22/08 de 2018

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Alice olhou para sua imagem no espelho do banheiro por um tempo. Seus olhos e nariz vermelhos, seu rosto inchado denunciavam o seu recente choro.

- Alice, -ela começou a falar consigo mesma em frente ao espelho- você pode superar isso! -sua voz embarcou e ela se olhou no espelho, por um segundo pareceu acreditar no que dizia, mas então balançou a cabeça negativamente- Quem estou tentando enganar? -lágrimas escorrem em seu rosto e ela tenta pará-las.

Depois de um tempo ali, alguém entra no banheiro. Ela olha para o lado sem se virar, apenas acompanha com o olhar a mulher que entra com as mãos no rosto.

Considerando que ali era um hospital, com certeza essa cena era mais normal ali do que em outros lugares, pessoas sempre chorando.

Alice molhou o próprio rosto e se olhou outra vez no espelho, se preparando para sair. Seu coração vacilou quando colocou o pé fora do banheiro.

Ela caminhou a passos não tão longos até o quarto de seu pai. Algumas pessoas olhavam atentamente para a menina que andava nos corredores com suas roupas pretas, seus olhares eram de pena, Alice sentia esse peso sobre si e encolhia os ombros.

Até que finalmente chega no quarto que procurava, respira aliviada ao ver seu pai abrir os olhos assim que ela entra.

- Pequena Alice... - seu pai diz carinhoso, estende a mão para que ela vá até ele e ela o faz se lembrando que ele não a chamava assim há certo tempo.- Não chore.

Ela ficou de pé ao seu lado e o olhou com amor, sentindo certo tipo de alívio por não perdê-lo.

- Papai, -ela começou a dizer e o olhou séria, mas seus olhos se encheram de lágrimas ao se lembrar do que iria dizer em seguida- eu preciso ir, o enterro da mamãe é em 40 minutos.

Ele assentiu. Se sentou na cama e depositou um beijo em sua testa.

Alice sorriu.

Depois de tanto tempo, ela sabia que tinha seu perdão.

- Vá com Deus, pequena Alice! Eu te amo. -le disse segurando sua mão.

Alice se despediu, e andou para fora do quarto e outra vez seu coração vacilava, quando já havia se distanciado olhou para trás e sorriu, satisfeita.

(...) As pessoas se despediram de Maria, Alice não conseguia chegar perto do caixão. Ela não sabia se poderia se arrepender por não ir até lá e olhar para o seu rosto uma última vez.

As pessoas a abraçavam e algumas chegavam a chorar, contavam histórias tristes, falavam sobre os planos de Deus, sobre paraísos, diziam que ela estava viva em suas lembranças, pediam pra que fosse forte, pra que não chorasse...
Alice perdeu a conta de quantos pedidos foram feitos naquele pequeno período.

Mas nada confortava seu coração quebrado.

Então no meio daquelas pessoas ela viu alguém que no momento era mais familiar que todos.

Alan carregava uma rosa branca nas mãos, usava roupas escuras. Ele a viu e se apressou para abraçá-la.

- Alan... -sua voz saiu como um sussurro.

Ele a abraçou apertado e ouviu alguns soluços e percebeu seu choro.

Ele pensava em algo para dizer, mas não vinha nada que não fosse "não chore" então quando ele abriu a boca para começar pensou melhor e apenas acariciou seus cabelos.

Alan ficou ao seu lado durante todo tempo até que cobriram o caixão. Alice olhou para Alan e ele a olhou de volta.

- Eu preciso ir no hospital... -ela se levantou.

- Tem algum celular pra te ligar? -pela primeira vez ele disse algo.

Ela disse um número devagar e logo após repetiu novamente.
Ele anotou em seu celular e assentiu.

- Como está no Canadá? -ele perguntou curioso.

- É bom, um pouco diferente, mas é bom... -ela respondeu pouco preocupada com isso- Eu preciso ir, de verdade.

Ela caminhou para fora do cemitério e logo que passou um táxi ela entrou.

Quando o táxi parou ela olhou para o hospital e depois se virou e entregou o dinheiro para o homem que esperava de mão estendida dentro do carro.

Ela entrou e seguiu até o corredor em que o quarto de seu pai estava. Um movimento estranho no quarto a deixou alarmada.

Um homem de jaleco branco entrou no quarto seguido por um jovem com um carrinho de parada.

Alice caminhou a passos lentos até a porta do quarto.

-A senhorita não pode entrar! -foi a primeira coisa que lhe disseram.

Atrás da enfermeira que a impedia ela viu que tentavam ressuscitar seu pai, mas sem sucesso.

Isso durou 5 minutos até que ouviu:

- Vou declarar: -o médico disse já sem esperanças.

Alice sentiu uma lágrima descer, tentou entrar e a enfermeira a segurou.

- Horário do óbito às 19:43. -o médico disse por fim.

Alice sabia o que isso queria dizer. Ela viu as pessoas uniformizadas desligando os aparelhos.

- Não pode ser... -Alice sussurrava,  chorava até se sentar no chão de frente a porta do quarto sem se importar em atrapalhar a passagem dos médicos, ela chorava.

Nesse momento ela cogitou desistir de tudo.

A dracma da felicidadeOnde histórias criam vida. Descubra agora