Hoje, 18h30, vou fazer uma live no instagram comentando o capítulo e respondendo perguntas. Espero vocês! Meu instagram é @brunaescreve <3
Nada como assumir uma nova identidade, mudar de cidade, começar uma nova vida. Até mesmo o mais pleno e satisfeito dos mortais já sonhou com o dia em que sairia de casa só com uma mochila e algum dinheiro, se mandaria para sabe Deus onde e só retornaria ao lugar que um dia chamara de casa para exibir sua bem-aventurança aos pobres coitados que não tiveram a coragem de fazer o mesmo.
Para Alana David, o sonho também podia ser chamado de dois anos atrás, quando começou a ganhar algum dinheiro escrevendo contos em um site de patrocínios e deixou Aquino de uma vez por todas, para fazer faculdade de Letras na capital. A decisão era a mais intuitiva que racional em princípio, já que contar histórias era seu único talento – talento este que agora era reconhecido por alguns milhares de desconhecidos na internet, o que era melhor do que reconhecimento nenhum, já que além de tudo ela podia pagar as próprias contas.
Àquela altura, dois anos parecia uma vida passada, sem qualquer conexão com a atual, à exceção de algumas memórias desconfortáveis que insistiam em pulular na sua cabeça vez ou outra.
Enquanto os lençóis brancos deslizavam suavemente por suas costas e seus cabelos caíam charmosamente sobre seus olhos, Alana se surpreendeu com o próprio reflexo no espelho atravessado de seu quarto-sala em um bairro até charmoso na capital. Se se encontrasse quatro anos atrás não se reconheceria, graças aos céus.
Era tão revigorante não ser mais a garotinha manipulável, inocente, pura. Havia todo um misticismo envolto de sua personalidade agora, o que a fazia gostar mais de si mesma – ainda que isso não fosse exatamente um consenso interno.
Dia sim, ela era a incrível escritora independente que ganhava a vida aos dezenove anos de idade fazendo o que sabia fazer de melhor, ovacionada por garotinhas como a que um dia ela fora, trancada na casa dos pais lendo histórias sobre melhores amigas invencíveis na tela do celular, debaixo das cobertas, depois da hora de dormir.
Dia não, era dia de teclar o número de casa e pedir um cheque para os pais ajudarem nas contas do mês, já que ninguém vive só de sonho nos dias de hoje.
Mas Alana gostava de pensar em si uma de suas personagens: alguém a ser moldado, lapidado, e, por óbvio, reescrito caso começasse a entediá-la. O autor escolhe quais traços da personalidade de sua criação merecem ser expostos, e o mesmo seria feito com sua própria vida. Por isso, os cabelos monótonos sempre à altura dos ombros foram substituídos por um corte moderno, assimétrico, pouco acima da nuca. A franja lisa emoldurava perigosamente suas sobrancelhas grossas e expressivas, e os olhos cinzentos pareciam mais esfíngicos do que nunca. Os suéteres de estampas infantis deram lugar a roupas lisas, monocromáticas, de tecidos nobres e bem recortados. Saias plissadas como as que costumava usar no Colégio só eram usadas de vez em quando, para propósitos irônicos (tirar sarro de sua não mais inocente figura, por exemplo). Embora sua visão funcionasse perfeitamente, um par de óculos ornava com seus olhos ocasionalmente, equilibrado sobre seu nariz sardento. Os lábios eram sempre coloridos de um vermelho vivo e fosco, contrastando com sua pele alva.
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Menina Malvada
ChickLitMini-sequência oficial de "Não Confie Nas Boas Meninas". Uma mais profunda, sombria e excitante análise sobre os personagens de Não Confie Nas Boas Meninas. Descubra o que acontece com Alana, Brenda e Silvia após deixar o Colégio, e o destino daquel...