GÊMEOS: ENTRE A LUZ E A ESCURIDÃO/ versão light-não contém cenas de violência

CAPÍTULO 6-ALGUÉM SUSSURRA NA ESCURIDÃO

Scoth Lee arrepiou-se como se aquela voz viesse do outro mundo.

Encolheu-se rapidamente na cama, encostando-se na cabeceira e perguntou, assustado:

_Quem está aí?

O quarto cliente juntou as próprias roupas e ficou em pé, como se esperasse ordens.

_Me espere lá fora._disse a voz misteriosa.

O homem, que outrora assumira um semblante feroz na cama, agora parecia submisso. Assentiu e saiu em silêncio.

Scoth Lee pegou o roupão no chão, mas se atrapalhou e deixou ele cair novamente.

_Não se assuste. Só quero conversar._disse a voz oculta pelas sombras de um canto do quarto.

Armando ficou irritado:

_Quem é você? Ande! Mostre esta sua cara de voyeur*, seu safado! Foi por isso que pagou adiantado, não foi? Gosta de ficar apenas observando e ainda deve estar se masturbando aí neste canto!

Armando se dirigiu até o interruptor de luz, mas a voz o deteve:

_Não acenda a luz!

Ele parou sem ação: será que o outro entraria, caso o homem misterioso o chamasse? Poderiam dominá-lo facilmente, pensou Scoth Lee.

_Você deve estar com fome. Tem comida sobre o móvel.

Ele olhou para o móvel, imaginando quando fora que ele colocara aquela bandeja ali.

Havia frutas, água e bombons.

Sentiu o estômago doer vazio.

Armando voltou lentamente e se serviu.

Aquela gentileza fez com que ele baixasse um pouco as defesas. Talvez o homem realmente fosse um voyeur tímido, apenas.

_Obrigado._agradeceu o prostituto.

O silêncio reinou durante o tempo em que ele comia e bebia com voracidade, sentindo as forças voltarem aos poucos.

_Você é muito bom naquilo que faz...muito resistente também.

Armando não respondeu.

_Pensei que não aceitava um quarto cliente, Scoth Lee...ou devo chamá-lo de enfermeiro Armando?

Se fosse em outros tempos, talvez ele tivesse se assustado mais por sua identidade ter sido descoberta, agora, não se importou. Tinha problemas mais sérios com que se preocupar.

_Você decide. O dinheiro é seu._disse Armando secamente.

O silêncio novamente tomou conta do quarto, enquanto Armando tentava ver o rosto de quem o observava naquela experiência incômoda.

Sabia que alguns garotos do Gordo aceitavam voyeurs, mas ele nunca aceitara, justamente por se sentir incomodado pela possibilidade de alguém surpreendê-lo quando ele estivesse distraído.

_Olha, cara, fale logo o que você quer, porque eu estou morto de cansaço e quero ir pra casa._disse finalmente.

_Pagarei a sua hora extra, rapaz. Só preciso lhe fazer algumas perguntas.

_O que você quer saber?_disse finalmente desistindo de ver a face do homem.

Talvez por estar com os olhos já cansados não conseguisse enxergar direito naquele quarto na penumbra.

_Já sei quase tudo sobre você, Armando Scoth Lee. Sei que o seu namorado lhe roubou....sei que está devendo dinheiro para o dono da casa e também para a dona do seu apartamento...sei que perdeu o emprego de enfermeiro no hospital... sei que a sua mãe está internada numa clínica... que você teve o apartamento invadido...