Vinte e cinco - Alice

185 36 4
                                    

Lá estava eu outra vez, presa em meu quarto

Ops! Esta imagem não segue nossas diretrizes de conteúdo. Para continuar a publicação, tente removê-la ou carregar outra.

Lá estava eu outra vez, presa em meu quarto. Quem diria, não é mesmo.

Para meu alívio, Quentin mal tinha olhado para mim nos últimos dias. Então, por um lado, eu tinha todo o tempo do mundo para fazer o que eu quisesse dentro daquelas quatro paredes, o que, naturalmente, se resumia a nada. Por outro, eu estava completa e definitivamente presa.

Quer dizer, havia barras de ferro encantado nas janelas. À prova de fadas madrinhas. Eu tinha até olhado no banheiro e, claro, o que antes era uma janela tinha sido completamente removida e, no lugar, havia uma belíssima placa de ferro encantado.

Me joguei na cama, a cabeça girando. Eu não sabia o que fazer. Eu odiava ficar ali parada, esperando um príncipe encantado vir me resgatar – porque aparentemente é isso que as princesas fazem quando estão presas. Fiquei surpresa por Quentin não ter colocado um dragão na porta do meu quarto e tudo. Seria a cara dele fazer esse tipo de coisa.

Tentei sumonar minha fada madrinha, mesmo sabendo que não daria certo. No fundo, tinha esperança de que Tobias fosse aparecer no lugar dela como tinha acontecido antes. Ele era irritante e folgado, mas eu sentia saudades. Esperava que estivesse tudo bem.

Então, sem o menor aviso, a porta do meu quarto se abriu e eu pulei no lugar. Não estava preparada para o que quer que fosse e por um segundo achei que era Quentin vindo reclamar seus direitos de esposo. Depois, achei que fossem me arrastar para a praça e me decapitar – o que seria preferível, considerando a alternativa.

Quando nada disso aconteceu, comecei a me acalmar.

Pessoas – serviçais – começaram a entrar no quarto. A banheira começou a se encher com água quente. Toalhas brancas foram colocadas sobre a minha cama.

Tudo era muito familiar e eu voltei a ficar ligeiramente apavorada

– Hum – comecei, tentando contato com a criada que enchia minha banheira. – O que está acontecendo, exatamente?

Ela levantou a cabeça e olhou para mim. Achei que ela fosse responder, mas a mulher simplesmente voltou a se manter ocupada com a banheira. Talvez Quentin as tivesse proibido de falar. Talvez tivesse até cortado a língua delas, eu não ficaria nem um pouco surpresa. Ele era afetado desse jeito.

Fiquei sentada na cama, esperando que elas fizessem o que quer que tivessem ido fazer ali. Então, depois de alguns minutos, uma delas pediu para que eu me despisse e entrasse na banheira.

Elas ainda tinham línguas, afinal, o que era um alívio.

Um pouco sem jeito e completamente perdida, fiz o que elas pediram. Elas tinham um balde de água fervendo, afinal de contas.

Aos poucos, senti meus músculos relaxarem. Aos poucos, elas foram esfregando minha pele e eu percebi que alguma coisa muito peculiar estava acontecendo, porque da última vez em que eu tinha sido literalmente esfregada pelas criadas, tinha sido no meu casamento.

Comecei a ficar agitada. Eu não gostava nem um pouco de onde aquilo estava indo.

Sem qualquer cerimônia, elas me puxaram pelos braços até que ficar de pé, me guiaram para fora da banheira e começaram a me secar. Depois, apontaram para um vestido em cima da cama.

Gostaria de falar que mantive minha postura e integridade, que nada que viesse de Quentin me faria sorrir e que eu sou uma pessoa acima das futilidades da vida. Mas aquele vestido.

A primeira coisa que eu vi era que ele era amarelo. A segunda, foi que havia um broche de ouro – eu tinha certeza de que era ouro, porque Quentin não se rebaixaria a bijuterias – no peito que, quando em mim, ficaria bem entre meus dois seios. Então não resisti e passei a mão pelo tecido.

Eu não sabia direito o que era, talvez fosse seda, talvez fosse pura água, encantada para ficar daquele jeito – tão leve, tão brilhante. Não importava. Tudo o que importava era que eu precisava entrar no vestido naquele instante.

As criadas devem ter visto minha expressão de pura luxúria, porque correram até mim, começaram a me secar como se eu fosse um cachorro molhado. Eu não conseguia tirar os olhos do vestido, provavelmente seria a coisa mais linda que eu iria vestir em toda minha vida, porque eu duvidava muito que Quentin fosse ficar me dando presentinhos aleatórios, principalmente presentinhos que deviam custar uma fortuna.

E foi então que me ocorreu.

Por que Quentin tinha me mandado um vestido daqueles? Por que as criadas estavam me lavando como se eu tivesse ficado dias dentro de um bueiro?

Eu sabia que elas não iam me responder, mas tentei mesmo assim.

– Hum – comecei, suprimindo um grito quando uma delas passou um pente pelos meus cabelos – será que vocês podiam me contar o que está acontecendo?

Elas, obviamente, me ignoraram.

Tentei iniciar a conversa mais vezes, mas elas pareciam determinadas a ficarem quietas e a serem práticas. Fui seca, enfiada no vestido, meus cabelos penteados. Então, sem mais nem menos, elas saíram do quarto e me deixaram sozinha lá outra vez. Não tive sequer tempo de apreciar meu vestido ou de criar hipóteses sobre o que estava acontecendo, porque logo em seguida uma outra mulher entrou em meu quarto, carregando uma maleta. Ela abriu a maleta em silêncio sobre a minha cama, me sentou em uma cadeira e começou a esfregar pós e coisas coloridas no meu rosto.

– Será que você pode me explicar o que está acontecendo? – perguntei, tetando ser educada. Talvez ela não tivesse sido instruída a ficar quieta como as outras. – Quer dizer, eu agradeço pelo vestido, mas... –

– Shhhhhh – ela sibilou, colocando pó nos meus lábios, de forma que era impossível falar. – Se você não ficar quieta, vai estragar tudo, e se esse baile for estragado... – ela simulou um arrepio. – Não quero nem ver, princesa, então fique quietinha.

Hm.

Baile.

Bailes me traziam más lembranças, ficar presa no meu próprio quarto me trazia más lembranças. A única coisa era que, se havia um baile, eu seria obrigada a descer até o salão. Provavelmente estaria cheio de guardas por lá, é claro, mas também significava que havia uma possibilidade – remota, mas uma possibilidade – de eu conseguir escapar de Quentin. De novo.

Ah, como eu sentia falta do Tobias. Ele provavelmente saberia o que fazer em uma situação dessas.

Tentei arrancar mais algumas informação, mas a mulher estava irredutível. Como eu não podia fazer nada – e também estava ansiosa para descer e ver o mundo novamente – deixei que ela terminasse de me arrumar. Não havia uma espelho no quarto, porque Quentin provavelmente achava que eu conseguiria transformar espelhos em portais ou algo assim, mas eu simplesmente sentia que... que, bem, estava linda.

Queria que Jax estivesse por perto, só para poder ver a reação no rosto dele.

Me sentei na cama, respirando fundo.

Jax.

Eu esperava sinceramente que ele não estivesse fazendo nada estúpido.

Coração de vidro [FINALIZADA]Onde histórias criam vida. Descubra agora