Capítulo 10

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Marina

Hoje é segunda feira,daquelas bem preguiçosa,mas levanto cedo,vou acompanhar a mamãe no médico,preciso saber realmente o estado de saúde dela,estou muito preocupada.

Essa noite ela estava muito agitada,me chamou algumas vezes,mas quando eu chegava la só pedia pra eu segurar na sua mão e voltava a dormir.

Me arrumei e fui tomar café,minha mãe ja estava pronta.

-Bom dia mamãe!-eu disse dando um beijo em sua cabeça.

-Bom dia minha filha,estou muito contente por você estar aqui comigo,infelizmente fui obrigada a deixar vc completar dezoito anos pra poder te ver,seu pai não permitia que você parasse com os estudos pra vir cá, mas ele não estava errado não,eu também não queria atrapalhar seus estudos,mas agora que esta aqui posso dizer Deus me abençoou com uma filha linda e inteligente,só posso agradecer por ter vindo,eu te amo tanto! -baixou sua cabeça e começou a chorar,me levantei e corri até ela a abraçando.

-Mãezinha,eu também te amo muito,sei que ficamos longe muito tempo,mas entendo suas dificuldades,hoje entendo tudo,entendo a senhora e entendo meu pai,os dois só pensaram no meu bem e no meu futuro,amo vocês dois do tamanho do mundo! -ela sorri eu fico feliz por ela saber que jamais terei duvidas do amor deles .

Ouço uma buzina e vou depressa na porta pra ver quem é,me surpreendo,o que será que ele esta fazendo aqui? Abro a porta e ele esta ali de pé encostado na porta do carro,com um boné de aba reta tão enfiado na cabeça que mau vejo sua face,quando saio ele levanta a cabeça  e diz.

-Qual é morena? Ta assustada porque? Não sou bicho papão,relaxa. - e sorri com o canto da boca olhando pra mim,

-Verdade,não é bicho papão ,é bandidão mesmo!- e dou as costas,levo um susto com o berro que ele dá,vem pra cima de mim e segura meu braço apertando com força.

-Vagabunda!Você não tem medo de morrer mesmo,né? -saca a arma e aponta na minha cabeça,rapidamente ouço minha mãe chorando e implorando.

-Robocop,por favor,não faça isso! Ela é imatura,não sabe o que diz,não conhece nada de como funciona por aqui,solte ela por favor,eu imploro,ela não olhará mais pra você e nem irá desrespeita lo,eu imploro! - em seguida cai num choro descontrolado.

Eu abaixo minha cabeça e noto quando ele me solta.

-Aí dona Marta,vou passar a real,não é a primeira vez que essa..-engole seco,imagino que ele queria me xingar,mas não fez pela minha mãe-...Que essa garota me enfrenta,quero ela fora do meu morro.Eu vim de boa,avisar que  o Menor vai levar a senhora no médico.Em meia hora ele passa aqui.Ela tem até amanhã pra sair do meu morro,amanhã de manhã.Se eu encontrar ela aqui depois disso, garanto que não vai ter perdão.- vira e sai pisando fundo.

-Mamãe eu não tinha ideia , -falo já chorando- só queria mostrar pra ele que não sou como as putas que ele trata mal,eu sinto muito,não quero deixar a senhora aqui sozinha. -me encolho no sofá e choro mais ainda.

-Calma Mari,ele vai se acalmar e depois do médico vemos o que fazer,não fique assim,ele não esta acostumado ser contrariado,mas também não te avisei como as coisas funcionam por aqui.Venha vamos acabar de tomar café o Menor chegará logo,vamos resolver tudo,não se preocupe.

O Menor chega no tempo previsto e fomos ao médico.Depois de alguns exames ,voltamos a sala do médico ,um senhor alto de meia idade,não estava com uma feição boa,senti que viria noticias ruins.

-Sentem se. - ele pediu -Bom,dona Marta, não posso fazer rodeios diante dessa situação,mas tenho que ser honesto falar logo de uma vez - ele respira fundo e olha nos olhos dela - Dona Marta o tumor se alastrou muito rápido,ele estava apenas no ovário e útero,mesmo com a retirada deles não conseguimos eliminá lo ,infelizmente seu intestino já esta tomado pelo tumor,acredito que não podemos fazer outra cirurgia pois não adiantaria nada,só posso tentar amenizar as dores. Esta em um estágio avançado,acho que para que a senhora fique um pouco mais confortável deveríamos interna la agora mesmo.Se não aceitar e quiser ficar em casa mesmo lhe daremos doses de morfina para suportar as dores.Alguma dúvida?

Eu e minha mãe ficamos ali paradas,encarando o médico,eu fiquei sem ação,um turbilhão de sentimentos,a cabeça ficou confusa,não saía nada da minha boca.-despertei com a voz da mamãe.

-Doutor,se não existe tratamento pra eu melhorar,se pela medicina já estou condenada,prefiro ficar na minha casa,minha filha esta aqui do meu lado,quero ficar com ela.

_Tudo bem para senhorita?- disse o médico olhando pra mim.

-Cla..claro,o que ela quiser será feito. -Gaguejei, ainda não conseguia pensar,as palavras dele ainda entravam nos meu ouvidos,mas parecia que eu não estava entendo,ou não querendo mesmo entender.

Foram várias injeções,muitas recomendações,eu só conseguia anotar,mas meu desespero estava começando a transparecer.Deus o que farei? Não posso perde-la,não estou preparada.

Empurrei sua cadeira pelo estacionamento,avistei o carro com o Menor e fui até la,coloquei ela no carro,guardei a cadeira de rodas,de repente me lembrei que...não..eu não poderia sair dali sem perguntar.

Corro até a sala do médico.Entro sem bater e ele se assusta.

-Doutor,quanto tempo?Me diz quanto tempo ela tem.

Sendo o mais profissional possível ele olha nos meus olhos e diz

_Um mês!Esse é o tempo que a medicina estima que sua mãe terá,o caso dela é muito grave.

Me encosto na parede e vou descendo até ficar agachada,agarro minhas pernas e choro,era um choro desesperado,de dor,de perda.


Destinos traçados no morro- CONCLUÍDOOnde histórias criam vida. Descubra agora