Prólogo

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Não ler o que tenho para dizer é quase um crime, já que vou morrer e você deveria ter pena.

Antes de tudo, 17 anos, meu nome é Barínloche (sim, está errado, pois minha mãe jurava para si que Bariloche se escrevia com 'n') Antônio, o "Antônio" é graças ao meu pai. Pois bem, me chamam de Barín desde então.

Quando eu nasci, foi um pouco complicado, pra você vê que eu estava fadado a miséria.

Em um hospital capenga no centro da cidade, o médico jurou que o bebê não sairia. Após três espirros de minha mãe, lá estava minha cabeça. O bebê ficou preso no cordão, eles disseram. Um bebê com pensamentos suicidas, essa é a história de meu parto.

Depois disso, cresci na minha cidade do interior, amei duas garotas, uma foi pra fora do país, a outra está rica e casada com um homem rico, pelo menos, quando eu me apaixono por alguém logo em seguida as pessoas tomam o rumo da vida. E aqui estou eu, editando um texto monótono sobre quem eu sou para ninguém. 

Me faz bem refletir sobre quem eu sou, é mais importante do que descobrir o que está ao redor. EU PAREÇO LEONINO QUANDO FICO FALANDO DE MIM, e eu sou. Não cara, não acredito em signo, ou só um pouco.

Eu, pretérito, futuro e presente. 

Acho que sou péssimo com apresentações como você pode ver, faz parte. Olhos pretos, magro, cabelo bagunçado, aquele adolescente de filmes cult que você gosta (não muito o Ferris de 'Curtindo a Vida Adoidado', pense em outro adolescente menos rebelde), só que pobre, sociável e sem o cult. Não fui interessante até uma doença aparecer no meu estômago, então antes disso eu só posso falar o básico, zero relevância.

Finalmente, destaque. Olha, todos serão um destaque algum dia, não pisei na lua, mas toquei em pessoas e virei histórias delas. Então sei lá, tudo é ponto de vista, depende do destaque que você quer, sabe? Achar o amor é dá sentido pra vida, uma amizade, um dom... Então eu acredito que fui destaque com a doença; não necessariamente a DOENÇA, mas depois com o que veio.

Me perco no que digo e começo a refletir sobre a vida, talvez além da doença eu tenha déficit.

Sou viciado em música, em fone, em ratos e biscoito de limão. Antes de morrer, eu quero que você saiba o básico, porque é importante. Gostaria que meu sobrenome fosse Diamante, queria ser menos dramático, queria ter menos sentimentos. Gostaria de ter mais amigos, sair mais, beber mais, beijar mais gente e até enfrentar meus medos mais bobos. Como balões. 

Eu queria me afundar no atlântico, encontrar sereias e morrer sem ar. Queria que os pais ouvissem mais vezes o que os filhos dizem, e quando fizessem, tentassem entender que: todos nós somos crianças. 

Não, eu não montei uma lista de desejos para 150 dias, eu beijei, bati, fugi, briguei e o resto você vai ver. Conheci pessoas horríveis, pessoas surpreendentes e me conheci, o mais importante. 

Eu gostaria que não sofrêssemos num leito de hospital para se arrepender do que não fez. Talvez minha doença foi uma dádiva, me deu dias contados para fazer de tudo. Pois, imagina alguém morrer atropelado? De engasgo, de tiro, de decapitação por linha com cerol.

Sei lá, só sei que, isso tudo é dedicado para você, e que a hora para fazer alguma coisa, é agora. Isso soou muito livro motivacional ou clichê. Mas clichês acertam. 

E talvez eu esteja tentando te dizer como o mundo funciona, mas quem sou eu com apenas dezessete anos? Ah, tanto faz. 

Talvez a melhor forma de descobrir qual a razão da vida, seja vivendo.

E eu fiz tudo isso em 150 dias.

150 Dias de BarínOnde histórias criam vida. Descubra agora