Capítulo 8

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Já não aguentava mais aquele suspense todo, não deveria ser tão demorado assim para interrogar uma pessoa, o passar lento daquele relógio estava me irritando, e a televisão ligada em um programa de culinária chinesa tedioso não ajudava muito. Horas mais tarde quando estava quase pegando no sono, Gabriel chegou da delegacia trazendo consigo o vídeo do interrogatório de Camila e me deu para assistir, mesmo que os médicos tivessem dito que eu não deveria ver. Ela era loura, alta e bem dotada de corpo.

– Muito bem, Camila Soares, vamos ser diretos, okay? - começou o interrogador.

– Pode ser, querido - ao ouvir o som de sua voz, senti uma repulsa enorme crescer dentro de mim.

– Porquê tentou matar Katrina Nunes? - perguntou.

– Quem disse que fui eu? - respondeu, sua voz nojenta me fazendo tremer de ódio.

– Não negue, senhorita Soares, por favor. Não complique mais ainda sua situação, sei bem que foi você, suas digitais foram encontradas no saco de soro da vítima.

– Fui eu sim, e daí?

– Porquê fez isso? - repetiu a pergunta.

– Porquê ela é uma nojentinha que não merece nada do que tem - respondeu com desdém.

– Por isso que tentou envenená-la?

– Você fala tentou como se ela não tivesse morta - disse debochada.

– Felizmente, sua tentativa foi falha - ao ouvir isso, seus olhos se arregalaram ao máximo - agora, por favor, me responda, foi apenas por ódio que tentou matá-la?

– Também, mas tive um incentivo.

– De quem?

– Não sei o nome completo dela, mas seu primeiro nome era Mônica.

- E como se conheceram?

- Ela me procurou alegando que conhecia minha maior inimiga e que queria me ajudar a acabar com ela.

Eu demorei um pouco para processar o que estava acontecendo. Olhei para Gabriel e ele estava cabisbaixo, parece que estava decepcionado. A única Mônica que eu conhecia era...

- Ela está falando da namorada do Matt? – arregalei os olhos.

Gabriel respirou fundo e vi uma lágrima passear pela sua bochecha. Quando me olhou, vi toda a dor que ele sentia e conclui que havia sido ela mesma.

- Matt acabou com ela no dia que você veio para o hospital quando desmaiou. Ela vinha resmungando de você à um bom tempo e isso desgastou a relação dos dois. Quando estava vindo para o hospital, ela reclamou pelo fato de que ele iria "abandona-la" para te dar apoio, foi ai ele chegou no limite, – Gabriel passou a mão nos cabelos castanhos, parecia perdido – Ele acha que realmente foi ela, pelo fato de ela ter dito que vocês dois iam pagar à ela, e está completamente abatido com toda situação. Eu e os meninos repetimos várias vezes que não podia ser a ex dele, tentando convencer mais à nós mesmos que o próprio Matheus, mas no fim das contas resolvemos dar queixa dela.

- Eu não consigo imaginar o quão mal o Matt está, – falei pensativa, então olhei pra ele – Você também não está nada bem com isso...

- É que ela havia virado parte da nossa trupe, sabe? – sua voz demonstrava o tamanho da dor dele – Ela era nossa amiga.

- Sinto muito por ter estragado a vida de vocês – falei me dando conta de que tudo isso era culpa minha.

– Ei, não fica triste, - segurou meu rosto, suas mãos gigantes quase cobrindo o mesmo – Não foi sua culpa, não diga mais isso.

– Tudo bem - respirei - eu vou esquecer tudo isso, já tenho meus planos.

– Posso saber? - perguntou.

– Claro, - sorri - você faz parte deles - ele me olhou curioso.

– Os meninos também?

– Não, eu estive pensando e.. – minha voz vacilou, eu poderia estar me precipitando demais com isso, mas já estava feito – eu preciso te recompensar pelo meu erro, então decidi que vamos viajar só você eu.

Gabriel ficou muito tempo sem me responder, olhando para mim de um jeito esquisito, e me deixando muito apreensiva.

– Biel? Não vai dizer nada? - indaguei apertando freneticamente as mãos, deixando o nervosismo tomar conta de mim.

– É um sonho – finalmente falou.

– Não é não, vem cá – chamei-o para sentar-me junto a mim.

Ele se moveu tão rápido que em um piscar de olhos eu já segurava suas mãos e o puxava para a cama.

– Suas mãos estão frias, - comentei esfregando as mesmas - não é um sonho - repeti.

– Como...? – ele olhou em meus olhos, sentando-se ao meu lado.

– Por isso.

Devagar, calculando minuciosamente os meus movimentos, aproximei nossos rostos olhando em seus olhos. O olhar de desejo dele indicou que ele sabia o que viria à seguir. Minha respiração pesou e arfei contra a pele macia de seu rosto, senti seu nariz um pouco frio encostar-se em minha bochecha, e um arrepio eletrizante percorreu todo meu corpo. Em poucos segundos senti seus lábios quentes se encostarem aos meus, nossas bocas entrelaçadas em um beijo ardente, o gosto doce de seus lábios me fazendo querer mais. Com relutância nos afastamos, o som de nossas respirações pesadas tomaram o ambiente, sem olhar para ele, eu disse:

– Quero tentar com você - falei pausadamente, ainda tentando recuperar o fôlego - eu quero esquecer o passado e acho que você é o meu caminho para o futuro.

– Bom, isso que acabou de acontecer foi uma prova bem convincente de tudo – sorriu.

– Isso é um sim para toda essa loucura que planejei?

– E você ainda tem alguma dúvida? - aproximou novamente nossos rostos.

– Nenhuma – sorri e beijei seus lábios novamente.

Graças aos céus naquele mesmo dia tive alta. A sensação de liberdade me tomou por completo, além da felicidade e ânsia por aquela viagem que iniciaria em dois dias. Carlos e Gabriel foram me deixar em casa, e me aliviei mentalmente ao notar que estava tudo normal entre eles, nenhuma mágoa devido à briga, e para descontrair um pouco mais puxei assunto.

– Então, Carlos, como é o nome da tal garota?

– Garota? - indagou Gabriel, confuso.

– Sim, ele e Lucas conheceram duas garotas, me disseram que elas são incríveis.

– Nossa, nem me disse nada, amigão - deu um murro no ombro de Carlos, que dirigia e apenas ria da nossa conversa.

– Fala logo - implorei.

– Não, - respondeu com um sorriso sapeca - você só vai saber quando conhecê-la.

– Só pode ser piada - brinquei.

– Pior que não é, quando você voltar da sua viagem conversamos sobre isso.

– Como você... ah, Gabriel seu bocão, já disse a todos? - estapeei a cabeça dele.

– Me deixe ser feliz - riu.

Ao chegar em casa, despedi-me de ambos, e fui saltitante arrumar minhas malas.

Amor sem fronteirasOnde histórias criam vida. Descubra agora