- Nunca pude pedir perdão e me acertar com minha melhor amiga.
Ao final da história, Jonah e eu temos lágrimas nos olhos. Conhecer mais sobre o passado da minha tia havia sido muito bom para mim. O passado dela foi tão difícil quanto o meu. Em aspectos diferentes, mas ainda assim difícil.
- E quando a Tory? Vocês se casaram? E o bebê dela?
Jonah assentiu e a moça que havia me servido chá entrou no cômodo.
- Nos casamos e minhas filhas nasceram lindas e saudáveis- ela disse. Pude notar que seus olhos também tinham lágrimas. Ela deveria estar ouvindo nossa conversa. - Eu estava grávida de gêmeas. Emily e Nina, filhas de Hermes assim como Jonah.
Naquele momento, senti um aperto no estômago. Ela havia acabado de dizer Nina? E Emily?
- O que...o que houve com elas? Onde elas estão agora?
A mulher me encarou. Uma lágrima rolou por seu rosto.
- Eu não sei. As duas saíram de casa com oito anos. Queriam conhecer o Acampamento do qual Jonah sempre falava, mas ao invés de nos pedirem para levá-las, fugiram de casa. Nunca chegaram, as pessoas de lá acreditam que por serem filhas de um deus menor, elas acharam que a vida na cidade seria mais proveitosa.
Sinto o cômodo rodar. A verdade é que eu sabia muito bem o que havia acontecido com Emily e Nina. O que eu não sabia era como dizer isso àquela mãe. Encaro primeiramente Tory e depois Jonah com seriedade.
- Eu...tenho algo que contar.
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Um mês desde que havia perdido meu bebê. A dor se tornava cada dia mais suportável, assim como quando perdi Josh.Os dias parecem se arrastar, principalmente quando Nina perde seu emprego.
Monstros começam a nos atacar com maior frequência, mas eu ainda não tenho forças suficientes pra reagir. O que é terrível para Nina.
- Você precisa lutar, Laila.
Um mês depois, resolvi fazer o que minha amiga havia dito, lutar.
Levantei bem cedo e deixei um bilhete avisando Nina onde ia.
Sai durante uma tarde toda e voltei pra casa com os ânimos restaurados e também uma boa notícia: havia conseguido um emprego.
Mas, ao me aproximar do nosso quarteirão, pude ouvir sirenes. Vi carros de bombeiros e ambulâncias passando. Apressei o passo com um pressentimento ruim na boca do estômago.
Logo percebi que fumaça subia do nosso prédio e era pra lá que os caminhões de bombeiro se dirigiam.
"Por favor, que Nina esteja bem".
Corro até a frente do prédio, desesperada, procurando pela minha amiga entre as pessoas que estão ali reunidas.
Mal percebo o movimento ao meu redor. As pessoas me olham comovidas, mas eu não percebo. Estou focada apenas em encontrar Nina.
E a encontro, mas não da forma que gostaria. Ela está sendo carregada para fora do prédio naquele momento. Pálida, coberta de sangue e foligem.
Ela é colocada em uma maca no exato momento em que os alcanço. De perto, seu estado é ainda pior. Um rasgo corta seu pescoço e ela perde muito sangue por ali.
- Nina...- minha voz sai rouca pelas lágrimas e soluços que tento conter. - Nina, o que houve?
- Empousa...- é a palavra que sai fraco de seus lábios pálidos. - Atrás...de você.
- Senhorita, precisamos levá-la. - o paramédico me informa.
- Vai ficar tudo bem, eu prometo. Vamos arrumar um apartamento novo e viver bem outra vez, Nina. Eu consegui trabalho, nós vamos passar por isso. - falo rápido e de forma atrapalhada antes de levarem minha amiga embora naquela ambulância.
Um policial se aproxima de mim após a saída da ambulância.
- Lamento muitíssimo, senhorita. Vamos investigar para saber o que ocasionou o incêndio, mas o que quer que tenha sido, foi planejado para atingi-las de forma mortal e... - levanto a mão para interrompê-lo.
- Não é necessário investigação, senhor. - lágrimas grossas escorrem pelo meu rosto. - Poderiam, por gentileza, me levar até o hospital onde minha amiga está? Ela é tudo o que me importa agora.
- Claro. - ele se afasta de mim dando ordens aos seus companheiros para que me levem o mais rápido possível para o hospital enquanto os bombeiros terminam de conter as chamas.
Em meia hora estou sentada na sala de espera do hospital, esperando por notícias de Nina.
Cerca de uma hora depois elas chegam. Os ferimentos combinados com os gases tóxicos liberados no incêndio foram mais fortes que minha amiga. Nina se foi.
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Relembrar essa parte do meu passado é demasiado dolorida para mim. Lágrimas grossas molham meu rosto e soluços balançam meu corpo.Tory e Jonah também choram, afinal Nina era filha deles.
- Eu sinto muito por não ter podido fazer nada. - eu digo soluçando e, para minha surpresa, Tory se senta ao meu lado e me abraça.
- Não foi sua culpa, querida. - ela diz secando algumas de suas lágrimas. - Nina sabia os riscos que corria sendo semideusa e, quando se aliou a você, sabia que tudo iria se tornar ainda mais perigoso. Ela assumiu riscos.
- Ela morreu como minha heroína. - digo com o rosto vermelho de tanto chorar. - Ela salvou minha vida mais de uma vez.
- E isso me enche de orgulho, saber que minha filha foi boa e ajudou alguém.
- Assim como sua tia Luna. - Jonah diz. - Eu só queria ter a oportunidade de ter me acertado com ela. Queria poder saber que ela me perdoou.
Paro de chorar e encaro Jonah. Ele tem o olhar fixo em sua xícara de chá. Será que Luna perdoaria ele? Eu perdoaria? Ela tinha os motivos para ficar zangada com ele. Detalhes de uma história que, por algum motivo, ele queria guardar só para si e eu respeitaria isso. Mas no fundo sei que ela perdoaria, afinal eles eram melhores amigos. Melhores amigos são como nossos irmãos, nossas alma gêmeas. Eles nos entendem e nos apoiam como ninguém. Quem acha um melhor amigo, acha um tesouro muito valioso. Dentro do meu ser havia uma vozinha que dizia "Jonah, eu te perdôo".
E antes que perceba, me pego dizendo:
- Ela perdoou.
Jonah me encara como se eu fosse louca.
- Como pode ter certeza? É filha de Hades e se comunica com mortos?
Dou uma risada.
- É um pouco mais complexo, mas pode ter a certeza que aqui dentro...-aponto meu coração. -...eu sinto isso e tenho plena certeza.
Essa resposta parece conformar Jonah, que se senta ao meu outro lado e, junto com Tory, me envolve em um abraço.
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Crônicas de uma Filha do Mar🌊
Fanfic°SÉRIE "Contos de Semideuses" - LIVRO II° Depois da missão de resgatar Piper McLean, Laila, a filha de Poseidon, se vê ainda mais assombrada por seu passado. Sua vida entra em um turbilhão: tem que lidar com os preparativos de seu casamento com Will...