Trinta e três - Alice

113 22 0
                                    

O barulho da bota de Quentin contra o rosto de Jax me fez começar a gritar

Ops! Esta imagem não segue nossas diretrizes de conteúdo. Para continuar a publicação, tente removê-la ou carregar outra.

O barulho da bota de Quentin contra o rosto de Jax me fez começar a gritar.

Eu não sou uma pessoa que grita, mas alguma parte primordial de mim decidiu que era a melhor coisa a fazer, talvez a única coisa a fazer fora correr até Quentin e estrangulá-lo eu mesma. Tentei fazer isso, na verdade, mas antes que eu pudesse chegar até ele, fui interceptada por um guarda, que me carregou nos braços como se eu não fosse mais do que uma boneca de pano. Eu bati, gritei, tentei chutá-lo em partes específicas de sua anatomia, mas estava em uma péssima posição para oferecer qualquer ameaça que fosse. Por fim, ele me jogou dentro do banheiro e me trancou ali.

Corri para a porta e comecei a bater na madeira, gritando para que alguém me tirasse dali. Minhas mãos começaram a doer, as juntas já estavam vermelhas e achei melhor parar porque aquilo não ia levar a nada. Derrotada, me deixei cair mais uma vez, respirando fundo e tentando me acalmar. Eu precisava pensar.

Racionalmente, eu sabia que não havia saída. Quentin tinha aprendido com minha escapada e agora eu estava mesmo trancada, sem meios de pular da torre. Não havia Tobias para me salvar. Não havia fada-madrinha.

Mas havia outra pessoa.

Era uma péssima ideia, a pior ideia da história das péssimas ideias, mas era na única coisa que eu conseguia pensar. Talvez fosse, realmente, a única saída.

Engoli em seco e fechei os olhos, sem saber muito bem por que estava fazendo aquilo. Depois, comecei a murmurar baixinho.

Rumpelstiltskin, Rumpelstiltskin.

Eu quase conseguia ouvir meu coração batendo contra as minhas costelas.

Rumpelstiltskin, Rumpelstiltskin.

Mais rápido e mais rápido, até o ponto de minha voz começar a quebrar no meio dos murmúrios.

Rumpelstiltskin, Rumpelstiltskin.

Alguma coisa mudou no ar. O banheiro ficou mais úmido, o cheiro de folhas apodrecendo parecer brotar dos ladrilhos. Assim, antes mesmo de abrir os olhos, eu sabia que alguma coisa tinha acontecido.

– Ora, mas se não é a princesa que queria uma vida nova.

Abri os olhos. Ele estava ali, sentado a poucos passos de mim, os dentes afiados à mostra em um sorrisinho estúpido.

– Parece que sua vida nova não é muito diferente da antiga, se me permite a observação.

Trinquei os dentes, tentando me lembrar de que precisava dele e de que não seria inteligente provocá-lo.

– Preciso da sua ajuda – disse, simplesmente. O sorriso no rosto dele se alargou.

– Estou escutando.

Claro que estava, ele não era o tipo de ser encantado que perdia uma barganha.

– Preciso sair daqui. Preciso salvar Jax, Tobias e Sebastian. Preciso... – queria dizer que precisava quebrar a maldição de Jax também, mas achei que Rumpelstiltskin não precisava saber desse detalhe. – Enfim. Preciso da sua ajuda.

Alguma coisa terrível brilhava naqueles olhinhos pretos, como se ele tivesse pesando todas as possibilidades que de repente tinham se aberto diante dele.

– São muitas coisas, princesa... – disse ele coçando o queixo, como se fosse uma observação na qual eu não tivesse pensando antes. – Será que você está disposta a pagar o preço?

Essa era a grande questão, não era? Do que eu estava disposta a abrir mão?

Mas Jax... A pergunta aqui era pesar o que importava mais: a vida de Jax, Sebastian e Tobias ou o simples fato de poder ter Jax comigo, de podermos lembrar um do outro – e eu seria uma pessoa extremamente egoísta se escolhesse a segunda opção.

Engoli em seco, porque realmente só havia uma coisa a se fazer.

– Qual é o preço?

O sorriso de Rumpelstiltskin se alargou ainda mais, fazendo com que ele se parecesse com um pequeno tubarão – um pequeno tubarão que tinha acabado de encontrar sua próxima vítima indefesa.

– Da primeira vez, princesa – começou ele, batendo os dedos das mãos uns contra os outros – você me prometeu uma memória sua e desde então fiquei me perguntando, fiquei estudando qual seria o melhor momento de utilizá-la.

Ele parou de falar, sorrindo daquele jeito meio maníaco, como se estivesse esperando que eu fosse dizer alguma coisa, ou começar a chorar, ou algo assim. Não ia acontecer. Quando eu cruzei os braços com cara de impaciência, ele continuou.

– Eu provavelmente ia esperar alguns anos, quem sabe quando você e o jovem Trent tivessem uma criança, ou talvez fosse vender o favor para outra pessoa que quisesse fazer uso dela. Porém, devido aos últimos acontecimentos, fiquei tentado a usá-la um pouco antes. Então, a minha condição é essa, princesa. Eu te ajudo de uma forma que não me coloque em risco e você me cede uma memória sua assim que tudo estiver terminado.

Engoli em seco. Então era isso. Eu poderia salvar Jax, Sebastian e Tobias, e em troca deveria ceder uma lembrança. Qualquer lembrança. É claro que se eu tivesse sorte essa lembrança poderia ser uma lembrança de Quentin, mas duvidava muito que Rumpel fosse ser gentil a esse ponto. No entanto, era isso ou ser uma inútil presa naquele quarto estúpido.

Respirei fundo.

– Negócio fechado.

Rumpelstiltskin soltou uma risada que mais parecia um guincho, cabeça virada para o céu e tudo. Algo gelou dentro de mim, mas o acordo já estava feito. Ele continuou sorrindo quando estalou os dedos.

– A porta está aberta, princesa. – disse. – Você não deve ter problemas para achar Jax Trent.

Ele ainda soltou mais uma gargalhada antes de se dissolver no ar e desaparecer.

Coração de vidro [FINALIZADA]Onde histórias criam vida. Descubra agora