Capítulo 3

14 1 0
                                    

A noite na casa do Matt não poderia ter sido melhor. Histórias de infância, piadas e risos a todo momento. Ao final de tudo, Matt me levou até minha casa e quando estava prestes a abrir a porta, ele segurou firme minha cintura e me beijou de um modo novo, mais feroz, eu retribui da mesma forma, quando o ar faltou em nossos pulmões nos separamos e colamos nossas testas.

– Vamos para o cinema amanhã? - perguntou ele ainda um pouco ofegante.

– Claro - sorri e dei-lhe um selinho.

Um pouco antes de fechar a porta mandei um beijo no ar para ele, que já se afastava. Dormi como um anjo aquela noite, assim como vinha sendo a uma semana. Na tarde do dia seguinte me arrumei o mais básica possível, com uma calça jeans comprida, um moletom preto com uma caveira pintada exatamente em meu abdômen, pus meu velho e preferido Vans branco, soltei meus cabelos que faziam cachos nas pontas, e passei apenas um batom vermelho, meu favorito.

Matheus me buscou e fomos ao cinema, compramos os ingressos para um filme qualquer e fomos comprar pipoca e refrigerante. Na fila de entrada para a sala do filme, ouvi uma gritaria irritante e logo depois o nome dele sendo chamado. Olhei na direção do barulho e vi três garotos rindo, não entendi o motivo, mas ao ver o rosto sorridente de Matt presumi que os conhecia.

– Cara, você vai assistir esse filme? - um dos garotos, que tinha um topete engraçado, perguntou.

– É o que parece né? Idiota - riu.

– Jumento.

– Ei, quem é a belezura? - indagou um garoto alto, que não tirava os olhos de mim.

– Ô, tira o olho - Matt falou me abraçando de lado.

– Ela é sua namorada? Que gata, irmão - disse um baixinho de aspecto latino.

– Ela é sim - respondeu com um sorriso sapeca no rosto, parecia até ter orgulho do que falava.

– Matt, quem são esses? - perguntei, curiosa.

– Ah que indelicadeza nossa, eu sou Gabriel - respondeu o garoto alto.

– Sou Carlos - o baixinho latino disse e apertou minha mão.

– Lucas, prazer - falou o de topete.

– Eles são meus amigos de infância, Kat.

Apresentações a parte, assistimos ao filme todos juntos. Os garotos faziam sempre uma boa brincadeira, que me arrancava gargalhadas e deixava o restante das pessoas no cinema com raiva do barulho. Quando o filme acabou, fomos cada um para um local diferente, e Matt é claro, insistiu em me deixar em casa. Durante o percurso ele estava calado, agiu de modo diferente, parecia estar chateado. Já em frente ao meu jardim, decidi perguntar qual era o problema.

– Aconteceu alguma coisa, amor?

– Não - respondeu um pouco grosseiro e virou o rosto - vou para casa, boa noite.

– Você não vai para casa antes de me dizer o que foi que houve - disse agarrando seu braço.

– Quer que eu diga? - perguntou alterando o tom de voz - Okay, vou dizer, você deu mais atenção aos meninos que a mim, e quer saber, isso me incomodou, se quer ficar com um deles fique à vontade, não sou eu quem vai lhe impedir - respondeu praticamente gritando e soltando-se de mim.

– Matheus volta aqui - tentei segurá-lo, ainda não acreditando no que ele estava falando.

– Me solta, Katrina - disse sério, com o rosto vermelho e os olhos marejados.

– Não faz isso - implorei.

– Tchau.

Ele se foi sem sequer olhar para trás, pisando com tanta força que parecia querer deixar buracos no chão. Fiquei na porta de casa sem saber como reagir àquilo, não parava de pensar naquelas palavras. Aquilo me magoou ao ponto de me fazer chorar, como era possível que ele tivesse tão pouca confiança em mim. Não consegui dormir e passei o tempo todo só deitada, olhando para o nada imaginando se Matheus ia perceber o quanto isso não fazia sentido.

O sol bateu em meu rosto me despertando para a hora, e me dei conta de que realmente passei a noite em claro, com um aperto no coração capaz de esmagá-lo. Minha mãe bateu na porta de meu quarto, pedindo para entrar, eu não queria que ela visse minhas olheiras e quisesse investigar o que tinha acontecido, mas mesmo sem permissão ela entrou, e parecia mais preocupada que o normal.

– Não vai à escola, querida?

– Eu preferiria ficar em casa, não estou me sentido bem – respondi mordendo o lábio.

– Isso tem a ver com o piti ridículo que Matheus deu na porta de casa? - falou sentando na cama.

– A senhora escutou? – arregalei os olhos.

– Lógico, mas não quis me intrometer. Matheus foi imaturo, mas não se preocupe porque ele vai voltar atrás...apesar do ciúme bobo, ele não é idiota de perder um sentimento bom desse por nada.

Ela sorriu e beijou o topo da minha testa, logo depois saiu de meu quarto. Havia algo estranho no tom de voz da minha mãe, como se ela estivesse aflita, preocupada, e todos os meus sentidos ficaram alerta, com medo dessa atitude tão parecida com a mesma de quando ela soube que íamos nos mudar.

O latejar de minha cabeça irritava a mim mesma, doía muito. Meus ouvidos estavam tão sensíveis que ouvi os passos pesados de alguém nas escadas, ao que me pareceu eram duas pessoas. Se eu pensava que escutar minha mãe já era ruim, imaginei escutar minha mãe e meu pai, e dupliquei o terror daquela situação.

– Katrina? - mamãe bateu na porta.

– Me deixa dormir, mãe.

– Você tem visita - insistiu.

– Não quero ver ninguém - falei irritada.

– Nem mesmo a mim?

Congelei, era mesmo a voz doce que me deixava tão perto da paz absoluta?

– Matt? - em um milésimo de segundo fiquei de pé e abri a porta. Lá estava ele e aqueles olhos verdes que eu tanto admirava.

– Oi, Kat - respondeu ele e sorriu.

– Porque voltou? – perguntei irritada e sentindo as pernas tremerem de nervosismo.

– Se acalma. Quero conversar com você, pode ser? - disse segurando minhas mãos trêmulas.

Balancei a cabeça positivamente. Minha mãe desceu as escadas e ele entrou em meu quarto.

– Posso fechar a porta? - perguntou.

– Aham.

– Kat, me desculpa...

– Você desconfiou de mim - interrompi.

– Eu estava com ciúme...

– Isso não é motivo para nem querer conversar comigo - interrompi novamente.

– Me escuta, tá? No momento esse é o menor dos nossos problemas - seus olhos ficaram marejados.

– Como assim? - indaguei confusa.

– Kat, você vai se mudar - ele respirou fundo, deixando as lágrimas escorrerem - vai se mudar...do país.

Amor sem fronteirasOnde histórias criam vida. Descubra agora