Sentimentos misturados

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Pov's Pennywise

Quase três dias... Eu sei que não tenho um medidor de tempo ou coisa assim, mas eu tenho meu 'horário biológico', nasceu comigo quando... quando o maior desastre de toda a minha vida aconteceu. Tenho uma certa noção de quando acaba o dia e começa outro. Ah... nunca percebi o quão solitário e quieto é aqui onde moro, apenas as gotas que caem lentamente de um cano estourado me fazem companhia agora. Parece estar ventando muito lá fora, os ventos conseguem chegar até mim e acariciar meu rosto suavemente, substituindo os delicados dedos de uma garotinha. O que me fez pensar que algum humano teria interesse em mim? Huh, são todo iguais, com os mesmo objetivos ridículos de serem os melhores, querendo permanecer no topo da cadeia alimentar. Patético! Mal sabem que deixaram de serem os maiores há muito tempo atrás, mal sabem a existência de seres que poderiam acabar facilmente com esse mundo ridículo e sua população. Mas, olha só para mim, fui enganado por um pequeno ser insignificante em um vestido e meias três quartos... De bochechas rosadas, olhinhos brilhantes como diamantes, com um sorriso que derrete qualquer um. Suspirei com um sorriso bobo no rosto pensando naquela que me fazia tão bem, Melissa, mas logo me recompus e voltei a realidade. Andava de um lado para o outro, fazendo eco pelo local com os meus encardidos sapatos, pensando o quanto estava sendo enganado:

-"Estúpida garotinha..."- disse baixo, com os punhos cerrados. Não muito depois, senti uma pontada no lado esquerdo do meu peito. Doeu como uma facada, que me fez ajoelhar no chão.
Que diabos! Meus dois lados estão brigando novamente e, dessa vez, eu consigo ouvi-los muito nitidamente:

-"Não fale dela assim, ridículo palhaço!"

-"Deixe de ser um molenga, um dia ou outro ela iria embora. Não vai ficar se doendo por causa de uma humana"

-"Ela não é qualquer humana, é sua amiga. Sabe que pode confiar nela, nunca deu motivos para trai-lo. Você está sendo precipitado"

-" Não pode não, ela foi embora e não vai voltar mais"

-"Como tem tanta certeza?"

-"Eu sei, eles são assim... sempre serão"

-"Melissa é diferente"

-" Você está apenas se iludindo ainda mais"

-"CALEM A BOCA!"- gritei tampando os ouvidos. E tudo se silenciou novamente, minha voz ecoou pelas passagens até pararem com o tempo. Meu interior estava em guerra, o barulho do nada era ensurdecedor, estava tudo desmoronando... Até que senti minha visão embaçar. Pisquei algumas vezes e senti meus olhos se molharem. Ótimo, agora eu vazo água pelos olhos, era só o que me faltava. Eu estou pensando de mais, preciso respirar um pouco de ar puro.

Pov's Melissa

Estava no quarto arrumando minhas roupas, era mais ou menos nove e meia da manhã e tinha acabado de tomar café. Eu, mamãe e tio Louis íamos sair em poucos minutos quando parei e me sentei na cama. Algo me machucava por dentro, senti uma incontrolável vontade de chorar e foi o que aconteceu, as lágrimas desceram pelo meu rosto com facilidade até chegarem ao meu pescoço. Eu não tentei segura-las, apenas deixei.
Um vazio intenso tomou meu coração e logo lembrei de Pennywise, tive a leve impressão que ele sente a minha falta.
Passei minutos sentada na cama soluçando baixo e lembrando dos bons momentos que passamos até agora. Eu estava morrendo de saudades do meu amigo dançarino, isso era inegável, queria saber se estava bem, se precisava de ajuda de alguma forma, se estava pensando que eu o abandonei. Isso tudo me torturava. Até que leves batidas na porta me fizeram sair dos meus pensamentos. Limpei os resquícios de lagrimas que estava no meu rosto e disse, a quem pudesse ser, que entrasse:

-"Melissa? Já está pronta? Iremos sair agora..."- era tio Louis.

-"Ah, sim, estou sim"- ele parou a minha frente e seu sútil sorriso foi sumindo aos poucos.

-" Estava chorando?"- falou em um tom preocupado.

-"Ah não... É que... Eu tenho alergia a poeira e entrou um pouco no meu nariz. Só isso"- disfarcei, mas não deu certo.

-"Mel, você não precisa mentir para mim, eu sou seu amigo, pode me contar o que aconteceu"- resolvi me abrir.

-"... Você já sentiu tanta falta de um amigo que ficou pensando mil coisas do tipo se ele está bem e se ele sente falta de você também?"

-"Ah... sim, aqueles meus amigos de banda por exemplo, eu tenho quase seis anos de amizade com eles. Já ficamos separados por causa das viagens e me desesperava por uma mensagem de qualquer um deles dizendo que está tudo bem. É uma coisa normal"

-"E-eu sei, só que... esse meu amigo é diferente, em todo os sentidos"

-"Hum, já sei, você gosta dele mais do que amigo, né?"

-"O que? N-não! Ele é mais velho que eu. Eu o conheci a pouco tempo mas sinto que temos algo especial, que ele precisa de mim"

-"Como assim?"

-"É que... ele é um homem vestido de palhaço e mora no esgoto!"- sussurrei. Tio Louis parecia estar um pouco confuso e chocado ao mesmo tempo.

-"A-acho que eu não ouvi direito, você tem um amigo... Ele é um palhaço e mora no esgoto?"- balancei a cabeça afirmando. Tudo se calou por alguns instantes.-" Eu tenho uma teoria de que ele pode ser um morador de rua ou... um estuprador em potencial. Ele já demonstrou outras intenções com você?"

-"Hum, não, ele sempre foi muito normal, ele só é um pouco fechado e não gosta de falar de si mesmo."- respirei fundo, aliviando a tensão"- mas ele é um doce de pessoa, ao mesmo tempo que ele parece ameaçador por causa da maquigem tão pesada no seu rosto, ele também parece muito frágil e inseguro. Parece que ele o tempo todo está batalhando com o seu interior, sabe? As pessoas costumam gostar de outras pessoas por causa do que descobrem uma das outras, suas habilidades, história de vida, do que curte e do que não curte... mas eu não, eu gosto do que ele não me diz, do silêncio que ele insiste em manter. Acho que o pouco que sei dele, é o suficiente."- tio Louis estava calado, parecia estar prestando atenção em cada palavra que saia da minha boca.

-" Qual é o nome dele?"

-" Pennywise"

-" Huh, é um nome estranho, tenho que dizer. Mas deu para perceber o quanto ele é importante para você. Se ele é seu amigo de verdade, ele vai sentir sua falta também, vai esperar você voltar e vai se preocupar com você, assim como você se preocupa com ele. É isso o que os amigos fazem... Eu gosto de pensar que, quando você cria uma amizade muito forte com alguém, seus corações se conectam de um jeito impossível de desconectar. Um sente a dor do outro, as alegrias, as emoções... tudo que está acontecendo"- nunca pensei que tio Louis pudesse ser tão sábio.

-" É, você tem razão, eu gosto muito dele e acredito que ele também gosta de mim... do jeitinho dele."

-" É impossível alguém não gostar de você"- sorri de um jeito meio tímido.-" Sabe, você é a garota mais estranha que eu conheço"

-"Er... foi mal, sei que não é a coisa mais normal do mundo fazer amizades com pessoas q moram em esgotos mas..."

-"Foi um elogio"- disse me interrompendo, com um sorriso leve no rosto."- Pessoas estranhas valem apena... e muito"-sorri de volta.-" O que acha da gente ir comprar alguma coisa para ele ficar feliz quando você voltar?"

Clown sweet clownOnde histórias criam vida. Descubra agora