JOÃO PEDRO (maratona/1)
Até os mais fortes tem sua fraqueza. Se não é algo é alguém. Minha fraqueza não é muito alta, tem longos cabelos pretos e enrolados, além de um par de olhos castanhos que brilham tanto quanto seu sorriso.
Até os mais valentes que não temem a medo algum possuíam alguma fraqueza. Deixei de crer em Deus ou em qualquer outro ser divino no ano de 2014. E ainda assim, lembro-me de uma história bíblica que eu adorava ouvir pela minha mãe antes de eu ir dormir. A história do Sanção, bravo e forte, que tinha como sua fraqueza seus cabelos. Até onde me lembro, ninguém sabia do seu segredo até o dia em que ele o revelou para Dalila, sua amada. Dalila que o rodeava tentando descobrir sua fraqueza, não pensou duas vezes e cortou o cabelo de seu amado.
Sanção com certeza não ouvia racionais, se ouvisse não cairia nessa roubada, Racionais já dizia, "a confiança é uma mulher ingrata, que te beija, e te abraça, te rouba e te mata...". Os caras são mais conselheiros que site de signos.
E eu não era diferente de Sansão, assim como ele eu também tinha uma fraqueza, e ela era gata pra caralho. Seu nome é Ana Clara. A conheci em 2016, mas ela só me notou esse ano.
Voltando a 4 anos atrás, irei explicar melhor como tudo isso aconteceu.
Flashback on/ junho de 2014.
Era sábado, voltava do shopping com a minha mãe, eu tinha completado 14 anos na quinta-feira, mas o meu pai teve que viajar a trabalho então deixamos para comemorar no sábado. Ao deixarmos o shopping, compramos um bolo no supermercado para batermos os parabéns, meu pai tinha ligado avisando que estava chegando, eu e mamãe nos animamos, pois enfim iríamos comemorar meus 14 anos em família e matar a saudade do papai.
Ao chegarmos na porta da nossa casa, enquanto a mamãe abria o portão eu pegava o bolo no carro. E naquele instante, o dia que era para ser um dos mais felizes de nossas vidas, se tornou o pior.
Tudo aconteceu tão rápido, mais foi o bastante pra marcar minha vida.
Duas motos encurralaram a mamãe, ela se assustou e no mesmo instante me lançou um olhar, como se já soubesse o que iria acontecer.
— Filho, entra no carro.- ela sussurrou, enquanto dois dos caras que estavam na moto desciam. Eu não entendia coisa alguma, estava perdido. Só me dei conta da tragédia quando vi a primeira bala atingir mamãe, seus olhos continuavam presos sobre mim, às lágrimas desciam de seus olhos junto com as minhas, eu sentia tanto medo.
O medo de perder a mamãe fez o meu corpo permanecer congelado e os meus olhos presos ao dela.
Naquele sábado, eu não perdi apenas a pessoa que eu mais amava no mundo, mais também perdi a mim mesmo. Morri junto a ela naquela calçada vermelha.
Foram 9 balas, o maldito nove que cercava minha vida. Minha mãe faleceu na quarta bala, quando atingiu seu pulmão, já havia atingido o estômago e seus braços. Quando eles se deram por vencido, foram verificar se ela realmente havia morrido. Um deles a olhou com desprezo, virou seu corpo com o pé e se abaixou verificando sua respiração.
— A vadia tá morta.- disse o mesmo.
— Tem certeza?- perguntou o autor dos disparos.
— Tenho, essa já está no colo do capeta.- todos ririam, como se o corpo estirado aos seus pés fosse uma piada.
Era a minha mamãe.
— Qual a demora? O chefe tá impaciente.- presumi que o chefe fosse o cara que tinha ficado na moto observando tudo. Ele tragava um cigarro, e me olhava friamente.
— Vai deixar o presunto aí?
— Larga aí, certeza que tá morta essa desgraça?
— Tá porra, quer que atire na cabeça pra acabar com essa palhaçada?
— Não. Bora!
Eu estava jogado no chão, chorava feito um recém nascido que acabara de nascer, ainda não acreditava em tudo o que eu tinha visto, por dentro eu pedia para Deus que aquilo não passasse de um pesadelo, e se fosse verdade que ela tenha sobrevivido. Eu tinha esperanças, e fé em Deus, sabia que ele não deixaria uma mulher tão boa quanto ela, morrer de uma forma tão cruel.
— Aí Jacaré, o menino.- senti seus olhares sobre mim. Um deles caminhou em minha direção já destravando sua arma, mas o tal do chefe o parou.
— Ele viu nossos rostos.
— Deixa o moleque, ele viu tudo e vai contar pro papai de merda dele.
— O pai dele vai colar, tá maluco porra.
— Abaixa o tom! Deixa ele colar eu pego ele também.- todos riram, como se tivessem entendido um tipo de código entre eles. Ao irem embora, o chefe deles me olhou fundo, e eu não tirei meus olhos dele, e foi naquele momento que eu jurei matá-lo, todos eles. Ele ria da minha cara, ria como se aquilo fosse um espetáculo de um circo. Minha dor havia se transformado em ódio, e meu desespero em vingança.
Ao perceber que eles já tinham ido embora, corri até a minha mãe ensanguentada naquele chão quente. Gritei socorro por diversas vezes, mas ninguém me ouvia. Era como se eu estivesse gritando para um imenso vazio.
Eu sabia que Deus me ouviria, mamãe era devota demais a Ele, sempre me dizia que mesmo que o mundo se voltasse contra mim, Deus permaneceria ao meu lado.
— Deus por favor, não leva a minha mãe. Por favor pai, não nos abandona.- minhas lágrimas rolaram sobre seu corpo, ainda negando aquela realidade. — DEUS POR FAVOR!- eu gritava para o dono da minha fé. — Mãezinha, mãe por favor mãe, levanta, vamos comer meu bolo de aniversário. Mamãe eu não consigo sem você.
Não me dei conta da chegada da ambulância, os para médicos me afastavam, e eu gritava pedindo ajuda deles. Meu pai chegou logo em seguida, e eu não conseguia dizer nada, além de chorar.
Alguns minutos depois, anunciaram a morte da minha mãe. E para mim aquilo era inaceitável, me negava a acreditar no que falavam.
— Filho eu preciso que você tenha calma, eu estou aqui filho.- meu pai dizia, enquanto tentava me abraçar. Corri do seu abraço, e entrei em casa indo direto para meu quarto. Procurava pelo meu terço nas gavetas, quando o encontrei me ajolhei no chão e rezei, orei para que Deus trouxesse minha mãe de volta. Passei o resto daquele dia chamando por Deus, implorando para que Ele fizesse um milagre, mas Ele não me ouvia.
Acordei no domingo com meus joelhos ralados, mas a dor não me importava. Nada ardia mais que o meu coração, do que a falta da minha mãe fazia.
Em seu velório me fechei para todos. Não queria ouvir suas condolências, ainda não conseguia acreditar. Sentia-me tão morto por dentro, como se eu também tivesse morrido naquele dia.
Ao longo do tempo tudo só piorou, meu pai se distanciava de mim cada vez mais se enterrando em seu trabalho. Eu quase entrei em depressão, não saía do quarto, tentava de toda forma bolar um plano para achar os assassinos da minha mãe e fazer justiça. Quando tive as primeiras pistas mostrei para o meu pai, mas ele me ignorou e mandou eu ficar longe. Por um tempo ele me assegurou de que a justiça estava cuidando do caso, até que alguns meses depois ele foi fechado. Briguei feio com meu pai quando havia descoberto, não entendia o porquê dele não lutar pela justiça da mamãe. Revoltado, saí sem destino de casa. Nesse mesmo dia, acabei conhecendo uma galera sinistra, fiz "amizade"com alguns deles, e me aproveitei para ir criando contatos. Tive minhas primeiras experiências com drogas, com bebidas até mesmo mulheres ali. Um tempo depois, eu já era o mais querido de todos, organizava os rachas, dava contato para drogas, embora eu não usasse, as primeiras experiências que tive foram também as últimas. Minha vida já era uma droga, não precisava dessa merda.
Embora a realidade sem a mamãe doesse, eu sabia que iria desaponta-la ainda mais se me envolvesse com essas merdas.
Ao passar dos dias eu descobri o que tanto queria, e enfim tinha valido a pena me juntar com aquela gente. Havia descoberto o nome de um dos assassinos da minha mãe, e o melhor de tudo. O endereço também veio junto.
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Titânio: destinados por Deus
Teen FictionSEGUNDO LIVRO DA SAGA TITÂNIO. Essa história contém : Drogas Palavras obscenas Linguagem inapropriada para menores de 18 anos Sexo Violência. Se você curte um clichê barato, do famoso bad boy e da mocinha ingênua, então irão gostar desse livro. A...