Lembranças

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Miller estala seus dedos e instantaneamente Greg desperta de seu transe. Sentia-se confuso até lembrar-se de antes da sessão de hipnotismo e suas lembranças retornar aos poucos, ele encara o relógio com surpresa.

_Já é tarde.

Miller o encara em silêncio.

_Por que sempre demoramos?

_Você sempre parece estar disposto a ir mais longe.

_O que isso significa?

_Você tem muitos desejos dentro de si, Greg e parece disposto a conquistar cada um, mas você parece mais um carro desgovernado - Miller fingia uma preocupação e Greg percebeu isso facilmente. - Precisa manter o controle de sua mente, ainda não tenho um diagnóstico preciso, mas mais algumas sessões e...

_Não, chega de hipnotismo, doutor.

_Veja bem, tivemos que dá um tempo em seu tratamento quando fiquei afastado por tanto tempo.

_Eu sei, enquanto você estava estuprando garotinhos no estrangeiro - Greg levanta-se e caminha em direção a Miller que permanecia tranquilamente em sua poltrona. - Acha que não sei o que fez quando estava nos Estados Unidos? Você viaja para lá e meses depois alguns garotos desaparecem, quando você retorna ao Brasil outros rapazes também somem. Sem falar na obra que você realizou aqui em seu escritório. Sou um ótimo marceneiro, Miller e essa sua estante... bem, já como todos os esconderijos do Chacal foram desastrosamente descobertos, não me surpreenderia que é aqui que você faz seus bonecos sexuais.

Miller continua com seu olhar encarando o de Greg, sua mão apoiada na poltrona estava próxima do bolso de seu paletó que um pequeno bisturi, se Greg o atacasse ele saberia exatamente o que fazer com o perigoso objeto.

_Eu não faço ideia do que está falando.

Greg apenas sorrir e seu olhar vai direto para a câmera que havia guardado entre os livros do psiquiatra albino.

_Nos veremos logo, doutor. - E assim Greg se retira do consultório.

Miller observa Greg sair em sua picape e ainda pensando no que sua secretária havia dito sobre Renato Reis - como é possível? Que brincadeira é essa e quem é essa mulher?

Pensativo, ele caminha lentamente mais uma vez para perto de sua estante entupida de livros, ele retira um dos que fazia parte de uma enciclopédia egípcia e atrás dos grandes livros aparece um pequeno teclado, ele digita alguns números e logo a estante se movimenta automaticamente fazendo um barulho do qual parecia ser de um motor embutido internamente onde dá espaço para uma outra sala bem maior do que o seu próprio consultório. Seus olhos brilham por trás das grossas lentes de seus óculos de grau - que maravilha - o homem albino parecia fascinado, mas o local estava afundado no breu, então ele sem dificuldade tateia a parede ao seu lado e logo sua mão pálida e magra encontra o interruptor de luz, mas uma luz fraca - da qual não incomodaria sua frágil visão - que aos poucos vai criando força e iluminando mais e mais todo o espaço à sua volta.

O cômodo estava gelado pelo ar condicionado e era perceptível que todo o ambiente foi feito com materiais abafadores de som - uma ideia da qual ele tirou de Greg. - Também havia uma maca no centro e era repleto de aparelhos clínicos, uma pequena mesa com rodinhas era o local onde objetos e equipamentos cirúrgicos estavam alinhados.

Num armário de vidro existia três ou quatro potes com formol e com fetos humanos e animais, em outro tinha uma infinidade de formaldeído, lipidos, resinas elásticas, silicone, conservantes tóxicos e até acetona e solvente, entre outros.

Também havia uma maca no canto da sala, assim como uma cama de solteiro com algumas amarras presas a elas e algumas amordaças. Ao lado alguns livros como Conservação de Material Biológico, Anatomia Humana, Desenvolvimento científico, Técnicas de Preservação Humana, entre outros que tinham um destaque triunfante em seu cômodo (Um tipo de altar especialmente para os livros).

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