CAPÍTULO 4- O ASSALTO À JOALHERIA

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_O lance é o seguinte, Scoth Lee: você distrai o vigia enquanto a gente faz o assalto e quando terminar tudo, dividimos os lucros por três, entendeu?_combinou Lauro Prestor segurando ambos os lados da cabeça de Armando, como se ele tivesse dificuldades de entender instruções.

_Sei não, Lauro...e se alguém me reconhecer?_Armando ainda estava apreensivo.

Lauro retirou uma peruca loura de uma sacola e a colocou no colega:

_Nossa, cara! Nem eu estou te reconhecendo! Taí: quando se cansar de ser puto, poderá ser uma putinha, Scoth Lee._gargalhou._Ficou gostosa!

Mais alguns retoques e Armando reconheceu que se visse uma foto dele naquela montagem, também não se reconheceria.

_Por isso é bom ter trabalhado na montagem de Drag Queem._informou Lauro satisfeito com o trabalho que fizera.

_O assalto será quando?_perguntou Armando em dúvida.

_Amanhã à noite, por quê? Vai desistir? Amarelar?_desafiou o outro.

_Preciso de mais um tempo pra pensar._confessou.

_Ok. Se não me ligar amanhã até às dez, passo a vez pra outro cara. Se você não for e alguém der com a língua nos dentes, Zambuja te apaga, entendeu bem?

Lauro foi embora deixando o enfermeiro sentado na escada onde conversavam.

Armando baixou a cabeça perguntando-se como chegara naquele ponto de decadência: perdera o crédito na praça, estava na mira do primo Zeca, do Gordo...o corpo já dava sinais de que não aguentaria tantos programas.

Já era madrugada quando chegou em casa e descobriu uma nova desgraça: a porta de seu apartamento estava arrombada e haviam levado tudo de valor que ainda lhe restava. Como sempre, nenhum dos vizinhos tinha visto nada.

No outro dia, às dez da noite, estava parado em frente à joalheira, observando o homem que estava fazendo a segurança.

Atravessou a rua e puxou conversa com o desconhecido de meia idade e de aparência truculenta. Jogou todo o seu charme para convencê-lo a lhe dar uma chance de fazer um boquete que garantia que seria inesquecível. Combinou que se ele gostasse, poderiam marcar encontro pra mais tarde.

O enfermeiro chegou a sentir um peso na consciência ao pensar que aquela fugidinha para um beco próximo da joalheria renderia uma demissão ao provável exemplar pai de família.

Ele notou que a luz do poste lhe caiu em cheio no traseiro nu, quando o policial puxou as suas roupas para baixo. Ao contrário do que haviam combinado, o homem o pegou com força e o jogou de encontro a uma parede, começando a foder com ele.

Quando o alarme tocou, Armando se viu jogado para o lado com violência, enquanto o policial caía no chão já vestindo as calças com dificuldades.

_Mas que maldita hora para este alarme disparar!_blasfemou talvez rezando para que fosse um defeito no sistema.

Armando o viu sair correndo para um lado, enquanto o enfermeiro saía correndo para o outro lado.

Já se encontrava a duas quadras do local do assalto, quando ouviu as sirenes.

No outro dia, logo de manhã, comprou um jornal e foi direto às páginas policiais: lá estava a notícia do assalto e o anúncio de que o vigia fora baleado e morrera a caminho do hospital. A polícia não tinha pistas dos assaltantes. Alguém roubara a fita com as imagens. O valor das joias roubadas era altíssimo!

Armando esperou que Lauro o procurasse naquele dia e ele não apareceu. Passaram-se dois dias e no terceiro descobriu que ele tinha viajado.

Não acreditava que havia sido enganado novamente!

Sem o emprego no hospital e sendo obrigado até a diminuir o valor de seus atendimentos, pois sua decadência já lhe rendera a fama de só pegar os restos, ele viu o colchão descer as escadas do prédio onde morava. Felizmente, era um bom colchão e o dinheiro completou a mensalidade da mãe.

Resolveu procurar Zambuja. Talvez a sua parte no assalto estivesse com ele, afinal.

Armando achou que enlouquecera ao interpelar o homem daquele jeito:

_E aí? Não tem nada pra me entregar? O Lauro sumiu...

_O Lauro e a fita de segurança._o homem mal encarado falou._Se aquele miserável pensa fazer chantagem comigo, pode avisar que ele será um homem morto, Scoth Lee!

-Pois é, Zambuja...acontece que eu perdi o contato com ele e pensei que você tinha ficado com a minha parte no assalto...

_Do que você está falando?_o homem pareceu rosnar com os olhos irados.

Armando sentiu um arrepio na espinha pensando se o assassino atiraria nele, como fizera com o vigia.

_A gente teve que apagar o vigia, quando era sua função cuidar dele._apontou-lhe o dedo ameaçador.

_Mas o alarme disparou..._gaguejou o enfermeiro humildemente.

_Sem papo, veado. Se não fosse o puto do Lauro levar a fita com as imagens, talvez a gente tivesse preso agora, vadia. Não tenho dívida com puta que amarela no meio de um assalto. E bico calado! Agora, sai de fininho e desinfeta daqui!

Armando obedeceu o marginal sem pensar duas vezes.

Mesmo tendo descoberto que fora passado para trás mais uma vez, teve que reconhecer que Lauro evitara a sua prisão, levando as filmagens.

Naquela noite, ouviu alguém batendo na porta do seu quarto, no prostíbulo. Um outro colega lhe entregou o celular.

_Não se acostuma não, Scoth Lee._o rapaz não disfarçou a contrariedade.

A voz de Lauro o encheu de esperanças:

_Seu veado! Como some assim com meu dinheiro?

_Calma, Scoth Lee. Vamos fazer um acordo: me entrega a filmagem que eu te dou a sua parte.

_A filmagem? Mas Zambuja disse que estava com você!_assustou-se.

_Comigo? Não! Eu saí correndo quando ouvi o tiro e nem olhei pra trás.

"Será que Zambuja estava enganando os dois?" , pensaram Lauro e Armando ao mesmo tempo.

Armando ficou olhando para o celular, quando Lauro desligou. Sabia que ele nunca mais ligaria.

Concluiu que tinha sido passado pra trás uma segunda vez. O sumiço da fita o deixou apreensivo, porém.

De repente, depois de tanto pensar, chegou à conclusão de que poderia ser desculpa da polícia, já tão desacreditada por toda a população, pra não terem prendido os assassinos.

Era isso! Não havia fita alguma! Quem, além dos três, teria interesse naquela filmagem?

Preferiu pensar que a polícia mentira, realmente. Já tinha problemas suficientes com o que se preocupar. Como conseguir mais dinheiro, por exemplo.

GÊMEOS: ENTRE A LUZ E A ESCURIDÃO/ versão light-não contém cenas de violênciaOnde histórias criam vida. Descubra agora