Prólogo

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O garoto tocava em seu tornozelo, a ferida em carne viva ainda derramava sangue, o mesmo que Nicolau agora encarava misturando-se aos excrementos dos suínos.

O cheiro de comida estragada, fezes e urina de porco já começava a se tornar familiar ao olfato do jovem de cabelo loiro e olhos azuis intenso. Ele já nem lembrava-se de quanto tempo estava naquele chiqueiro. - Três, quatro, ou cinco dias? - A fome dilacerava seu estômago, como se suas últimas energias já estivessem escarças, a corrente estava tão presa ao seu calcanhar que a ferida (causada pelo metal e por estar muito apertado) não lhe parecia que iria se curar facilmente, pelo contrário, o contato com aquele lugar sujo, frio, úmido e sem nenhum tipo de medicamento só piorava a situação. A ferida estava em carne viva, mas isso não lhe incomodava, não mais, pois a fome que sentia era grande.

O garoto observa os suínos devorar seu alimento. Ele pode estar ficando louco -  estava, mas aqueles restos de comida lhe parecem tão saborosos? Nicolau engatinha lentamente, quase sem forças e ameaçando desabar com o queixo no chão, mas ele aguenta firme. A corrente mede quase seis metros, o suficiente para aproximar-se da comida dos porcos (exatamente como o seu pai planejou). Disputando um espaço entre os animais, Nicolau finalmente consegue uma brecha, o cheiro azedo e podre invade suas narinas e por pouco ele não vomita. Fecha os olhos com força.

Se você não comer, vai morrer., A voz surge de súbito na mente do rapaz que até assusta-se de tão real que parece ter ouvido e não pensado.

Ali, em meio aquele terror psicológico, Nicolau, pelo que parece, começa a inventar uma forma de autodefesa, aquele foi o início de Greg entrando em sua vida. Para sempre.

Nicolau, ainda enojado, deu ouvido aquela voz, e discretamente (em meio aos grunhidos dos porcos), pega um pedaço de cenoura. Ele encara aquele pedaço por alguns segundos.

Coma!, Ordena a voz.

_Eu... não posso - responde Nicolau para si mesmo.

Você precisa ficar forte. Agora... coma!

Ainda segurando o resto do alimento que exala um cheiro ruim, Nicolau continua enojado.

_Ficar forte, para quê?

Agora, num tom mais forte e controlado, a voz responde:

Para a nossa vingança. Agora...coma!

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