Futuro

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E antes de acontecer

O Sol a barra vir quebrar

Estarei nos teus braços

Para nunca mais voar

O garoto, com palavras atrapalhadas, tentava acompanhar a cantoria, sempre escorrendo na letra.

Quando a campainha tocou, os dedos da mão direita de Osíris deixaram de bater nas cordas do violão.

Ele levantou-se desconfiado e, segurando o instrumento pelo braço, disse:

- Pro quarto, Arthur. - A criança, chupando o polegar esquerdo e segurando o próprio lóbulo com a outra mão, balançou a cabeça negativamente. - Vai agora lá pra cima! - gritou o pai, nervoso.

Assustado, o garoto correu pela sala e, das escadas, observou o pai atender a porta por entre as grades do corrimão de madeira, sem tirar o dedão da boca.

- Oi - cumprimentou a mulher loura, usando um tapa-olho. - Posso entrar? Tá chovendo.

Osíris estendeu sua mão, a impedindo de entrar.

- Sabe que não vou deixar que você o veja, Patrícia - falou num tom sério. - Ele não pode saber da mãe que tem.

- E o que você tem de diferente da minha pessoa, Osíris? - indagou irritada. - Construímos tudo juntos e eu só te pedi mais um roubo! - gritou, aborrecida. - Temos um filho agora!

Os pingos da chuva molhavam o suéter azul claro e os fios loiros e quase brancos dela.

- Vou torrar cada centavo sujo com a cirurgia de retirada do tumor dele! - esbravejou, aproximando-se agressivamente da mulher.

Impaciente, ela cerrou os olhos.

- Mas não vou dar o gosto dele crescer entre ladrões - sussurrou com o rosto próximo ao dela. - Nunca quisemos isso pra ele, só que você esqueceu de tudo na sua fantasia de luxo podre e arrogante.

A loira abriu os seus olhos e logo viu uma gota de sangue escorrer do nariz dele e se misturou aos pingos de chuva.

- E você, caralho?! - indagou, irritada. - Já removemos duas vezes o tumor do Arthur, mas quanto tempo você vai durar e deixar meu filho para os meus cuidados?

- Isso nunca vai acontecer - respondeu a encarando, com um sorriso amarelo no rosto. - Eu sempre vou estar olhando para ele, pra cada passo do meu menino.

Ela inspirou, olhando-o impaciente.

- Isso é ridículo! Não precisamos ser inimigos, Osíris. - Deu um passo para trás. - Só preciso de você mais uma vez, de suas habilidades.

Ele olhou para a grama encharcada do jardim.

- Em quantas possibilidades eu morro? - perguntou, erguendo a cabeça e mirando para a lua entre as nuvens de chuva.

Sentiu os pingos atritarem com seu rosto e cerrou os olhos.

- Eu diria que uma para cada dez - respondeu a loira, confiante. - Tomaremos cuidado para que não aconteça. Não há anomalias gravitacionais, poderei prever tudo.

Dando uma risada cínica, ele a mirou.

- Como quando o caixa eletrônico estourou no seu olho? - indagou, provocativo.

- Vai à merda, defunto - disse a loira mostrando o dedo médio e lhe dando as costas. - Espero que definhe lentamente - desejou, ao sair.

Ela caminhou pela passarela de cimento entre o gramado verde, até chegar na calçada, atravessar a rua e entrar num Corola vermelho do ano.

WSU's RaijuOnde histórias criam vida. Descubra agora