Capítulo 10

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... Uma dor dilacerante brotou de meu braço. Um grito estridente escapou por entre meu lábios trêmulos enquanto meus joelhos fraquejavam indo de encontro ao chão acarpetado. Minha visão turva captou apenas uma última imagem de Gabriel e Carlos correndo para fora do apartamento e Bruna ajoelhada próximo a mim. E então tudo ficou escuro.

Abri meus olhos ferozmente, desesperada por provar para mim mesma de que havia sido apenas um pesadelo, que nada daquilo tinha realmente acontecido. Foi ai que me deparei com uma visão de um céu claro. Apalpei o chão sob mim, sentindo a maciez de um colchão de plumas. Me apoiei em meus cotovelos fazendo força para erguer meu tronco.

O que eu vi, era sem dúvidas uma visão do paraíso. Um gramado verde no qual eu estava deitada, uma pequena lagoa de águas claras bem à minha frente, rosas vermelhas como sangue vivo enfeitavam um canteiro próximo à uma cachoeira que desaguava na lagoa, e parecia ter sido projetada por anjos de tão bela. De repente, emerge por entre a cristalinidade das águas uma pessoa, que estava de costas para mim, observando a cachoeira. Tratava-se de um rapaz, o cabelo louro curto, suas costas brancas como neve enquanto suas mãos deslizavam pelo topo de sua cabeça.

Continuei ali, o olhando sem ao menos me inibir por ele ser um completo estranho para mim. Alguns segundos depois, a tal pessoa falou:

– Não vai entrar? A água está uma delícia.

Olhei para os lados procurando outra pessoa com quem ele poderia estar falando, mas não avistei ninguém, então tive de perguntar:

– Está falando comigo?

– E com quem mais eu estaria falando, amor?

Numa fração de segundos, enquanto ainda terminava de pronunciar a pergunta, ele virou-se em minha direção me revelando seu belo rosto, e fazendo-me arregalar os olhos em surpresa.

– Matheus? - indaguei, incrédula.

– Quem mais seria, minha princesa?

– Nós estamos juntos? Como vim parar neste lugar? Onde eu estou? Por que me trouxe aqui? ...

– Ei, calma, nós viemos até aqui, não se lembra? - interrompeu-me.

Balancei minha cabeça negativamente.

– E é óbvio que estamos juntos, esse é o paraíso que você queria não é?

– Paraíso? Do que você está falando?

– Você sabe, amor, era esse seu sonho.

– Mas, eu estou namorando o Gabriel...

– Não pode. Se realmente quisesse ele, eu não estaria aqui, este é seu paraíso.

– Se é paraíso, quer dizer que estou morta?

– Não importa, estamos juntos.

– Mas, não é real.

– Pode se tornar real, e para sempre, é só vir aqui.

Fiquei encarando-o, sua mão estendida em minha direção, me chamando para ele. Ponderei bastante, então decidi que se eu estava morta, devia aceitar meu paraíso. Levantei-me e comecei uma caminhada lenta até ele. Conforme eu me aproximava, seu corpo ganhava uma luminosidade branca, o tornando ainda mais belo e atrativo. Senti a água morna da lagoa molhar meus pés. Caminhei dentro da lagoa até está com água passando da cintura.

Estávamos à um braço de distância, sua mão quase me tocando, a palma virada para cima, esperando que eu juntasse nossas mãos e vivêssemos a eternidade daquele perfeito paraíso. Devagar, tirei minha mão trêmula da água a direcionando para a mão de Matheus. Ele estava brilhando ainda mais intensamente, então o brilho parou.

Matheus continuava no mesmo lugar, me olhando fixamente e sorrindo de lado. Minha mão ainda estava a poucos centímetros da dele, e eu não entendera porque o brilho parou. Olhei para os lados procurando alguma falha, e achei uma diferença.

Agora, atrás de mim, tinha outro alguém, uma pessoa musculosa, parada igual a uma estátua, com a água da pequena lagoa na altura dos joelhos, usando apenas uma calça cáqui bege e sorrindo abertamente para mim. Seus olhos castanhos esverdeados me refletiam, como se fossem um espelho de tão brilhosos. Sua mão direita estava levantada em minha direção, com a palma virada para cima, da mesma maneira que Matheus se encontrava.

– Ga-Gabriel? - gaguejei.

– Sim - respondeu com um sorriso um tanto divertido nos lábios.

– O que faz aqui?

– Não lhe dê ouvidos - advertiu Matheus.

– Eu sou sua realidade - respondeu Gabriel, ainda sorrindo e ignorando as palavras anteriores de Matt.

– Realidade? - indaguei confusa.

– Exato, como a figura à sua frente já deve ter lhe dito, ela é seu paraíso.

Assenti com a cabeça.

– Então, ela é seu sonho, mas existe também sua realidade, a que te fez feliz nos últimos dias, que lhe fez enxergar um bom mundo...

– Cale-se - ladrou Matheus.

– Que te mostrou as estrelas mais belas numa noite, e lhe deu o amor que merece - continuou.

– JÁ CHEGA - gritou Matheus, fazendo com que o local a nossa volta escurecesse, um vento frio passasse por mim. A cachoeira estancou a quantidade de água que corria por ela, e as rosas no canteiro murcharam até não restar nada além dos espinhos.

– Está vendo, seu paraíso também consegue ser seu inferno - disse Gabriel.

Me encolhi abraçando meu próprio corpo, tentando me aquecer. Ao ver isso a expressão de raiva no rosto de Matheus suavizou.

– Agora, a escolha é sua, - continuou Gabriel - você pode viver o paraíso, ou voltar a realidade - finalizou.

Como se já não bastasse eu ter de considerar a hipótese de morte apenas por estar naquele lugar, agora teria que escolher um destino. Matheus ou Gabriel? Paraíso ou Realidade?

Matt suavizou a expressão que antes era raiva, e agora parecia mais condescendência, e no mesmo instante o local ganhou cor e vida novamente.

– Venha para mim, eu posso lhe dar tudo isso - disse-me calmamente.

– Eu posso lhe dar a realidade - disse Gabriel.

– Posso realizar seus sonhos - continuou Matheus.

– Eu posso ser seus dias bons - finalizou Gabriel.

– PAREM, - gritei - Parem de tentar me dizer o que fazer, - respirei fundo - Escutem, se eu pudesse escolheria os dois, mas não é uma opção...Matt, - falei virando-me para o mesmo - você me salvou, e, caramba, eu te amo, amo mais que a mim mesma, mesmo que eu me machuque sempre vai ter uma parte de mim capaz de te amar e eu nunca, nunca vou esquecer de você... Biel, - continuei, desta vez encarando o outro - no momento em que pensei que nunca me permitiria ter instantes felizes novamente você me mostrou o contrário, eu tive esperanças novamente, e eu te amo por isso, mesmo que meu amor por Matheus seja gigante eu ainda posso amar você, - respirei fundo novamente - e eu já fiz minha escolha.

Com determinação e garra como nunca pensei ter, caminhei à passos largos em direção à minha escolha, o que ficaria para trás deu um suspiro nervoso, enquanto o vitorioso sorria abertamente para mim. Sem pensar duas vezes, juntei minhas mãos com meu destino, o escolhido, Gabriel.

Amor sem fronteirasOnde histórias criam vida. Descubra agora