Águas Escuras

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 Laerte vai de encontro às águas escuras e agitadas do rio, para seu maior azar, ele cai numa parte rasa - dois metros no máximo. - A queda era de de quase dez metros de altura da ponte, mas o problema maior - sim, pode ser possível. - Eram as perigosas pedras. O rapaz sentiu o impacto das águas rasas no corpo, um golpe forte da gravidade, como se o corpo já sofrido não tivesse dolorido o suficiente pelos golpes e pancadas sofridas na luta contra Greg. Como se não bastasse também, ele estava desacordado (logicamente), engolindo água e seu corpo estava sendo levado pela correnteza, fazendo-o tombar contra algumas pedras no caminho duvidoso e perigoso.

 Laerte consegue abrir seu olho, já que o outro ainda continuava fechado devido o inchaço do hematoma. Sua visão saía de foco, sombras passavam por ele sem nenhuma forma concreta, apenas vultos que na verdade eram as próprias pedras, numa velocidade regular  -diga-se de passagem. - O corpo do rapaz vai de encontro à uma grande pedra de aparência perigosa.

 O impacto de sua cabeça chocando-se contra a pedra é o suficiente para causar um traumatismo já juntando com todas outras já sofridas. Tudo se apaga...para sempre, e um líquido viscoso e vermelho mistura-se negro às águas escuras.

Tudo se apaga...para sempre.

 Ainda agarrada ao dorso de Faísca, Becca fecha os olhos com força para pararem de arderem, ela segura e tenta soltar-se de sua echarpe rosa que estava presa na sela. A chuva não parecia dar trégua naquele inferno particular da moça que por instinto põe a mão em sua barriga. - Não... - Ela tentava ajustar-se, mas o animal estava aterrorizado e muito machucado. Becca podia ver o tamanho do corte em abaixo de seu dorso e pelo relinchar do cavalo parecia ter algo mais que as águas escuras escondiam naquele momento de agonia e dor. A mente da garota era um turbilhão de emoções, queria acreditar que tudo não passava de um terrível pesadelo do qual as coisas pareciam piorar a cada instante, mas não demora a cair na real quando seus pulmões são invadidos pelas águas do rio.

 Dor.

Medo.

Agonia.

 Ela tenta manter-se junto ao cavalo, mas eles caíram na parte mais funda do rio e o equino  logo é levado para mais longe sem muita dificuldade pela forte correnteza do rio que parecia ganhar mais força devido ao dilúvio insistente que caía sob Bosque dos Anjos. Becca tenta - inutilmente. - Ajudar o pesado animal, mas sabia que mal poderia se salvar, ambos estavam lançados à sorte, que parecia não acompanhá-los ultimamente. Então, num ato de desespero e autodefesa, a garota se agarra às pedras que vê à sua frente, desviando-se sabiamente para não machucar-se ainda mais. 

_Deus, me ajuda... Ajuda o Laerte, ajuda o Faísca...ajuda o meu...ah... - Becca teria o mesmo destino de seu cavalo se não tivesse agarrado a próxima pedra.

 Havia alguns cascalhos e pedrinhas das quais rasgavam e arranhavam a pele da garota que mantinha-se quieta, com os olhos atentos e perdidos na escuridão do rio. Becca olha para cima, de onde havia caído e de certa forma agradeceu por não ver o responsável daquela situação de perigo, mas ao mesmo tempo teme por pensar que ele poderia fazer mais alguma coisa. Greg havia passado dos limites e estava por lá, ela sabia, pois os faróis da picape eram possíveis de se ver mesmo de onde ela estava, mas a gatota vacila, a pedra era muito escorregadia e a forte correnteza a arremessa entre outras pedras e seu corpo recebe o impacto.

  Mesmo não tendo mais forças físicas, ela sabia que não aguentaria por muito tempo. 

 Sempre com uma das mãos sob seu ventre, Becca tenta manter-se segura de onde estava, é quando ela ver o corpo de Laerte sendo arrastado pela correnteza. 

_Laerte? NÃO! - Grita a garota...em vão.

 O medo e a frustração tomam conta de Becca, seu corpo estava completamente trêmulo, seu cabelo longo e loiro flutuavam sob a escuridão da água. Seu olhar desvia-se de seu cavalo ao longe em meio à relincho - implorando por socorro. - O corpo de seu amado namorado se fora.

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