Capítulo 8
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"Algumas pessoas nunca dizem uma mentira, se souberem que a verdade pode magoar mais."
(Mark Twain)
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Andava agitada no quarto de hóspedes, concentrada em proferir frases irritadas pela ousadia de Kyohei.
— Quem ele pensa que é? Tratando-me com tamanha intimidade! — murmurou ultrajada, movendo as mãos como se pudesse estapeá-lo.
Não gostava que a olhassem com piedade. Ela já fora vítima no passado, mas conseguiu suportar as adversidades. Conseguiu superá-las! Ela era uma sobrevivente, e não alguém dependente de proteção.
— Eu não preciso disso! — Quase gritou mais uma vez, sentindo o coração descompassado pela raiva.
Kyohei ferira seu orgulho. Conseguira pisar em sua determinação como se a visse como uma garotinha assustada. Ela não era! Não precisava que alguém lhe concedesse um ombro para chorar, porque lágrimas não a interessavam.
E era tarde demais.
— Você fala sozinha quando está brava. — Não era uma pergunta. Kayla virou-se, ainda com a respiração irregular, para encontrar a face divertida de Daisuke.
— Uma velha mania — respondeu a contragosto, sentando-se na cama para conter a ansiedade.
— Tenho curiosidade de conhecer outras manias tão engraçadas — expressou o baixista, acomodando-se ao lado dela.
Kayla mirou-o cautelosa, mas logo se permitiu sorrir ao perceber que Daisuke parecia um pouco tímido naquele momento.
— Não saberia dizer o que aconteceu com o Kyo — comentou ele, massageando o pescoço em um gesto nervoso. — Nunca o vi agir assim.
A jovem suspirou, fixando a atenção no piso encerado de madeira. Sentia-se cada vez mais indignada por Kyohei não ter demonstrado sequer a decência de se desculpar pessoalmente.
— Não é sua culpa, Daisuke. — A maneira como ela proferiu as palavras fez o rapaz encará-la com seus penetrantes olhos castanho-claros. — No fundo, acho que ele não teve a intenção de me desrespeitar.
Apesar de ultrajada, a modelo seguramente acreditava que Kyohei não quis invadir sua privacidade. E muito embora isso não mudasse a situação, não desejava trazer problemas para a banda. O motivo para Daisuke estar sentado ao seu lado, esforçando-se para acalmá-la, revelava que todos se sentiram perturbados pelo que houve, algo que Kayla definitivamente não queria causar.
Daisuke deixou os ombros relaxarem em alívio pela afirmativa. Ela era tão doce! Nem foi preciso explicar muito para que o amigo fosse perdoado.
— Ele garantiu que não tentará beijá-la de novo...
Kayla quase engasgou ao ouvi-lo, virando-se para o rapaz com tanta brusquidão que seus longos cabelos se chocaram contra o ombro dele. Inclinava-se para mais perto do baixista como se, assim, pudesse absorver melhor o que dizia.
— O que você disse? — questionou, alheia à maneira como Daisuke imediatamente mirou seus lábios pela proximidade.
— O Kyo explicou que foi um impulso de momento, Kayla — esclareceu ele, afastando-se ligeiramente ao sentir o perfume floral da pele feminina. Aquela distância estava mexendo consigo. — Não conseguiu dizer por que fez isso, mas não tentará beijá-la outra vez.
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A Garota Deles
RomansaKayla é uma modelo em ascensão que guarda um perigoso segredo. Ao ser convidada para representar a linha feminina de produtos da banda de rock Sumire, ela acredita estar cada vez mais próximo de seu objetivo. Apesar de seu passado sombrio, as coisas...