Resolução

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Capítulo 18

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"Eu quase que nada não sei. Mas desconfio de muita coisa."

(Guimarães Rosa)

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Kayla sentia-se inquieta com o conflito que causara entre os membros do Sumire. Não pretendia envolvê-los em problemas, mas bastou uma pequena convivência para que tudo parecesse fugir do controle. Abriu a porta do apartamento pensando, culpada, como seria possível concluir o trabalho nos próximos meses quando logo nos primeiros dias já os fizera brigar...

Suspirou, colocando o violão no chão ao lado da porta já fechada. Talvez nesta conversa compreendessem que alguém como ela não valia o esforço de nenhum deles. Estava pronta para retirar a mochila das costas quando finalmente notou não estar sozinha. À sua frente, estoico e visivelmente irritado, encontrou Trevor com seus braços cruzados. Ele a encarava com tamanha intensidade que a jovem não ousou desviar o olhar, nem mesmo quando, a passos lentos, o amigo se aproximou e ajudou-a a se desfazer do peso de sua mochila.

Ao tê-lo tão perto, sem compreender a si mesma, Kayla sentiu enorme vontade de abraçá-lo. De todas as pessoas, Trevor era a última que merecia o fardo de se preocupar com ela. Baixou o rosto para que seu olhar pesaroso não fosse flagrado, mas o rapaz impediu-a segurando seu queixo com uma suavidade que contrariava a tensão de sua expressão. Sem nenhuma palavra, como se a entendesse, ele a abraçou com tamanha força que Kayla se sentiu completamente envolvida pela proteção do seu corpo, como se nada pudesse feri-la enquanto estivesse ali. Ela se agarrou a ele e afundou o rosto em seu peito, sem evitar que os ombros relaxassem e o peso de toda a tensão a abandonasse momentaneamente. Inspirou, preenchendo os pulmões com o perfume de Trevor como uma calorosa onda.

Ela sabia que lhe devia notícias, mas não era a primeira vez que o feria nem seria a última. E a cada uma, mesmo que tivesse razão em se sentir ofendido, Trevor lhe oferecia um porto seguro sem nada perguntar. Sem nada dizer. Sem expressar em palavras toda a preocupação que seu abraço demonstrava. Estar agarrada ao seu corpo era um presente gratuito, talvez o único, ainda que não merecesse.

— Desculpe — sussurrou contra o peito dele.

Trevor se afastou e suas mãos envolveram com carinho o rosto de Kayla. Ela notou quando os olhos azuis fixaram-se em seus lábios e sentiu-se subitamente quente ao flagrar o brilho faminto que pareceu nublá-los. Sentiu-se tão desejada que, de repente, questionou a si mesma se seria tão terrível a ideia de beijá-lo. Antes que algo mais íntimo pudesse acontecer, no entanto, Trevor acariciou os cabelos vermelhos, afastando-se em seguida para apanhar os materiais e seu casaco sobre a mesa. Estava atrasado para a universidade, e Kayla sentiu-se constrangida por tê-lo feito perder seu tempo. 

Quando Trevor alcançou a porta, virou-se para vê-la outra vez. Seus olhos azuis pareciam conter traços da excitação flagrada antes, e ela ainda sentia-se quente e inclinada a impedi-lo que saísse. A voz rouca, contudo, despertou-a ao dizer:

— Não a quero dormindo na casa de nenhum deles. — O tom enciumado das palavras chocou-a, e Kayla nada pôde responder ao vê-lo ir embora.

Ainda encarando a porta, ela prometeu a si mesma que se esforçaria para cumprir o que Trevor pedira.

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Ao tocar a campainha do apartamento de Oreki, Kayla permitiu que o ar se esvaísse dos pulmões com certa tensão, antes de admitir que se sentia ansiosa. Era ridículo, mas as mãos insistiam em ficar suadas e seu coração desobediente mantinha-se frenético no peito. A conversa entre os membros do Sumire foi mais rápida do que esperava. Mal dera tempo de chegar em casa, encontrar Trevor, tomar um banho e se vestir, quando seu celular tocou.

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⏰ Última atualização: Nov 01, 2023 ⏰

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