Só no sumiço do meu pai, me dei conta da falta de uma figura materna. Sem ter para onde ir, fui parar num lar adotivo local. Não demorei muito para ser adotado, a procura nesses locais é sempre pelas crianças mais jovens.
Os meus novos pais eram um casal de São Paulo, a cidade cinza na qual me acostumei a viver, totalmente diferente da pequena e ensolarada Primavera. Tive de crescer numa selva de pedra, onde nascia o projeto da famosa usina nuclear da grande multinacional de tudo: Column Technologies.
Esse grande conglomerado internacional cresceu com um forte interesse nas pesquisas genéticas em medos da década de 1970, mas logo se expandiu para outros ramos. Foi quando criaram o mais eficaz sistema operacional de personal computers, em 1984.
Vieram ao Brasil no final da década de 1990, decididos a desbravar a produção de energia atômica. Eles até fariam isso nos Estados Unidos, mas as terras tupiniquins clamavam pela entrada de capital estrangeiro e, em troca, nem faziam questão de olhar com carinho para a mão de obra local.
Desde 1500, o governo sempre transformou esse país num puteiro, é assim que se faz dinheiro aqui. A cobertura do prefeito, o iate do deputado, o carango do fiscal e fica tudo na paz.
De tão despreparados, os próprios trabalhadores espalharam radiação pela cidade durante uma década. Até acontecer o pior, um acidente nuclear que tirou a vida de mais de oitenta pessoas.
Às vezes, eu acho que foi tudo proposital. Tenho certeza de que os geneticistas que fundaram a Column sabiam.
Sabiam das pessoas especiais.
Sabiam o que a exposição à radiação às ocasionaria.
Sabiam do sangue verde que correria nas veias dessas pessoas; para sempre.
Banco Federal da Cidade de Primavera
O bandido parou inerte, assustado ao ver diante dele um herói. Talvez fosse algo que ele não pôde prever. Com sua voz estremecida, para dificultar o reconhecimento, o Gladiador Azul alertou-o:
— Aí, Lula — chamou calmamente. — Deixa a escopeta no chão e joga a mãozinha pro alto.
O mascarado deu uma risada incrédula e se abaixou, fazendo-lhe o que foi pedido.
— O que tá acontecendo aí? — perguntou Aarseth no comunicador, preocupado. — A temperatura caiu muito.
Na hora de levantar-se e pôr as mãos para cima, sem demonstrar reações, não o fez. Ao invés disso, as extremidades dos dedos de sua mão esquerda, tocaram o piso da sala de espera e uma camada de gelo se formou indo em direção ao Raiju.
Mudando rapidamente a direção, esquivou-se do rasteiro golpe, que decerto o congelaria.
— O que é isso? — questionou o herói, percebendo o vapor sair de seus lábios.
— Isso é zero grau Celsius e descendo mais! — respondeu o irmão.
Toda a sala estava coberta por uma névoa e a escopeta já estava novamente nas mãos do bandido. Ele desferiu um disparo, fazendo o estrondo ecoar até o som parar lentamente de maneira incomum, acompanhando o movimento do projétil, que desacelerou quase pausado no ar.
VOCÊ ESTÁ LENDO
WSU's Raiju
AdventurePara todo velocista o tempo deveria ser relativo, exceto para Arthur. Seu tumor cerebral faz com que cada uso de sua supervelocidade seja infinitamente doloroso e, somando isto ao fato de estar cercado de pessoas lentas demais para ele, há apenas o...