CAPÍTULO 19-ARMANDO SUBMISSO

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Armando acordou sentindo o perfume da mãe.

Imaginou que havia sonhado com ela e, por isso, continuou com os olhos fechados, apenas aspirando aquele perfume de amor, carinho, proteção.

Quando finalmente abriu os olhos, não reconheceu o forro azul claro do teto, as paredes brancas, um quadro de Nossa Senhora na parede...Lembrou-se que havia um quadro de Nossa Senhora na parede de sua casa, quando era criança, bem ao lado de uma foto de sua mãe com ele no colo.

Sua mãe costumava contar histórias de santos cristãos a ele. Ela era católica e o levava todas as manhãs de domingo à missa, até que o pai disse que quem tem fé, não precisa ir à igreja rezar, reza em casa. Aos poucos, para não contrariar o marido, dona Célia foi deixando de seguir a própria religião.

Armando se lembrava da mãe apontar para aquelas fotos onde Nossa Senhora carregava o menino Jesus e dona Célia carregava Armando e aí, ela dizia:

_Está vendo, filho? A mamãe de Jesus cuida dele e a mamãe de Armandinho também cuida do seu filhinho._dizia abraçando o filho com força e Armando sentia que ela o protegeria do mundo.

Assustou-se ao ouvir vozes do outro lado da porta. Não demorou muito para identificar as vozes da mãe e de Rodrigo.

O enfermeiro jogou os lençóis e saiu rapidamente da cama, se lembrando que não dissera ao patrão que a mãe não sabia que ele era prostituto.

Abriu a porta devagar.

_Olhe ele aí, senhor Rodrigo. Dormiu bem, Armandinho?_disse a mãe o chamando para um beijo.

Ele a beijou com carinho.

_Sim, minha mãe querida. Sabe como amo este colo!

A mãe fez uma cruz com o polegar na testa do filho, como sempre fazia quando ele era criança, lhe dando a bênção.

_A mamãe de Jesus cuida dele e a mamãe de Armandinho também cuida do seu filhinho.

Armando juntou as mãos da mãe nas suas e as beijou com adoração.

_Estou contando para o seu patrão aquela vez em que você dormiu no meu colo e eu não tive coragem de chamá-lo para ir à escola. Seu pai ficou uma fera! Acredita que mesmo hoje ele tem ciúmes do Armandinho, senhor Rodrigo?

_Ele tinha ciúmes, mamãe._corrigiu Armando.

_Olha aí, senhor Rodrigo. Meu filho ainda não acordou._sorriu feliz._Não, filho, os ciúmes dele ainda não acabaram. Ontem mesmo, ele chegou e me viu tricotando um cachecol pra você e disse que eu continuo te mimando, como se mimar um filho de ouro como o que eu tenho fosse algo errado, senhor Rodrigo.

Armando ficou triste: a mãe ainda vivia fora da realidade.

_É claro, mãe.

_Então você agora é enfermeiro do senhor Rodrigo?_perguntou dona Célia servindo o café ao filho.

_Do irmão dele, mamãe._Armando evitou olhar para o patrão, enquanto comia.

_Espero que ele se pareça com o senhor Rodrigo, filho. Que homem bonito e bom, Armandinho! Acredita que me pediu pra fazer uma lista com as coisas que você gosta de comer?

_Verdade?_perguntou fingindo entusiasmo._Nossa, mamãe, a senhora nem imagina o quanto os dois se parecem! Eles se parecem em tudo...fica até difícil separar os dois e eu me confundo a todo momento.

Armando ainda ignorava a presença de Rodrigo.

_Que bom, filho. Tome, senhor Rodrigo. Leve a lista de coisas que o Armandinho gosta, porque ele está muito magrinho. Alerte a sua cozinheira que ele não gosta da nata no leite e que ela deve separar os talheres quando cozinhar peixe ou bacalhau, porque se ele sonhar que a comida foi contaminada, ele nem almoça. E olhe se não é isso que provocou estas marcas vermelhas no corpo do meu filho...até os olhos estão vermelhos, senhor Rodrigo...deve ser alguma alergia, Armandinho.

GÊMEOS: ENTRE A LUZ E A ESCURIDÃO/ versão light-não contém cenas de violênciaOnde histórias criam vida. Descubra agora