Esse não é o meu nome de verdade

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As chamas foram contidas, havia apenas poucos rastros de fumaças que, aos poucos, iam sumindo.
Todos aqueles que causaram o fogo, foram levados à delegacia para serem ouvidos pelo delegado.
O tempo se fechou rapidamente, as nuvens não queriam saber de sorrir naquela tarde esquisita.
Sentado na traseira da ambulância, a forma humana de Pennywise segurava uma xícara de café, com um manto em seus ombros. Melissa estava ao seu lado e o encarava sem nem ao menos piscar, não estava acostumada a ver aquela versão de seu amigo palhaço. Assim que percebeu que estava sendo observado, o homem olhou para a garota, que, instantâneamente desviou o olhar:

-"Eu sei, está estranhando meu rosto, não é?"

-" O que? Não, não. Estranhar não é bem a palavra certa. Acho que estou processando ainda, sabe, como um computador."- o homem sorriu de forma doce e tímida.

-" Acho que também estou processando... Sinto meu corpo esquisito, minha visão, todos os meus sentidos antes cem vezes mais aguçados sumiram."

-"Tenho certeza que irá se acostumar rápido"

-"Tomara"- eles se encararam e sorriram novamente.

Enquanto Melissa e a versão humana de Pennywise se conheciam mais uma vezes, Louis conversava com um policial com um caderninho de anotações:

-"Então, o que exatamente vocês estavam fazendo lá dentro?"- perguntou o policial.

-"Bem, fomos em busca do meu gato de estimação que fugiu."- mentiu.

-"Vocês não estavam cientes do fogo?"

-"Não senhor."

-" Certo."- o policial começou a escrever.-" Encontramos uma pilha enorme de brinquedos e coisas velhas no núcleo do esgoto. Vocês chegaram a ver isso?"

-"Não"-mais anotações.

-" Estávamos investigando sobre uma coisa com aparência de palhaço que supostamente mora aí. Vocês o viram por um acaso?"

-" Coisa? Não, não vimos"

-"Certo. Vejo que não voltaram com o seu gato..."- Louis fez uma expressão de 'pois é'.-"Sinto muito"- Louis acentiu. Na verdade, ele só queria que aquele interrogatório acabasse. Se aproximou de Melissa, que mal notou sua presença, pois estava muito focada no rosto do homem:

-"Então, como vocês estão?"- perguntou.

-" Er, estamos bem, eu acho. O pior já passou."- disse Melissa.

-" Uau"- Lansky deu uma risada-" Nunca poderia imaginar você sem toda aquela maquiagem pesada."

-"É, eu também não estou me reconhecendo. Sinto com se estivesse nascido de novo."

-"Mal posso esperar para te mostrar meus amigos, meus lugares favoritos, tudo!"

-"Eu também estou animado para poder caminhar pelas ruas, sabe, eu sempre olhei as coisa através das grades dos bueiros e não podia ver de perto. Mas agora eu posso e quero aproveitar tudo ao máximo. Muitas coisas mudaram de uns tempos para cá e eu quero acompanhar mais mudanças."

-"Seja feliz em sua nova vida, Pennywise."- disse Louis. O homem sorriu baixando o olhar:

-"Obrigado, mas... esse não é o meu nome de verdade."

-"Sério? Então qual é?"-perguntou Melissa.

-"... É Bill."

Depois de conversarem com os polícias e bombeiros, os três foram para casa de Melissa.
Ema estava na sala sentada no sofá escrevendo uma receita que viu passar em um programa de TV, quando Melissa, Louis e Bill entraram pela porta em passos de gato, por isso, Ema nem percebeu a presença dos três. Sorte que o sofá ficava de costas para a porta. Conseguiram subir as escadas bem rapidamente e entraram para o quarto:

-"Ufa, mamãe não nos viu."-Melissa trancou a porta e jogou sua mochila em cima da cama.-" Então, aqui é o meu quarto. Não é muito grande, mas eu garanto que a cama é bem fofinha e confortável."- Bill olhava para cada detalhe do cômodo, cada enfeite, cada canto, cada pôster de bandas esquistas pregadas na parede. Era tudo muito novo, até para alguém que viveu por quatro séculos. Seus olhos estavam brilhantes, estava mais para um mar de águas verdes clarinha exposto à luz do Sol em um dia quente de praia:

-"É o quarto mais bonito que eu já vi..."- disse Bill enquanto Melissa escondia roupas que estavam espalhadas no chão em cima do guarda-roupa.-"Nossa, faz tanto tempo que não vejo um quarto de verdade. Com cama e tudo mais."- Melissa se lembrou da precária situação que o amigo passou quando era do circo, dormir em papelão e conviver com cadáveres de animais realmente não era uma situação muito agradável:

-"Você não precisa mais se preocupar com isso, tem um quarto agora."

-" Huh? Mas esse é seu quarto."- disse Bill.

-"Eu não me importo em dividir "- disse Melissa levantando as mãos em sinal de rendição.-" Você pode ficar com a minha cama, eu durmo em baixo."

-"Ah n-não, não seria certo para mim, eu posso dormir em qualquer outro lugar, eu não ligo."

-"Por favor, eu insisto, tudo que eu quero é fazer você se sentir em casa. Pode ficar."- Bill piscou algumas vezes, balançando a cabeça.

-"Casa..."-soltou uma risada anasalada-" Eu já tinha esquecido o significado dessa palavra há muito tempo."- Melissa sorriu docemente. Uma coisa que Pennywise adorava em Melissa, era que ela sabia sorrir com os olhos. Dava cor e vida para as coisas sem graça ao seu redor. Bill se sentiu confortável e protegido ao ver aqueles olhos sorridentes novamente mas dessa vez, com sentimentos completamente humanos.

-"Vai por mim, você não vai querer discutir com ela."- disse Louis, apertando o ombro da garota.

-"É, tem razão. Bem, espero não incomodar, quero ser o mais invisível possível."

-"Você não precisa se preocupar com isso. Agora, você precisa tomar cuidado com a mamãe, eu não pretendo contar para ela que eu estou te escodendo aqui, então não saia do quarto sozinho. Certo?"

-"Certo"- disse Bill. Louis cruzou os braços, soltando um olhar julgador para Melissa.

-"Que foi?"

-"Gostaria de saber como você vai esconder um homem de quase um e oitenta e dois de altura no seu quarto. Acha que Ema não vai entrar aqui e ver?"- Melissa sorriu de canto, levantando uma sobrancelha.

-"Querido tio Louis, até parece que você não me conhece, eu tenho meus trambiques, sei me virar."

-"Ah sim, sabe se virar... Se Ema descobrir que enganou ela, sabe o que vai acontecer. Dessa vez não vai ter jeito de eu arrumar uma desculpa."

-"Relaxa, vai dar tudo certo."

Clown sweet clownOnde histórias criam vida. Descubra agora