❁ ninety-three ❁

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e v i e

Uma vez, quando eu era criança e estava assistindo Irmão Urso, fiquei intrigada com uma das frases dita por uma das personagens do filme. “Deixe o amor queimar”, era alguma coisa assim. Na época eu não entendi o verdadeiro significado – não que eu ache que eu tenha entendido depois de todos esses anos, de qualquer forma –, e um pouco mais tarde fiquei me perguntando se o que seria queimado, no caso, não seria os neurônios das pessoas apaixonadas.

E por mais que talvez não tenha sido isso que eles quiseram falar no filme, fazia sentido.

Era impossível negar.

E, ironicamente, era o que parecia estar acontecendo comigo. Eu poderia não estar amando Matt, mas provavelmente estava apaixonada por ele, por mais estranho que fosse ter que admitir isso para mim mesma. E também era a única explicação plausível, já que tudo nele parecia ser fofo e lindo, e até a risada estranha dele soava incrivelmente adorável.

Eu tinha me tornado o que mais abominava: a pessoa que fica suspirando pelos cantos, apaixonada.

Suspirando, me recostei na cadeira mais uma vez, enquanto o restante do pessoal ria de mais uma piada contatada por Arabella. Era sábado, e decidimos que estávamos merecendo comer uma pizza. O que eu achava totalmente cabível. Depois de ter enfrentado uma semana do cão cheia de trabalhos para entregar com um prazo mais curto do que o normal, a única coisa que eu queria era poder ganhar uns quilinhos a mais e degustar de uma boa pizza.

— Limpa a baba, Evie. – Maju diz, e me viro de supetão para ela. – E para de encarar o Matthew como se ele fosse um pedaço de carne, as pessoas logo vão perceber.

— Eu não estou... – tento argumentar, mas ela apenas levanta a mão, me impedindo de continuar a frase. Reviro os olhos, odiando o fato de Maria Júlia ser minha melhor amiga, e de que ela provavelmente está certa.

Mas eu provavelmente não estava olhando para ele como se fosse um pedaço de carne.

Está mais para pedaço de bolo, torta, alguma coisa assim.

Termino de beber meu refrigerante, me limitando apenas a dar poucas risadas e concordar com a cabeça sobre o assunto que eles estão falando – e que eu nem sei qual é. Eu parecia prestes a explodir, estava com preguiça até de respirar, e tinha certeza de que estava inchada. Ter comido tanto já não parecia uma boa ideia.

— E então, um dos caras do time de basquete está dando uma mega festa. – Gilinsky diz, e sorri. Todo mundo na mesa fica em silêncio para ouvir o que ele tem a dizer, e eu me encolho na cadeira, já sabendo o que está por vir. – O que vocês acham?

Um murmúrio de vozes se instala na mesa, e quase todo mundo se levanta ao mesmo tempo, indo em direção a saída da pizzaria. Com muita dificuldade – e drama –, me levanto, e deixo Matt me abraçar e me guiar até a porta. Passo um dos braços por sua cintura, e um sorriso completamente idiota toma conta do meu rosto quando ele deixa um beijo carinhoso em minha testa.

— Você não parece bem. O que aconteceu? – ele pergunta, e dou risada da minha própria desgraça.

— Comi demais. Vou morrer. Toda a pizza que eu comi vai começar a sair por meus poros e eu vou explodir. – resmungo e Matthew ri, enquanto balança a cabeça em negação.

— Você sabe que isso é impossível de acontecer, né? – ele diz debochado, e dou de ombros.

— Acho que combustão instantânea provavelmente era, e olha só! Tem gente que morreu mesmo porque começou a pegar fogo do nada. – digo, e quando Matt está preste a responder alguma coisa, é interrompido por Izzy e seus gritos histéricos.

— Será que o casalzinho pode agilizar aí? Eu quero ir para festa beijar umas bocas, porra! – ela exclama, e dou risada. Eu gostava do jeito que Izzy conduzia sua vida, sempre ficando com alguém diferente.

Se tudo der errado com Matt, eu provavelmente vou tentar seguir esse caminho.

Entramos no carro de Matthew, e quinze minutos depois já estamos estacionando em frente a casa do tal jogador do time. A rua está lotada de automóveis, e ao entrar na casa, me deixo contagiar pela batida de Party In The U.S.A. Sem nem me dar conta, um copo de bebida é posto em minha mão, mas nem me importo muito, já que todo o mal estar que eu estava sentindo parece ter desaparecido, e ter sido substituído por uma vontade louca de dançar e beber.

Eu definitivamente não estava bem.

Vou para a pista improvisada com as meninas, e logo os meninos se juntam a nós. Nash propõe um brinde, e apesar de não entender o que ele diz, choco meu copo com o dos demais. Derrubamos bebida no chão, e quando Sky quase caí, morremos de rir.

Ficamos esperando uma música mais animada tocar, e quem faz as honras é Starships. Solto um gritinho animado, e imediatamente começo a me mexer, agradecendo aos céus pelo criador dessa playlist maravilhosa que está tocando desde que cheguei. Não demora até que o refrão chegue, e então todo mundo parece ter sido contagiado por uma animação fora do comum.

A sala se torna uma cacofonia de gritos misturada a música, mas isso não me incomoda. Apenas continuo pulando e dançando, esbarrando em pessoas bêbadas e suadas. Se isso estivesse acontecendo há algum tempo atrás, eu provavelmente estaria reclamando internamente, e já estaria dando um jeito de ir embora.

Dançamos várias músicas, mas o ponto alto da noite acaba sendo quando o dj maravilhoso decide tocar I Love It. Depois de dançar até quase quebrar as pernas e sentir meus músculos quase derretendo, decido sentar um pouco no bar. Matthew me acompanha, e pega vodka com coca para nós dois. Já me sinto muito longe do meu estado normal, mesmo tendo consumido bem pouco álcool.

Eu nunca fui forte para bebida.

— É muito louco se eu disser que essa está sendo a melhor festa da minha vida? Quero dizer, eu estou realmente me divertindo! E nem estou precisando fazer esforço para isso. O que será que tinha naquela pizza? Ou será que é a bebida? Porque eu não sou; é de conhecimento geral que eu sou super careta e chata. – desembesto a falar, e ele ri. Com certeza está bêbado também.

— Para com isso. Você não é careta, só não vê graça em um monte de gente bêbada se esfregando. – Matt diz, e imediatamente faço um beicinho triste.

— Mas não era pra ser ao contrário? Por que eu não sou como todos os jovens? – pergunto retoricamente, e ele passa uma mecha do meu cabelo atrás da minha orelha.

— Você está se divertindo?

— Sim.

— Quer sair daqui? – estranho a pergunta repentina, e meu cenho se franze imediatamente.

— Não sei, talvez. – respondo, e mordo o lábio inferior. – Para onde?

— Um lugar. – ele ri, e me estende a mão. Parte de mim diz que não é uma boa ideia deixar Matt dirigir, já que ele provavelmente está bêbado, mas a outra – e maior – está mais do que animada para ficar sozinha com ele em qualquer lugar que seja.

— E se você bater o carro e a gente morrer? – pergunto, enquanto deixo Matthew me conduzir pelo amontoado de gente.

— Isso não vai acontecer. – ele se vira para mim, e cola o corpo no meu. – Mas e aí, você vem ou não?

Pondero por uns instantes, e decidida a agir por impulso, sorrio para Matt, e murmuro um “sim” inaudível por causa de todo o barulho. Decidido, ele volta a me puxar pela mão, e apenas o sigo, sem me importar muito com seja lá o que está por vir.

Ah, o amor – ou paixão, no caso – realmente nos deixava com os neurônios queimados.

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VCS ACHARAM QUE NÃO IA TER ATUALIZAÇÃO HOJE?????????

𝐝𝐫𝐮𝐧𝐤 ❀ 𝐦.𝐞𝐬𝐩𝐢𝐧𝐨𝐬𝐚Onde histórias criam vida. Descubra agora