Carência

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Capítulo 9

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"Se não era amor, era da mesma família. Pois sobrou o que sobra dos corações abandonados. A carência. A saudade. A mágoa."

(Matha Medeiros)

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Havia um clima pesado quando Kayla chegou à sala, o que a fez sentar-se no sofá e manter-se calada durante a maior parte dos trinta minutos que se seguiram. Era um pouco desconfortável estar entre aqueles rapazes quando claramente desejavam acertar contas entre si.

— Hm... — começou ela, constrangida. — Posso voltar para casa e retornar amanhã se f-

— Do que está falando, Kayla? — questionou Oreki, repreensivo. — Ficamos um pouco exaltados pelo que aconteceu, mas nada com que deva se preocupar.

O olhar dela encontrou os rostos masculinos, lendo nas expressões que o grupo ainda parecia unido apesar da tensão anterior. Ela deveria prever que uma situação tão pequena quanto aquela, para amigos íntimos, certamente não era nem próximo do necessário para causar sérias desavenças.

— Que bom — disse, aliviada. — De fato, não houve nada demais.

As palavras dela deixaram Satoshi satisfeito, especialmente ao notá-la mais relaxada. Tudo o que o guitarrista não queria era um de seus amigos despertando o interesse de Kayla antes que pudesse abordá-la.

— Que tal bebermos um pouco? — questionou Daisuke, levantando-se do chão onde estava quase deitado de forma casual.

Enquanto o grupo concordava, acostumado àquela rotina, a ruiva procurou disfarçar o repentino incômodo. Não queria ser um obstáculo para os rapazes beberem sossegados, mas certamente não poderia participar como esperavam.

Jaoki colocou um par de garrafas de vodka sobre a mesa de centro, logo Daisuke trouxe copos e gelo. Oreki completou o arranjo com duas facas, limões e uma pequena tábua de corte. A jovem flagrou-se, então, com o coração descompassado pela timidez.

— Incomoda-se de beber vodka, Kayla? — perguntou o anfitrião, encarando-a com atenção.

Os pares de olhos pousaram sobre ela, que se remexeu constrangida sem conseguir conter uma clara expressão tensa.

— A-Acho melhor eu n-não beber! — A forma como a frase soou, ansiosa e agitada, despertou uma perigosa curiosidade.

— Por quê? — perguntou Daisuke, já sorvendo um longo gole da bebida pura. Seu pomo de adão movimentou-se de um jeito que a modelo achou muito masculino.

— É que... — Hesitou em responder. — Sou extremamente fraca para o álcool.

Aquela explicação não era toda a razão para evitar beber e, infelizmente, isso ficou muito nítido para todos os rapazes presentes. No entanto, se o problema fosse esse, a jovem poderia aproveitar com tranquilidade, porque todos ali respeitavam os limites uns dos outros.

Foi o que pensaram ao confortá-la e convidá-la a se juntar a eles, com sorrisos amigáveis. Relutantemente, a ruiva sentou-se ao lado de Oreki e Satoshi, aceitando o copo que Daisuke lhe entregara.

— Aceita limão e gelo? — perguntou Kyohei com gentileza.

Oreki cortava os limões em rodelas sobre a tábua, seus dedos moviam-se ágeis e seguros.

— Prefiro a dose pura, obrigada.

Ela se permitiu curtir o momento ao brindar com o Sumire e, quando a bebida desceu pela garganta, queimando-a com seu efeito entorpecente, as coisas pareceram mais agradáveis. No primeiro copo, Kayla já sentia seus músculos mais relaxados.

A Garota DelesOnde histórias criam vida. Descubra agora