Depois da cerimônia seguimos para um amplo salão que se localizava ao lado da igreja. Estava todo ornamentado em branco e dourado, e os recém casados ficaram recebendo as pessoas uma à uma.
De repente Bruna pediu licença e saiu de perto, imaginei que fosse ao banheiro, mas a vi se esgueirar por entre os convidados e sair do salão. Achei estranho e pensei que estava acontecendo algo, por isso fui atrás dela. Encontrei-a no jardim da igreja, estava em pé apoiando-se em uma árvore. Respirava fundo e estava pálida, pensei que estivesse prestes a desmaiar. Caminhei até ela com passos rápidos, e as folhas secas ao chão me denunciaram. Ela virou e fitou-me com seus olhos marejados.
– Bruna, o que houve? - cheguei o mais próximo possível dela. Seu vestido tinha algumas folhas presas na calda.
– Nada, Kat, nada. - respondeu escondendo o rosto.
– Houve alguma coisa, não é possível. - continuei, pensando alto.
– Não é que... - ela hesitou por um instante, e depois franziu os lábios. - Estou passando pela TPM, e casamentos me deixam emotiva, então...
– Sério? Na noite de núpcias?
Ela fez uma careta e afirmou com a cabeça. De repente se curvou e fez força com a garganta, como se fosse vomitar. Corri até mais perto e segurei seus cabelos ondulados acima da cabeça, longe do rosto.
– Eu...eu vou chamar Lucas. - quando fiz menção de ir, uma de suas mãos agarrou a minha.
– Fique, estou bem. - respirou fundo e ajeitou-se.
– Você...ia mesmo vomitar? Que TPM é essa?
– Passou, Kat, foi o cheiro do seu perfume e emoção demais.
– O que está acontecendo? - Lucas indagou atrás de mim.
– Ela estava se sentindo mal e por um instante quase caiu.
– Eu só estou um pouco zonza com tudo, amor - ela olhou para Lucas que agora estava de pé ao nosso lado. - Estava um pouco indisposta, se não fosse por Katrina acho que estaria com a cara cheia de folhas. - Brincou.
Lucas a segurou e me agradeceu. Sorri forçado, a soltando em seguida. Ele segurou-a de lado pela cintura e voltaram para o salão.
Fiquei ali por uns minutos assimilando a situação. Ela estava emocionada, certo, mas o que o cheiro do meu perfume tem a ver com seu enjôo? Meu pensamento tirou uma conclusão que depois descartei, afinal não era da minha conta.
Ao final da recepção, fomos nos sentar enquanto os noivos tiravam suas várias fotos. Por ironia, Gabriel e sua acompanhante sentaram-se exatamente de frente para mim. Ele olhava curioso para os meninos que estavam sentados comigo, um de cada lado. Iniciou-se uma torrente de conversas paralelas, uns quinze minutos depois os noivos foram dançar a valsa, e enquanto eu estava prestando atenção na dança, Bryan e Sophie sumiram. Sai procurando-os por todo o salão, e quando estava prestes a entrar no jardim, dei de cara com Rayssa.
– Ora ora, parece que você está caçando o mesmo peixe que eu - falou com aquele tom irônico irritante que ela tinha.
– Do quê você está falando?
– Meu Biel sumiu, estou começando a achar que vocês vão se encontrar às escondidas - disse me olhando com desdém.
– O interesse que eu tenho no seu "Biel" no momento é zero, agora se me dá licença... - falei desviando dela, mas a infeliz conseguiu me impedir de sair.
– Ele acabou comigo por sua causa, sua piranha de quinta - vociferou.
– Que interessante, estava louca para saber os detalhes sórdidos do relacionamento de vocês - respondi irônica.
– Nada me impede de tê-lo de volta, ele conseguiu se livrar do contrato que o prendia nesse relacionamento, mas ele é meu - fiquei confusa - Desde os meus 14 anos olhava para ele, sabia que íamos ficar juntos, mas você atrapalhou tudo. Tive que planejar minuciosamente uma forma de consegui-lo, e assim forcei meu pai a prendê-lo num contrato para salvar a firma do pai dele - ela sorriu triunfante - e de bônus ainda consegui fazer você pensar que era uma chifruda...
Nesse momento perdi todo o meu controle e me preparei para voar na cara daquela desgraçada, mas Matheus apareceu e me segurou. Ela me deu uma piscadela e foi embora. Me soltei de Matheus, pedi um tempo para pensar e corri para o jardim.
Quando cheguei lá vi Gabriel sentado embaixo de uma árvore e ao lado de Sophie, que fazia uma contagem maluca, provavelmente estava brincando de pique-esconde com Bryan. Quando ela virou-se para sair, tomou um susto com Gabriel e colocou a mão no peito.
– Calma, pequena. - ele sorriu, parecia que a boca se rasgaria tamanho era o sorriso.
– Ti sustu. - respondeu ofegante. Ao se recuperar o olhou com cuidado, examinando-o. - Voxê é aqueli titio que Blyan tava falanu nué?
– Sou? - perguntou confuso.
– É xim, - ela sorriu. - Blyan xemple fala di voxê, qui voxê é um titiu legau pluquê dêxa as clianxa blincá nu vidugami.
Realmente, nos últimos dias Bryan não parava de falar no titio do videogame, havia gostado dele. O sorriso de Gabriel se alongava e os olhinhos curiosos de Sophie o observavam.
– Então, se sou tão legal assim, porque não dá um abraço no titio?
Ela pensou um pouco mostrando uma ruguinha adorável, depois mexeu os ombrinhos e foi em direção a ele. Ela o abraçou tão forte que ele se aconchegou em seus bracinhos delicados soltando um suspiro de satisfação. Um lágrima rolou por seu rosto, e pelo meu também, era inevitável. De repente Bryan se aproximou e se juntou ao abraço, Gabriel abriu um pouco os olhos e sorriu no meio de um soluço. Meu coração naquele momento batia forte como nunca. Abrindo um pouco de espaço, ele o encaixou entre seus braços. Neste momento eu já chorava convulsivamente.
– Meninos? - chamei com a voz trêmula.
Gabriel os apertou ainda mais em seus braços, abriu os olhos, que estavam vermelhos de chorar, deu um beijo em cada testinha e os soltou. Nossos filhos correram até mim, nos abraçamos e cochichei para que eles fossem brincar com Laura, fazendo com que eles saíssem do jardim.
– Então... - comecei sem jeito. - Acabei de discutir com Rayssa.
– O quê? - ele levantou-se do chão, limpando as poucas lágrimas que restaram.
– É, estava procurando os meninos, ela cismou que eu procurava por você, e...
– E? - instigou.
– Ela admitiu que você não me traiu. - suspirei mordendo o lábio. - Desculpa Gabriel, se eu soubesse, ahn, nada teria sido assim.
– Não foi sua culpa. - olhou-me intensamente. - Só não entendo como pôde fazer isso? Escondê-los de mim? - seus olhos brilhavam e lágrimas pretendiam sair deles novamente.
– Eu não os queria perto de você, Gabriel, droga, você me traiu e eu descobri isso exatamente no dia em que soube de nossos filhos, como queria que eu agisse? - meus lábios tremiam. - Fiquei destroçada, tudo o que queria era você longe deles.
– Mas e agora que já sabe que não te traí? - aproximou-se e colocou meu rosto entre suas mãos enormes.
– Eu não sei, mas lá no fundo eu sempre quis... - me interrompi, como com medo de prosseguir.
– O que? - insistiu.
Seus olhos castanho-esverdeados encontraram os meus. Estávamos perto o bastante para que sua respiração fizesse cócegas em meu nariz.
– Eu queria que fossemos uma família, como devia ser. - um sorriso incontido brotou em seus lábios.
Ele sorriu e me beijou. Era tão bom sentir seus lábios acariciarem os meus que meus sentidos entorpeceram, e juro que se não fosse a gravidade estaríamos nas nuvens. Tudo o que eu sentia era ele, e depois de dois anos sentindo-me vazia era tudo o que eu precisava.
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Amor sem fronteiras
RomanceQuantas vezes a vida te surpreendeu? Quantas vezes o seu coração se partiu? E quantas vezes, sem perceber, você estava se apaixonando novamente? Com Katrina não foi diferente. A vida decidiu que iria surpreendê-la, e que iria dar à ela um grande pr...