Prólogo

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- Não acho que eu vá viver muito com essa coisa na minha cabeça. - disse inseguro. - Pelo menos o meu irmão vem me ajudando com tratamentos alternativos, eu não posso apenas jogar tudo pro alto.

O calvo senhor calmamente o escutava falar, enquanto tragava o seu charuto. Logo, a fumaça de seu fumo embaçou as lentes transparentes de seus óculos redondos. Ele os retirou de seus olhos, limpando o vidro sujo nas armações e colocou-os em seu birô ao lado.

- Desculpe, senhor Brandão. - falou coçando sua careca. - Não fui educado ao perguntar se não se importava de fumar na consulta. É um cliente novo e geralmente os meus usuais não se importam. - Soltou uma leve risada, enquanto disse. - Eles se juntam a mim.

Deitado num divã de camurça marrom, o jovem rapaz loiro olhou para o psicólogo.

- Foda-se. - respondeu com naturalidade, mas logo percebeu a grosseria de sua fala e corrigiu o tom, desculpando-se. - Quer dizer, eu não me importo... - sorriu nervoso. - Se quiser virar uma chaminé, fique à vontade, doutor Müller.

O consultor olhou para seu paciente, indignado.

- Não fique constrangido, acredito que seja como trata alguém íntimo, certo? - Arthur ouviu o psicólogo dizer, enquanto olhava para o gesso do teto. - Estamos tendo um conversa íntima, expresse-se como quiser.

Logo, a imparcialidade emocional de seu rosto enrugado estava de volta.

- Dizia que seu irmão o ajuda em um tratamento alternativo, ele é médico? - perguntou arqueando as sobrancelhas, enquanto tragava mais uma vez.

- Que nada, doutor! - rebateu com naturalidade, cruzando os dedos sobre seu peito, com seus olhos azuis voltados para o alto. - Passou boa parte da vida numa cela; na verdade o Aarseth é meu irmão adotivo e é tão fracassado quanto eu.

- Puxa vida! - O senhor calvo impressionou-se. - O que os seus pais dizem sobre isso?

- Nada. - Balançou a cabeça negativamente apertando seus lábios. - Eles não têm condições de falar nada com sete palmos de areia na boca.

O doutor pegou um bloco e começou a fazer algumas anotações, traçando o perfil de seu cliente.

- Então qual é a sua referência na família hoje? - perguntou, deixando o loiro pensativo.

- Meu irmão de sangue, ele tá na USP há vinte anos - disse Arthur, convicto.

- Ah, que bom! - forçou uma animação, de como quem se importa. - Já deve ter doutorado.

- Não, ele está dentro de um pote com água. - respondeu com seriedade. - Ele nasceu com dois pênis.

O consulto calvo suspirou impaciente.

- Seria bom se o seu bom humor fosse sincero, Arthur. - rebateu o psicólogo. - Entretanto, eu percebo que ele é uma máscara e não há como enganar um profissional como eu.

Doutor Müller levantou-se de sua cadeira e, lentamente, passo a passo, ficou contornando o divã continuamente, enquanto falava.

- O senhor é inseguro e carente de aceitação, acha que figuras como o seu irmão e quem seja esse tal de Aracnídeo, seu amigo, é bem aceito por ser bem humorado. Isso me preocupa. É característica bem comum para depressivos em potencial - afirmou com firmeza.

- Claro que não! - Arthur exaltou-se, mas parou com a mente nas alturas. - É, você tá certo.

O calvo homem bem trajado com seu colete preto de algodão coçou o resto de cabelos que lhe restavam na cabeça e levou ambas as mãos para trás de suas costas, em seguida.

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