Capítulo 8 - A estrela azul.

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Lúcia Pevensie.

Estava uma tarde estava anormalmente calma e o mar não estava agitado, me acomodei melhor sobre a escultura de dragão que havia na ponta frontal do navio e continuei a observar o horizonte diante de mim. Os últimos acontecimentos ainda ecoavam na minha cabeça, me incomodava.

Fechei os olhos sentindo o vento fresco e salgado no meu rosto enquanto refletia sobre tudo. Agora tenho a certeza sobre oque sinto por Caspian, pois apenas a simples ideia de estar num mundo em que ele não existia me apavorava. Era amor, da forma mais pura e genuína como eu jamais pensei em amar alguém. 

Agora estávamos ancorados próximo à costa da Ilha do Dragão com a estrela azul que tanto procurávamos estava bem diante de nós.

Quando Caspian ordenou a tripulação para zarparmos da ilha do Dragão parecia que todas as chances se voltaram contra nós. Não havia vento para fazer o barco se mover, os homens estavam nervosos e a comida estava acabando. E para completar ainda tínhamos que encontrar uma forma de levar à bordo nosso primo Eustáquio ( que devido a sua curiosidade transformara-se num enorme dragão dourado.

Os homens remavam dando o máximo de si para que o barco se movesse, mas sem sucesso. A apreensão era quase palpável naquele navio e eu apenas observava calada, não tinha nada que eu pudesse fazer para ajudar.

Quando Eustáquio sobrevoou o navio e foi ameaçado por um dos marinheiros, teve a brilhante ideia de puxar o navio até nosso próximo destino: A ilha Ramandú.

A ajuda nos deu um novo fio de esperança e foi aumentando mais ainda quando finalmente chegamos a tal ilha. O lugar era paradisíaco, havia cascatas d'água em volta da ilha e pássaros entravam e saiam do lugar a todo momento.

- Nossa, que lugar incrível! - Falei realmente surpresa.

- Vamos até lá. - Ouvi a voz de Caspian à minha direita e tratei rapidamente de sair de perto enquanto ele me observava.

A verdade é que eu ainda estava com raiva dele e não sabia o real motivo daquilo, talvez fosse pela forma que me tratou e pelas coisas que disse. Me encostei próximo a alguns reservatórios de água notando a mobilização dos homens para acatar a ordem. Logo a metade da tripulação se dividia nos botes em direção a ilha.

- Lúcia, você não vem? - Edmundo chamou, Caspian também estava naquele bote e definitivamente eu não queria ficar perto.

Mas como não tinha escolha apenas fui até eles e entrei sem dizer nada. Os dias que se seguiram Caspian e eu não trocamos mais que algumas palavras em público. Nada mudou depois que dormimos juntos, porém a troca de olhares era frequente a pronto de me deixar incomodada. A maioria do tempo me pegava desejando saber oque se passava na cabeça dele.

Caspian era como um enigma para mim.

Pouco tempo depois descemos do barco e adentramos a ilha, que estava escura e se parecia muito com um Palácio em ruínas. Não só eu, mas todos estavam alertas. Explorando o lugar encontramos oque parecia ser um salão de refeições, sobre a mesa havia um grande banquete e só então notei que minha fome era imensa.

Enquanto uns surrupiavam a comida em silêncio um clarão azul descia do céu em nossa direção e eu puxei minha espada, contrariando minhas expectativas uma mulher materializou-se da luz bem diante de nós, todos os homens a encaravam encantados e eu era a única que mantinha a espada erguida.

- Viajantes de Nárnia, bem-vindos! - Ela disse numa voz melodiosa e todos se curvaram. - Levantem-se. Não estão com fome?

- Mas quem é você? - Edmundo perguntou de repente.

- Eu sou Lilliandill, filha de Ramandú. Sou a guia de vocês.

Ela caminhou até nós sorrindo levemente. Guardei a espada porém nunca pensei que fosse sentir tanta antipatia por alguém como estou com relação a essa estrela.

- Você é uma Estrela. - Caspian deu um passo até ela, encantado. Ela apenas assentiu. - Você é muito linda!

Ele disse, e então percebi que pela primeira vez senti ciúmes de alguém.

- Se.. se for uma distração para você eu posso mudar de forma.

- Não! - Caspian e Edmundo disseram juntos e se entreolham. Eu apenas observava calada achando tudo aquilo um absurdo.

- Por favor, a comida é para vocês. - Ela ergueu as mãos e as velas se acenderam. - Tem bastante para todos que são bem-vindos à mesa de Aslam, sempre. Sirvam-se.

Ela disse meio constrangida ao perceber o olhar de Caspian sobre ela e eu poderia jurar que seria capaz de matá-la, aquela sonsa.

Os homens sentaram-se a mesa e se serviam com pressa, porém Caspian, Edmundo e eu seguimos a Estrela até a varanda ali perto.

- O mago, Coriakin, lhes falou da ilha negra. - Ela recomeçou olhando o horizonte.

- Falou. - Caspian respondeu.

- Em breve o mal será irreversível...

- Coriakin disse que para quebrar o feitiço teríamos que pousar as sete espadas sobre a mesa de Aslam.

Caspian a informou.

- Ele disse a verdade. - A estrela assentiu concordando.

- Mas nós só encontramos seis. Sabe onde a sétima está? - Edmundo perguntou a encarando e Lilliandill assentiu.

- Lá dentro. - Ela apontou para a ilha negra. - Vão precisar de muita coragem. Não percam mais tempo.

- Espero vê-la de novo. - Caspian disse sorrindo para a Estrela.

- Adeus.

Ela sussurrou preparando-se para voltar de onde veio, os dois trocavam olhares cheio de significados e aquilo era demais para mim.

Retirei-me dali a tempo de vê-la desapareceu.

Caminhei sozinha até a entrada da ilha e só então me permitir chorar pela cena de agora a pouco.

Aquilo significava que Caspian e eu não poderíamos ficar juntos, que ele não sentia o mesmo que eu, e a qualquer momento poderia se apaixonar por outra.

Isso não era justo, mas era a realidade.

(...)

Comemos, descansamos e até reabastecemos as provisões do navio. Apesar de uma falsa sensação de calmaria pairar no ar, nenhum de nós se sentia tranquilo de fato.

Decidi retornar ao navio depois do jantar e novamente eu estava sem sono, fui até o convés do navio observar o céu à procura de alguma calma para o meu coração.

Estávamos próximos do fim dessa aventura e eu sentia que em breve chegaria a hora de voltar para casa, de ficar longe dele.

Algumas lágrimas escorriam por meu rosto livremente e eu não fazia nada para impedi-las. Por Aslam, eu o amo tanto! Tanto! E se quer ficarei perto dele como amiga, meu coração apertava como nunca e eu só torcia internamente para que tudo se resolvesse logo.

- Sem sono? - Uma voz masculina disse ao meu lado, me sobressaltando.

Logo identifiquei que era Caspian e decidi sair dali.

- Não Lúcia, espera... - Ele segurou meu braço. - Não quero brigar.

- Oque você quer então? - Falei finalmente.

- Eu... queria te pedir desculpas pelas coisas que te falei. - Ele começou e eu ri pelo nariz. - Eu gosto muito de você.

- Não foi isso que me disse da última vez, Caspian. Tem noção do quanto me magoou? Por que você não vai atrás da estrela e diz que gosta dela também? - Perguntei deixando aparente a minha magoa. 

- Me desculpe...- Ele disse baixando a cabeça.

- Não posso culpá-lo realmente, você disse a verdade. - Falei. - Não significo nada para você.

- Não! Lúcia, você... - Ele fez uma pausa. - Eu te amo!

A Thousand Years - LuspianOnde histórias criam vida. Descubra agora