21/08 de 2018

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P.O.V's Alice

Fazem dois dias que recebi a ligação. A ligação que mudou meu rumo, que me fez querer desistir.

"Houve um acidente e Maria Miller não suportou e morreu no local, Charles está sendo encaminhado para um  hospital com urgência para ser operado"

Poucas são as palavras que podem ferir alguém mais do que essas, meu chão sumiu abaixo dos meus pés.

 Todos os dias, pela manhã,  minha mãe me ligava, nós conversamos por minutos e depois ela ia trabalhar. A noite ela ligava outra vez, antes de dormir, me ouvia. Eu tentava esconder alguns problemas, miseravelmente, pois eu não admitia, mas ela sabia que nem tudo ia bem, ela sabia disso pelo tom da minha voz. E eu também a conhecia, eu sabia quando nada estava bem, e escutava suas palavras com atenção.

20 de agosto de 2018

Depois dessa ligação eu peguei o primeiro avião para NYC. Desesperada. Eu era apenas choro, cacos. 

Na primeira manhã eu esperei sua ligação, com um enorme vazio em meu peito, eu olhei para o telefone por horas até que ele tocou, eu atendi, esperando ouvir o doce som de sua voz, que era reconfortante, mas não era.

Eu apenas precisava reconhecer seu corpo, já que não havia quem o fazer. O desespero me cobriu outra vez, o medo, de te ver fria sob uma mesa, ou dentro de um saco preto em um necrotério. 

O meu coração se partiu quando te vi. Eu fiquei em mil pedaços, eu não derramei lágrimas, e me perguntava o porquê, mas eu olhei para ela. Não consegui ficar por mais tempo, eu sai em direção à um  banheiro onde eu entrei. 

Eu liguei a tela do meu celular, tentei ligar pra ela. Eu tentei várias vezes, mas não atendia. Eu dormi no chão do banheiro.

Acordo com o som de batidas na porta. 

- Moça, acorda -ouço a voz de um homem, talvez o mesmo que bata na porta.

Esfrego os olhos e vejo que se passaram três horas desde que adormeci. Me levanto.

- Esse banheiro é masculino... Tudo bem se você se considerar um homem, mas ainda temos a regra que não permite sua entrada nos banheiros masculinos. 

- Me desculpa, eu respondo abrindo a porta.

Prendo meu cabelo e saio do banheiro masculino.

Recebo uma ligação informando o hospital em que meu pai estava sendo operado. No mesmo momento me dirijo até lá.

- Meu pai, Charles Miller, chegou aqui ontem e foi operado, em que quarto está? - eu pergunto olhando para a recepcionista que fala ao telefone, no mesmo momento ela digita algo no computador e então desliga o telefone.

Ela pergunta meus dados e preenche os campos na tela, então me entrega um tipo de cartão e me informa o número do quarto e a ala.

Vou até o quarto e quando estou quase no quarto, meu coração acelera. Entro no quarto e vejo meu pai ligado a aparelhos, ele parece dormir. Eu me sento em uma poltrona ao seu lado.

- Eu perdi meu primeiro amor...- ouço sua voz cansada- Eu só me lembro de olhar para o lado, eu estava dirigindo, estávamos indo para casa, seria o nosso jantar de aniversário de casamento, tudo estava preparado.

Eu escuto suas palavras com atenção. 

Se é uma coisa que eu tinha certeza era o amor dos meus pais, eu me lembro de vê-los sempre agindo como namorados, eu não entendia...

- Eu ouvi o som do seu riso, pelo qual me apaixonei, eu precisava ver aquele sorriso outra vez, por pelo menos um segundo, mas um segundo foi tempo demais. -ele diz e eu vejo uma lágrima escorrer de seus olhos- Eu vi o brilho de seu sorriso pela última vez e por um momento eu sorri... Mas então vi sua expressão de espanto...

Ele não consegue terminar de dizer.

Eu durmo ali.

21 de agosto de 2018 

- Então seu avô disse que não me deixaria namorar sua mãe -ele diz sorrindo- mal sabia ele que eu era insistente.

- Então você voltou e pediu outra vez? -eu perguntei curiosa.

- Não, eu decidi esperar, e elaborei um plano, eu queria que sua mãe se apaixonasse por mim também. Então eu ia para igreja aos domingos, mas só por causa dela.- ele sorri ao se lembrar- Ela ficava me olhando e eu fingia que não a via, mas só por um tempo. Depois eu comecei a me sentar ao lado dela. O seu avô me olhava sempre com a cara amarrada quase como se fosse me matar. 

- E quando foi que você falou com ela? - eu pergunto rindo.

- Quando ela falou comigo... Ela disse oi e sorriu, então o pai dela a chamou para entrar no carro. Depois disso nós conversamos muito, até que o pai dela pediu pra que eu me casasse com ela.

- Por que ele pediu? -Eu começo a rir.

- Meu plano deu certo, ele disse que teria que cuidar de nos casar logo ou tudo daria errado, e assim eu me casei com sua mãe, depois de alguns meses. Um dia antes do nosso casamento foi o nosso primeiro beijo.

- Eu não acredito, pai, só depois de tudo isso?

- Sim, pois seu avô só pediu que eu me casasse com ela, pois ele viu que eu queria e por isso fui determinado. 

- E o senhor agora terá de mostrar sua determinação para se recuperar. -a enfermeira diz entrando no quarto com um pequeno carrinho com algumas coisas.

- Está tudo bem com meu pai? -eu pergunto para ela.

- Sim, ele é muito forte, vimos bons sinais de recuperação, está de parabéns.- ela responde orgulhosa.

- Então vou sair pra que você possa ter privacidade. -Dou um beijo na testa dele e saio em direção aos refeitórios.

Compro algo para comer e ando para fora do hospital, me distancio dele sem ver, tinha saudades dessa cidade agitada. 

Vou andando enquanto como meu lanche, um homem apressado esbarra em mim e seus papéis voam com o vento, olho para cima para ver os papéis que o vento leva, o homem se distrai tentando segurar os poucos papéis que sobraram em suas mãos. Continuo olhando para cima, até que ouço meu nome em uma voz familiar.

- Alice! -a expresão é de alegria, não consigo acreditar que consegui esbarrar com ele.

A dracma da felicidadeOnde histórias criam vida. Descubra agora