Estou há quase 20 minutos encarando o olho mágico daquela porta sem saber se devo ou não bater. Não sei qual o tipo de recepção me espera e tenho medo do que posso encontrar ali. Talvez procurar Jonah não tenha sido uma ideia tão boa afinal.
Me preparo para dar meia-volta e sumir e, ao fazê-lo, dou um encontrão em um homem e uma moça e acabo derrubando os sacos de compras que ambos carregavam.
- Me desculpem. - me apresso em dizer enquanto os ajudo a recolher os itens espalhados pelo chão.
- Está tudo bem. - diz a moça. Entrego os itens em sua mão e então olho o homem para, outra vez, me desculpar.
Mas minha boca fica pateticamente aberta quando olho para ele, porque, não é ninguém mais ninguém menos que o próprio Jonah.
Minha cabeça gira e eu não consigo formular nenhuma frase com coerência além de:
- Você é o Jonah?
Ele me encara um momento, um tanto perplexo, antes de assentir.
- E você é...?
- Alguém que precisa muito falar com você.
.................................................................
Uma xícara de chá é colocada em minha frente, antes da moça - esposa de Jonah - se retirar. Um silêncio incômodo paira sobre nós, mas não sabemos como quebrá-lo.- Você...quer me contar sua história? - Jonah finalmente me pergunta.
- Não é muito fácil explicar a situação. - pego a xícara e sinto o calor se espalhar pelas minhas mãos e corpo. - Pra ser honesta, eu vim até aqui falar de você.
Jonah me encara um pouco surpreso, então me apresso em explicar.
- Meu nome é Laila, sou sobrinha de Luna Potter. - a menção daquele nome mexe com o homem parado a minha frente. - Você conheceu minha tia, não foi?
Ele assente.
- Luna foi minha melhor amiga. Quer mesmo essa história?
Confirmo com a cabeça e bebo um gole de chá, enquanto aquele homem de quem sei tão pouco, mas tanto ao mesmo tempo, se acomoda na poltrona a minha frente.
- Então vamos contá-la.
~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~
Jonah's POV:Um saco de dormir é jogado ao lado do meu. Isso me irrita um pouco, pois esse lugar já é naturalmente lotado. Será que tem como pararem de jogar pessoas aqui ou então usarem algum outro chalé não tão cheio?
Levanto os olhos e vejo uma garota muito bonita parada ao meu lado.
- Oi, eu sou a Luna. Tenho oito anos.- ela me olha, obviamente tentando fazer amizade. - Qual seu nome?
- Jonah. - respondo um pouco mau humorado.
- É meu primeiro dia. - ela me conta o óbvio, empolgada. - Eu nunca dormi longe da mamãe e do papai antes. Você já? É seu primeiro dia aqui também?
- Não. Eu moro aqui há muito tempo. Se vai começar a chorar de saudades do seu papai e da sua mamãe, é melhor ficar longe de mim. - me levanto e saio pisando duro, deixando a garotinha lá, com uma cara confusa.
Sei que era errado, mas ser mau para os novos campistas me dava uma sensação de alívio.
Na hora do jantar, quando todos tomamos nossos lugares, Luna se sentou ao meu lado. E assim todas as noites que ela passou conosco no chalé de Hermes. No começo eu sempre implicava com ela, mas com o passar dos dias foi perdendo a graça, ela não se deixava abalar. Então parei, mas também não me aproximei dela.
Até que, certo dia, enquanto eu caminhava pelo Acampamento, vi umas meninas de Ares atormentando a Luna. A garota era realmente muito linda e vivia com vestidinhos fofos e os cabelos dividos em duas tranças. Qualquer pessoa mais velha já deveria ter percebido àquela altura que ela era uma filha de Afrodite. Eram o alvo perfeito para as crianças de Ares. E Luna nem se falava. Ela era a garota mais boazinha de todo o Meio - Sangue. Naquele dia, Luna voltou para o chalé chorando. Quando perguntei o que houve, ela mostrou as pontas de seus cabelos. As meninas haviam cortado ele, para que ela ficasse "feia", segundo as palavras de Luna. Ela chorava desconsolada e uma raiva se apossou de mim. Implicar com campistas era uma história, agora esse nível de maldade já era muito longe.
- Vai ficar tudo bem. - garanti a ela e a puxei para um abraço sem saber bem o porquê. - Ele vai crescer de novo. Prometo.
Luna fungou e secou os olhos.
- Você acha mesmo?
Concordei com a cabeça e vi um sorriso brotar no rosto dela.
- Obrigada, Jonah!
Depois que ela saiu, comecei a colocar um plano em ação. Contei com a ajuda de mais dois irmãos. As meninas de Ares nunca mais iriam cortar os cabelos de ninguém. No dia seguinte, quando todas elas apareceram com gorros no café, tive certeza disso.
O que eu fiz foi muito simples, apenas revidei o que elas haviam feito a Luna, enquanto elas dormiam. Cortei o cabelo de todas elas de forma que fosse impossível ficarem bons, não importava como o arrumassem.
Nunca contei a Luna que havia sido eu, mas senti que não precisava. Ela saberia de alguma forma.
Os anos foram passando e nunca mais eu e Luna nos falamos exatamente. Cerca de um mês depois de sua chegada, Afrodite assumiu sua cria e ela foi levada do chalé. Mas, então, o destino nos reuniu outra vez quando completamos 15 anos.
Com essa idade, começamos a ir vender os morangos da nossa horta na cidade. Luna e eu íamos no mesmo caminhão e acabamos por nos aproximarmos um pouco. Ela nunca guardou rancor de como eu agia com ela na infância. Tínhamos só um ano de diferença e ela era muito boa para mim.
O marco do início da nossa amizade como foi até o fim da vida foi quando me apaixonei.
Havia uma garota que ia sempre comprar dos nossos morangos. Ela tinha a idade de Luna e se chamava Tory Black.
Eu caí de amores por ela quase imediatamente. Escondi de todos, por medo do que iriam pensar, mas Luna descobriu. Ela me ajudou naquela época e nós viramos melhores amigos. Ela me ajudou a conquistar Tory e nós começamos um relacionamento.
Alguns anos depois, quando ela tinha 19 e eu 20, conseguimos permissão para viver fora do CHB. Tinhamos a condição de não nos metermos em encrencas no mundo mortal e teríamos de voltar uma vez por ano ao Acampamento. Ficamos muito felizes.
No meio disso tinha minha história com Tory. Nós havíamos terminado e ela havia engravidado de outro, mas eu realmente a amava, então voltamos. Eu queria sair do acampamento para me casar com ela. Não havia contado isso pra ninguém, nem mesmo pra Luna. Quando ela descobriu, ficou furiosa devido a forma que as coisas haviam acontecido no passado. Nós brigamos.
Naquela mesma noite, havíamos vencido uma batalha. Resolvemos comemorar em uma boate de mortais. O único que não tomou uma gota de álcool foi nosso amigo Frank. Ele iria dirigir aquela noite, mas sem ninguém em condições para revezar com ele, acabou cochilando no volante. Batemos em outro carro e foi fatal. Perdi Luna aquela noite.

VOCÊ ESTÁ LENDO
Crônicas de uma Filha do Mar🌊
Fanfiction°SÉRIE "Contos de Semideuses" - LIVRO II° Depois da missão de resgatar Piper McLean, Laila, a filha de Poseidon, se vê ainda mais assombrada por seu passado. Sua vida entra em um turbilhão: tem que lidar com os preparativos de seu casamento com Will...