CAPÍTULO 3-ARMANDO NA MISÉRIA!

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Para desespero de Armando, Edgar não ligou. Finalmente, ao ligar para aquele número, foi informado por uma mulher que o celular fora vendido pra ela.

Agora, depois do roubo consumado, Armando se lembrou de atitudes suspeitas que haviam sido negligenciadas por ele. Ele reconheceu que a pessoa só vê aquilo que quer ver.

As peças de roupas, perfumes e objetos que haviam desaparecido eram justamente aqueles que Edgar costumava pedir emprestado e demorar dias, semanas para devolver.

Os dias foram passando e logo o enfermeiro teve que pedir mais dinheiro emprestado ao dono do prostíbulo.

Pagou as mensalidades atrasadas da clínica da mãe e vendeu tudo que podia para pagar contas e mais contas que começaram a chegar: supermercado, lojas, os cartões de crédito haviam estourado, o cheque especial com empréstimo no limite máximo.

Armando tentava dormir para, pelo menos, conservar a boa aparência e não assustar os pacientes do hospital e mesmo os seus clientes no prostíbulo. Mas, com a cabeça tão cheia de problemas, não conseguiu manter o alto astral e chegou a se irritar com três pacientes do hospital, o que lhe rendeu duas semanas de suspensão, o que significada desconto no salário.

Nos quinze dias que ficou em casa, atendeu no prostíbulo todos os dias. Pegava todos os clientes rejeitados pelos colegas e, durante o dia, dormia sob o efeito de remédios.

Esgotado, quando voltou ao hospital após a suspensão, foi flagrado negligenciando normas de higiene ao se esquecer de colocar as luvas em um procedimento e depois quase trocou as injeções que aplicaria em dois idosos. Demitido por justa causa e sendo aquele um hospital tão importante, nem tentou apelar.

Mais um mês chegou ao fim e mais contas chegaram. Cancelara todos os cartões, fechara a conta no banco, mas tinha as despesas no prostíbulo e na clínica da mãe e as cobranças do dono do prostíbulo.

Sem ter onde mais conseguir dinheiro, Armando procurou um dos garotos que trabalhavam com ele: Lauro Prestor.

_Scoth Lee, que honra...não posso dizer que prazer, porque..._o rapaz pegou a mão direita do enfermeiro e o fez girar._Você está na capa, rapaz! Já deu parte na polícia?

Armando franziu as sobrancelhas, sem entender a pergunta. O outro continuou:

_Porque roubaram a sua bunda, veado! Onde está aquela bunda linda que já me roubou todos aqueles clientes? Que decadência..._o belo negro continuou destilando o seu veneno motivado por rivalidades antigas.

Desesperado do jeito que estava, Armando ouviu tudo sem protestar, até que o outro esgotou o seu repertório e se sentiu satisfeito.

_Preciso urgente de um extra, Lauro. Você já deve ter ficado sabendo que o meu namorado Edgar me roubou e me deixou cheio de dívidas.

_E quem não sabe? Oh bicho pra ser fofoqueiro e sambar na desgraça do outro é o Leopoldo Cintra! Sem contar que o Zélio Bombom não fica atrás. Eles fizeram o serviço completo e espalharam a sua desgraça pra todo mundo!_riu maldoso.

Armando poderia ter apontado o seu interlocutor como um dos fofoqueiros do prostíbulo, mas não pode.

_Aliás, uma dica: se continuar a pegar todos os restolhos daqui, Scoth Lee, daqui a pouco vai ficar mal visto entre os fregueses._piscou.

Lauro estava certo: pegar todos os caras rejeitados pelos outros era o primeiro sinal de decadência de um prostituto.

_Pois é o que eu disse, Lauro: tô na pior, cara e não estou podendo recusar nada! Me disseram que era pra olhar com você...me dá uma forcinha, vai?_implorou.

_Bom, pra resolver esta sua parada tem que ser grana alta, grana grossa, entende? Tipo um assalto a banco ou joalheria._sussurrou cúmplice.

Armando levou um susto:

_Tá louco? Assalto não! Tô fora da rota da polícia!_rejeitou.

_Ah, é...esqueci: tem o lance da sua mãe que é ex-presidiária.

Armando sentiu uma dor no estômago ao imaginar que todos estavam falando também de sua mãe, mas não pode dizer nada.

Realmente, quando chegara naquele serviço, foi iludido pela ideia de que todos ali eram praticamente irmãos e que todos queriam ajudar uns aos outros. Infelizmente, quando o valor de Armando subiu na casa e ele pode conseguir bons clientes, nasceram a inveja, a competição e as suas mágoas viraram assunto nas rodinhas, agora que ele estava mal.

_Pois é...não dá pra ser de outro jeito? Não posso me envolver com a polícia, cara. Me arrume algum emprestado, vai?

_Opa, opa, opa...falou a palavra proibida: emprestar. Lauro Prestor não é banco e nem agiota e como eu sei que você já está devendo até o rabo para o Gordo...ou dá cobertura em um assalto ou cai fora!_o rapaz o olhou com desdém.

Armando analisou as suas opções: ser preso devido às dívidas deixadas por Edgar...ver a mãe ser despejada...enfrentar o Gordo...enfrentar o primo de dona Suzana...

_Como é que é isso? Dar cobertura?_perguntou.

Lauro o olhou com um sorriso indecente:

_Não é este tipo de cobertura que você está pensando, bicha...só pensa em sexo? Por isso está magro deste jeito!

Armando teve que aguentar calado mais aquele deboche. Percebeu que o dono do prostíbulo lhe fazia sinal indicando um homem bem mais velho do que ele, barbado e um antigo conhecido da casa que o esperava pra subirem.

Lauro seguiu os olhos de Armando e visualizou o homem. Fez uma careta:

_Ah, não, Scoth! Vai encarar o dentadura? Será que ele já deu um jeito de grudar a merda na boca ou continua deixando a meleca cair em cima da gente? Sem contar que ele não toma banho pra vir e costuma vir fedendo de urina.

Armando ficou imaginando se Lauro já teria pegado aquele homem alguma vez ou se alguém tinha lhe passado a ficha completa daquele cliente.

_Tu tá numa pior mesmo, cara. Façamos o seguinte: se você sobreviver a esse babão, me procure mais tarde, ok?! Mas tome um banho antes de me procurar._fez cara de nojo.

Armando sentiu inveja ao ver o rapaz novinho e bem vestido que subiu com Lauro. Lembrou-se dos bons tempos em que ele também tinha clientes assim.

Subiu as escadas sentindo a mão do babão em sua bunda. O pior foi notar que ele estava bêbado. Esperou que o vovozinho safado não vomitasse em cima dele.

GÊMEOS: ENTRE A LUZ E A ESCURIDÃO/ versão light-não contém cenas de violênciaOnde histórias criam vida. Descubra agora