhava a minha frente.
Tanta coisa tinha mudado.
Seria injusto dizer que os Augustini tinham feito um trabalho ruim, porque as ruas pareciam limpas e as pessoas que andavam pareciam pelo menos saudáveis. Havia mais casas agora – menores, simples, de madeira – mas que pareciam aconchegantes. Havia fumaça saindo das chaminés e alguns animais andavam pela rua.
Lá em cima, no topo da montanha mais alta de Tão Tão Distante, estava o castelo. As janelas estavam brilhando de diversas cores, havia uma movimentação nos portões. Espiei Tobias. Ele estava puxando a gola da camisa e suando consideravelmente.
– Faz... muito tempo que eu não venho aqui – disse ele, um nó se formando na garganta. Seus olhos estavam meio... molhados. – Eu sei que é estúpido, mas... senti muito falta daqui.
Bati na perna dele com a minha.
– Eu sei.
– Mas o que é mais estúpido ainda – ele continuou. – É que eu gosto das Terras Não-Clamadas. Se ao menos eu pudesse...
E ele apontou para si mesmo como um todo, provavelmente se referindo à sua condição temporária de humano.
– Ei – chamei. Ele levantou os olhos. – Nós vamos dar um jeito nisso, ok?
Ele deu uma fungada e eu suspirei. Levei a mão ao peito. Eu podia sentir meu coração batendo, lento e contínuo. Ainda assim, a maldição...
Tobias me encarou e eu voltei a mão para a minha perna.
Não devia estar pensando na maldição. Primeiro, precisava ir atrás de Alice e de Sebastian.
***
– Convites, por favor – um guarda pediu quando Mustafa chegou aos portões do castelo. Estendi o envelope. O homem enfiou a cabeça dentro da carruagem, olhou para mim e para Tobias, depois acenou para que continuássemos. Então a carruagem voltou a andar e, pouco tempo depois, parou. De forma definitiva, daquela vez.
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Coração de vidro [FINALIZADA]
FantasyAlice Chantin, princesa do reino de Era Uma Vez, estava destinada a se casar com seu príncipe encantando. Infelizmente, ele não era tão encantado assim. Fugida do casamento, ela se depara com um misterioso gato de botas que promete ajudá-la...