Capítulo 1 - Cambridge.

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Lúcia Pevensie.

Era quase meio dia, geralmente nesse horário a rua era barulhenta e o calor que o sol era motivo constante para me prender em casa. Porém hoje parece ser um dia atípico, pois estava prestes a sair para a feira.

Assim que coloco os pés fora de casa percebo que não havia agitação de sempre nas ruas e o sol estava anormalmente agradável. Não fazia tanto calor, algo que eu agradeci internamente.

Respiro fundo, verifico se a quantidade de sacolas e o dinheiro estavam em ordem e começo a caminhar pela rua até que Edmundo me alcança.

- Lúcia! Onde está indo? - Ele perguntou interessado enquanto me analisava. - Posso acompanhar você?

- Se prometer não se meter em encrencas, pode. - Respondo também o a analisando, decidida.

- Feito. - Ed respondeu depois de alguns segundos em silêncio e logo voltamos a caminhar em direção a feira.

Fazia pouco mais de seis meses que Edmundo e eu fomos mandados à Cambridge por conta da guerra e dos bombardeios que se prolongavam.

Papai e mamãe não tinham dinheiro suficiente para levar toda a família para os Estados Unidos, por isso optaram em levar somente Susana e Pedro para os Estados Unidos. E com isso Edmundo e eu morávamos, temporariamente, com uma irmã mais velha da mamãe que eu não conhecia até o presente momento.

- Chegamos, Ed. Vou começar pelos legumes... pode me ajudar com as outras coisas?

Pergunto à Edmundo e o mesmo concorda, pegando uma sacola e indo na direção contrária à mim.

Enquanto tentava concentrar minha atenção as compras pude perceber um casal que conversava carinhosamente num canto próximo a feira. Eu achava tudo lindo e desejava ardentemente viver um romance, porém eu não era boa o suficiente.

Enquanto via Susana ser a filha mais bonita e cortejada, eu era vista como uma criança e isso me fez acreditar que as outras garotas sempre seriam mais bonitas e charmosas que eu, e isso acabava me inibindo.

Tentei espantar esse pensamento para longe e só então me dou conta que Edmundo havia desaparecido, começo a procurá -lo em lugares óbvios até que avisto uma fila de rapazes para o alistamento para o exército e tenho a certeza que encontraria meu irmão ali. E eu estava certa.

- Edmundo, você disse que iria me ajudar com as compras!

O chamo, e percebo que seja qual fosse a conversa que ele estava tendo, havia acabado de frustrar seus planos.

- Oque pensa que está fazendo, Edmundo? Você iria mesmo se alistar para o exército? - pergunto indignada.

- Não aguento mais, Lúcia. Não dá mais para viver esse inferno! - Disse ele aborrecido, enquanto caminhávamos de volta para casa. - Prefiro mil vezes estar em Nárnia.

- Eu sei, Ed. Mas precisamos acreditar que as coisas vão dar certo. Logo estaremos voltando para casa.

Digo com um sorriso amigável, pouco tempo depois entrávamos na casa da tia Alberta, mas apenas o tio Arnaldo estava em casa, lendo o jornal.

Edmundo se quer fala com tio Arnaldo e vai direto para o andar de cima, porém decido ficar e ser amigável com meu tio. Mas ele se quer me deu atenção ou respondeu qualquer pergunta minha.

Também decido fazer o mesmo que meu irmão, guardo as compras em seu devido lugar e decido ir para meu quarto. Assim que entro no cômodo vejo Edmundo sentado em minha cama parecendo mas aborrecido que antes.

- Quem ele pensa que é para te tratar assim? - Ele pergunta indignado. - Minha vontade é descer lá, e...

- Edmundo, não... - Começo. - Não ligue pra isso, faltam poucas semanas para voltarmos para casa. Faça um esforço.

Eu peço, ele parece ceder e deita na cama.

- Acha que é possível, Lúcia? - Edmundo pergunta. - Acha que iremos voltar?

- Sim...

Respondo enquanto ia até a comoda que havia ali assim que percebo uma carta, que foi enviada por Susana, meu irmão e eu líamos o texto com curiosidade, mas recebemos a péssima notícia que teríamos que ficar mais tempo aqui.

- Não acredito! - Falei. - Como vamos sobreviver mais tempo nesse lugar.

- Pois é... queria ter apenas uma oportunidade, e eu iria embora deste lugar. - Edmundo disse.

- Susana e Pedro que são sortudos, vivendo aventuras... - Comento indo me sentar na cama. - Edmundo, você já tinha reparado nesse quadro antes?

Pergunto olhando melhor para o quadro que ficava de frente à minha cama.

- Já. É bem no estilo de Nárnia, não é? - Edmundo pergunta. - Como será que estão as coisas por lá?

- Eu não sei... Edmundo, parece até que a água está se mexendo.

Falei e antes que Edmundo ou eu fizéssemos um comentário, meu primo insuportável invade o quarto.

- Era uma vez órfãos desocupados, que acreditavam em contos de fadas e livros empoeirados...

Disse Eustáquio em tom de deboche, e então ele e Edmundo começam a trocar discutir e se ameaçarem, e eu até queria fazê-los parar com aquilo, mas algo no quadro prendreu minha atenção.

Aquela pintura vasava água, e não somente vasava água como o navio gravado nele se mexia, agora eu podia ver com clareza.

E sabia exatamente oque aquilo significava.

- Edmundo, a pintura!

Gritei o suficiente para chamar a atenção dele e de Eustáquio, que ao ver a água que jorrava do quadro em abundância ficou assustado e decidido a destruí-lo.

Tentamos impedi-lo, e num segundo a água era tanta que meu quarto rapidamente ia sendo tomado até tudo desaparecer a minha volta.

Percebi que agora estávamos eu, Edmundo e Eustáquio em alto mar. Nadei com certa dificuldade até a superfície, começei a gritar pelo meu irmão quando sentiu mãos fortes envolvendo sua cintura.

A Thousand Years - LuspianOnde histórias criam vida. Descubra agora