14. TAINÁ

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Há males que vêm para o bem

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Há males que vêm para o bem.

Esse era o lema da vida de Tainá havia uns quatro anos.

Então, em vez de se tornar uma pessoa extremamente amarga e infeliz como certas pessoas quando o karma resolve fazer seu acerto de contas periódico, Tainá decidiu dar um propósito para a própria vida depois de todo aquele drama envolvendo drogas, desmaio e transtornos alimentares vivido na época do Colégio.

A vida é melhor quando vivida para os outros, ela repetia mentalmente enquanto colocava os travesseiros dentro das fronhas brancas. Tainá já tinha dito milhares de vezes que roupas de cama brancas faziam com que o dormitório do orfanato parecesse um manicômio, e que não seria nada mal uma corzinha de vez em quando. Mas o argumento nas voluntárias da lavanderia era forte demais para ser derrotado por uma falta de vida na decoração: roupa de cama branca é mais fácil de lavar.

Tainá sabia que aquilo era só uma desculpa para socar alvejante na roupa de cama, facilitando a vida das voluntárias. O mínimo esforço era feito, e pronto. Todos podiam se gabar da própria consciência social, passando umas três horas por semana no orfanato. Enfiando os lençóis nas máquinas de lavar, despejando a maior quantidade de alvejante possível, e pronto. Voluntárias.

Ela respirou com dificuldade enquanto posicionava milimetricamente os travesseiros sobre as camas dos beliches. Era impressionante a quantidade de pessoas que só praticavam caridade para se sentirem melhor a respeito de si próprias.

Um espelho no canto do quarto das órfãs entre onze e treze anos acusou sua imagem, e Tainá praticamente não se reconheceu. Não porque havia operado grande mudança em si mesma, mas porque não passava tanto tempo se olhando no espelho esses dias. Embora não houvesse uma grande distância entre sua aparência atual e a da garota que foi parar na reabilitação alguns anos antes, ela estava mais satisfeita com a pessoa que a encarava do outro lado da superfície refletiva. Não se importava mais.

Tocou os cabelos encaracolados. Alisou o uniforme também branco do voluntariado. Era idiota que pensasse em peso e curvas e convenções sociais, enquanto estava cercada por camas de garotas que provavelmente nunca teriam um quarto próprio, numa casa com uma família que as acolhesse e as amasse. Ela sorriu para si mesma, contente pelo modo como escolheu viver sua vida.

Não é porque sua existência tinha sido um poço de infelicidade e desespero por três anos, que a vida de outras crianças precisava ser assim. E sua experiência com crianças insuportáveis no Colégio a fez se dar conta de que, geralmente, onde existe uma menina malvada, existem pais bem piores.

Veja o escândalo de corrupção dos Belucci. É óbvio que, com pais criminosos e mesquinhos, dali só podia sair uma psicopata.

Tainá sacodiu a cabeça. Prometeu a si mesma que nunca mais dedicaria nenhum de seus pensamentos àquela garota, e aquela promessa era fácil de cumprir. A memória dos olhos faiscantes de Brenda Belucci ainda lhe dava arrepios.

Menina MalvadaOnde histórias criam vida. Descubra agora