Ela

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Os punhos imponentes batiam ligeiramente com breves pausas, como se não ligasse para a espuma de ódio carregado em sua boca e a suave voz feminina gritando ao fundo:

- Para! - O desespero no grito fino era notável. - Vai matar ele, esse não é você!

Os finos dedos agarraram o braço, vestido de seu traje especial, puxando-o. Em uma fração de segundos o punho agarrado acertou a sobrancelha da garota ruiva que, fechando os olhos, foi ao chão.

Sua queda foi instantânea, mas o seu agressor a viu lentamente, como se tivesse uma supercâmera lenta usada em transmissões de eventos esportivos. Seus olhos sobressaltaram-se ao ver o corte aberto fazendo escorrer o plasma sanguíneo verde da garota. Observou tudo boquiaberto, até tomar a atitude de aparar a queda. Porém, nem a sua velocidade impediu o bater da cabeça vermelha da moça no chão.

A risada prazerosa foi ouvida atrás do Gladiador Azul, que, sem seu capacete, virou-se e viu o homem sorrindo, coçando seu cavanhaque negro, que se unia ao cabelo longo e preso como um rabo de cavalo.

- Parece que sim - disse, limpando o sangue dos lábios. - Você é assim, não é, Arthur?

Revoltado, o velocista aponta o dedo, rangendo os dentes.

- É tudo culpa sua, Jacobo! - berrou, com lágrimas nos olhos. - Já passou da hora de você sair da minha vida. - Apertou o punho firmemente. - De sair da vida de cada corrompido que você explora!

- Você é um criminoso! - esbravejou Jacobo. - Como todo o resto!

Arthur avançou veloz e furioso.

Deitado em seu colchão, no quarto improvisado, levantou o tronco de vez, ficando sentado. Ofegante e suado, correu para fora da bilheteria vestindo apenas uma cueca branca e foi até o banheiro do terminal.

Lavou o rosto e olhou para o espelho.

O que via?

Apenas mais um cara; mais um perseguido pelos pesadelos reais de um passado negro. Machucar quem ama e ser um criminoso era algo que doía muito em si.

Ele, a culpa e um copo de café novamente na poltrona de espera do terminal.

Na outra bilheteria, seu irmão lia as notícias do dia no notebook:


"Presidente Michel Rodrigues se reúne com a cúpula da ONU para discutir a questão dos corrompido. Será que saberemos se são apenas rumores de um Estatuto dos Corrompidos do governo nacional para regular as condições dos de sangue verde na sociedade?"


Ao arrastar o cursor para a próxima notícia, se espantou arregalando os olhos.

Na plataforma de espera, Arthur olhou para a tela em branco apoiada por um tripé. Imaginou o que pintar, buscando a inspiração que não vinha para poder exercer seu ofício. O pesadelo ainda era vivo em sua mente:

- Você é um criminoso!

Seus pensamentos foram interrompidos pelo brusco abrir da porta da bilheteria 15B.

- Você é um herói! - gritou Aarseth, segurando um notebook com a tela virada para o irmão. - Parabéns, rapaz!

Ao atentar para o visor, viu um vídeo curto e sem áudio do Raiju em uma das salas do banco. Desaparecia, devido às altas velocidades e reaparecia, certamente quando decidia falar ao comunicador.

"Velocista evita roubo no Banco Federal de Primavera e bandidos saem sem um centavo" - era a legenda do vídeo, que tinha milhões de visualizações em poucas horas.

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