Capítulo 5

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"Respira, Katrina, vai dar tudo certo, respira fundo"

Repeti diversas vezes essas palavras mentalmente, foram 4 anos longos, estudos pesados, superações, uma carreira, juntar dinheiro, tudo para conseguir hoje voltar de onde vim, onde meu coração havia ficado.

Faltavam apenas alguns minutos para o embarque, eu estava nervosa, louca de saudades de Matheus, com uma vontade esmagadora de lhe abraçar, de esperar seus olhos me hipnotizarem, de tocar seus lábios com os meus. Mal podia acreditar que conseguiria cumprir a promessa que fiz, de voltar para ele. Meus pais ficariam no Canadá mesmo, e eu seguiria meu caminho.

Pisar novamente em minha terra natal me fez sorrir, finalmente estava em casa. Com tudo pronto apenas peguei meu carro alugado, que já estava no aeroporto à minha espera, e fui rumo ao apartamento, escolhido por mim e mobiliado à meu gosto.

Coloquei toda a bagagem em meu novo quarto, sem o mínimo ânimo de pôr tudo em seu devido local, pois tinha apenas uma coisa em mente, rever Matheus. Tomei um banho, coloquei um vestidinho básico, calcei um salto tamanho médio, pus pouca maquiagem do jeito que ele gostava e deixei meus cabelos soltos.

Rezava para que sua família não tivesse se mudado, eu iria à mesma casa que fui no passado. Com meu carro já estacionado em frente à residência enchi-me de coragem e caminhei até a porta, controlei minha respiração antes de tocar a campainha, e toquei-a. Ouvi passos atrás da porta e logo depois ela foi destrancada, e lá estava Angélica, ainda linda e jovem.

– Pois não? - perguntou sem me reconhecer.

– Angélica, - sorri - se lembra de mim? Katrina? - Ela arregalou os olhos em surpresa e correu ao meu abraço.

– Oh, não acredito que você voltou querida, estou tão feliz, e olha só você, - disse me analisando - está uma mulher feita, e aliás, um mulherão, você mudou tanto, está tão bonita - repetiu as mesmas coisas várias vezes antes de se calar.

– Muito obrigado mesmo, Angélica, estou extremamente feliz por poder voltar.

– Entre querida, venha cá, estão todos aqui - falou me puxando para dentro.

A casa não mudara tanto, apenas alguns móveis foram substituídos. O barulho de risadas ecoava no ambiente, então chegamos ao quintal onde todos estavam, quer dizer, quase todos. Avistei o Marcos, os irmãos de Matheus, Lucas, Carlos e Gabriel aproveitando o belo almoço que lhes era servido, todos sorridentes. Ao me verem pararam os movimentos instantaneamente.

– Não parem por mim, voltem a se divertir, por favor - pedi-lhes.

– Que isso querida, primeiro vamos refrescar a memória deles - disse Angélica com um sorriso imenso no rosto - Lembram-se dela? A Katrina?

Todos que estavam naquele local, exceto Angélica e eu, abriram a boca, chocados, incrédulos. Carlos foi o primeiro a se levantar e vir até mim.

– Kat? É você mesmo? Não pode ser.

– Sou eu sim Carlos, eu disse que voltaria.

Sem aviso prévio ele me abraçou, e me esmagou com seus braços que estavam consideravelmente mais musculosos. Um após outro, me cumprimentaram com fervor, e elogiaram-me repetidas vezes. Nos sentamos e contei-lhes tudo o que havia acontecido. Um pouco antes que eu terminasse minha história, entrou no recinto quem eu mais esperava, Matt.

Mas ele não estava só, logo atrás dele vinha uma garota loura, e muito bonita, segurando sua mão. Aquela imagem me chocou, não podia ser o que eu estava pensando.

– Finalmente filho, achei que não chegaria mais - disse Marcos.

– Mas eu cheguei, ué - respondeu, seu sorriso ainda era o mesmo, seus olhos. Tudo nele estava ainda mais lindo, coisa eu pensava não ser possível. Não consegui tirar meus olhos dele - Quem é a visita? -
Com certeza ele referiu-se a mim, minhas bochechas queimaram em brasa, exatamente da mesma forma que havia sido quando nos conhecemos.

– É a Katrina, Matt - Lucas se adiantou em dizer.

–Que Ka... - ele abriu a boca, surpreso - Meu Deus, é você – falou correndo até mim e me abraçando - como você mudou, que saudade.

– Também estava.

Me aconcheguei em seus braços sentindo tudo ao meu redor sumir, escutando seu coração bater forte, sentindo seu perfume inebriante.
Nos soltamos e ele olhou-me nos olhos, fui hipnotizada como sempre, mas desta vez, ele apenas sorriu.

– Hã...oi? - falou a menina atrás dele.

– Oi - despertei do transe.

Matheus afastou-se, dando espaço para que eu e a menina nos conhecêssemos.

– Katrina, ouvi falar de você, bem vinda de volta - sorriu, simpática.

– Obrigada, e me desculpe mas, quem é você? - indaguei.

– Ah, sou Mônica, namorada de Matheus.

Fiquei totalmente paralisada ao ouvir aquelas palavras, senti meu coração partisse em minúsculos pedaços, meus olhos arderam, querendo deixar as lágrimas caírem mas me mantive forte. Afastei-me um pouco e foquei o olhar em Matheus, que estava totalmente tranquilo diante daquela situação, no entanto eu não estava. Sem avisar a ninguém ou falar nenhuma palavra me afastei e peguei minha bolsa. Sai correndo sentido meu mundo desabar, tudo o que eu queria era sair daquela casa e chorar. Quando liguei o carro, vi Matheus e os outros garotos correndo atrás de mim, tarde demais, pisei fundo no acelerador, sem me importar nada além do vazio que estava sentindo.

Meus pensamentos desordenados me levaram ao passado, lembrando-me de tudo, a época em que eu me sentia sozinha, sem propósito. Lembrei-me de meu modo de aliviar a dor...
Chegando em casa corri até o banheiro, derrubando tudo em meu caminho, eu só precisava achar uma coisa, e achei.

A lâmina afiada cortou facilmente a pele de meus pulsos, e o sangue vivo começou a passear por meus braços. Os cortes foram tão profundos que logo minha visão ficou turva e cai no chão, me misturando ao meu próprio sangue. Ouvi passos dentro do apartamento e lembrei-me vagamente de ter deixado a porta escancarada. Pouco depois senti um toque quente em meus braços e uma voz distante chamando meu nome. Meu corpo foi suspenso, eu estava sendo carregada, tentei abrir os olhos para ver quem estava ali comigo e só depois de muito esforço reconheci o rosto de Gabriel, coberto de lágrimas.

"Não, eu não posso estar viva..."

Pensei e abri meus olhos, havia um barulho irritante apitando a todo momento, e logo descobri que estava num hospital. Ouvi uma voz familiar atrás da porta do quarto dizer de modo alterado: "Você é o culpado". Logo depois houve silêncio e a porta foi aberta, de trás dela surgiu Gabriel, que ao me ver acordada sorriu e se apressou em me abraçar.

– Me preocupei tanto com você - disse ao meu ouvido.

– Como me achou?

– Eu não iria te deixar sozinha - afirmou.

Amor sem fronteirasOnde histórias criam vida. Descubra agora