O Pai da Minha Melhor Amiga

Sônia Blanco

Sônia Blanco

Nem sempre fui uma mulher fria e sem coração como fui nos últimos anos, principalmente para a pessoa que mais precisou de mim, minha filha.
Depois que Sophia nasceu, eu fui rejeitadas, não consegui mais ser contratada para nenhum desfile, as pessoas que se diziam minhas amigas se afastaram e eu me senti um fracasso.

Acabei culpando minha filha por isso. E por anos a tratei mal, não dei a atenção que ela precisava.
Nem quando descobri que ela estava grávida eu estive do seu lado, eu simplesmente saí do hospital e segui para minha vida de merda.

Ela foi sequestrada, mantida em cativeiro por quase um mês enquanto estava grávida, e quando ela foi resgatada, eu não consegui sequer ver ela, dizer o quão estava aliviada por não ter acontecido o pior. Tudo o que fiz foi informar ao pai dela de tudo o que aconteceu nos últimos tempos. Eu sabia que o Mathias levaria ela para longe, e isso realmente era o melhor a se fazer.

Há poucas semanas eu passei mal e fui internada. Nenhuma das amigas com quem janto e viajo foi ao hospital ou ligou para saber como eu estava. Aí eu percebi que afastei minha única família.

Eu tenho um neto que nunca vi. Minha filha passou por um parto e eu não estive do seu lado.

Tudo o que aconteceu nos últimos tempos me fez perceber o quão eu estava errada.
Eu procurei a Deus e me converti, mas nada disso fará sentido antes que eu consiga o perdão da minha filha. Eu quero acompanhar o crescimento do meu neto e dos mais que possam vir.

Por várias vezes eu fui até a casa deles, mas nunca consegui tocar a campainha, eu sempre volto atrás.

Hoje, fiz o mesmo, mas vi Sophia e meu neto saindo, eles estão indo para a praça, e eu os sigo.
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Sophia parece feliz, brinca com o bebê que sorri incansavelmente. Ele é tão lindo, a cópia do Arriaga.

Eles estão em um banquinho na praça. Quando ela era criança o Mathias levava ela pra esse mesmo lugar. Não é muito distante da nossa antiga casa, e nem da nova casa dela.
Eu perdi muito na infância da minha filha, fui muito egoísta, não tive sentimentos de mãe. Mas vejo que minha filha é perfeita como mãe, ela está tão feliz.
Pensei que meu maior problema fosse ter tido ela cedo demais, mas ela está com a mesma idade que eu tinha quando a tive, e está se saindo perfeitamente bem.

Minha filha nunca confiou em mim, nunca pôde me contar as coisas porque eu não dava espaço. Não  sei com quantos anos ela perdeu a virgindade, como foi, com quem. Não sei nem mesmo se ela já sabia que estava grávida antes do acidente do dia da formatura.

Me encorajo mentalmente e depois de respirar fundo me aproximo dos dois. Quando Sophia me vê pega o seu filho no colo e levanta.

— O que você quer aqui? — perfunta fria.

— Me desculpa por incomodar vocês, eu só preciso de um minuto do seu tempo.

— Fala logo — diz carregando a bolsa do bebê.

— Sophia, eu sei que errei demais com você. E você tem toda a razão de ficar com raiva de mim. Mas estou aqui para pedir o seu perdão. Eu fui uma péssima mãe, e não peço que você esqueça que eu nunca estive do seu lado, que nunca te apoiei, principalmente quando você mais precisou de uma mãe. Mas eu te amo Sophia, sempre amei, só não sabia como lidar com tudo o que aconteceu. Eu te peço por favor, me perdoe e me dê a chance de me redimir com você, e com o meu neto — tento me aproximar para ver o bebê, mas ela vira o rostinho dele.

— Como você quer que eu te perdoe? Você me abandonou no momento mais difícil da minha vida. Quantas vezes eu pedi a sua atenção? Eu fiz de tudo para ter o seu amor, e VOCÊ VIROU AS COSTAS PARA MIM — ela grita e o bebê acaba chorando.

Ela faz ele calar com um pouco de dificuldade. Ele tem o mesmo chorinho que a Sophia tinha. Naquela época eu achava irritante, mas agora eu daria de tudo para ouvir ele de novo e fazer ela calar como minha filha está fazendo com seu filho neste momento. Mesmo sem ter tudo uma mãe, Sophia está sendo a melhor mãe que um filho pode ter.

— Eu juro que se você disser não, eu vou sair definitivamente da sua vida. Mas se você me der uma única chance, eu vou fazer de tudo para ser uma boa avó, talvez até uma boa mãe. Sei que você já não precisa de mim. Mas eu preciso de vocês dois Sophia, vocês dois são minha única família. — digo com lágrimas nos olhos.

O menino faz sinal de querer o meu colo e eu abro meus braços mas a Sophia hesita. Ele continua com os braços abertos e Sophia acaba cedendo. Pela primeira vez tenho meu neto nos meus braços e isso não tem preço.

— Obrigada Sophia. Eu juro que vou fazer tudo que puder por vocês dois.