Esse capítulo é dedicado para todos aqueles que possuem dificuldade em assumir sua sexualidade, seja por um motivo familiar ou pessoal. Nem todas as histórias são iguais, mas eu me inspirei em uma para fazer essa. Desejo sorte, paz e força para quem deseja "se assumir".
Estava caminhando para o ponto de ônibus, não conseguia pronunciar muita coisa. Imaginava o que poderia ter acontecido e tudo me embrulhava o estômago,minha mente vacilava e me levava de volta aqueles pensamentos.
Amina e Julieta continuaram no colégio, queria que fosse apenas nós dois. Pela vergonha dele e para ficarmos a vontade, pela minha parte. Sendo assim, coloquei os fones, entrei no ônibus e vi a paisagem daquela tarde de sol fraquinho estampando minha janela suja, enquanto Visions of Gideon tocava no meu fone.
Abro a mochila, pego um M&M e vou virando na boca. Estava precisando de uma grande dose de chocolate para me acalmar, queria que esse ônibus demorasse mais, queria dormir e acordar nesse banco, queria não poder saltar e encarar a realidade. Joaquim com o rosto inchado, possivelmente dopado de calmante e fraco. E seu pai, que mal mandava dinheiro, se sentiu no direito de se meter na sexualidade de um filho que ele não era presente.
Desço do ônibus e olho para o hospital gigantesco na minha frente, tiro o casaco e amarro na cintura, mas continuo de toca mesmo que fizesse um calorzinho. Atravesso a rua e compro churros de chocolate na barraquinha, queria fazer uma média, para que o assunto começasse de um ponto.
Dou o dinheiro e entro, o cheiro de remédio invadindo meu nariz. Pessoas correndo, barulhos de batidas de coração, e alguns ferimentos manchando as gazes em vermelho escuro. Vou até o balcão e pergunto dele.
-Você é da família? - a recepcionista pergunta.
-Sim - minto.
-E o que é dele?
-Primo - respondo rápido. - Por parte de mãe.
A mentira com detalhes ajuda a parecer real.
-Qual seu nome? - ela pergunta.
-Barínloche Antônio - respondo, impaciente, e a mesma olha na lista.
-Ah, o senhor está aqui - ela diz me dando um sorriso. - Aqui está escrito que vocês são irmãos.
Joaquim é tão exagerado.
-É de consideração, crescemos juntos - minto ainda mais, ela só tinha que me deixar passar, o chocolate estava começando a descer.
Ela me diz a sala e sigo, mesmo que minhas pernas doessem para caminhar, mesmo que meu coração retumbasse forte no desespero da surpresa... Eu segui. O corredor pequeno e barulhento, ficara longo e silencioso, tinha medo agora, minha barriga transbordava ansiedade. Por mais que tudo tenha acontecido entre nós dois, não desejo um preconceito assim para ninguém.
Cheguei a sala, olhei pela janela, Maggie estava cuidando dele, os dois conversavam um pouco sério, ele deu um sorriso amarelo e ela saiu.
-Ah! Olá - ela diz, me olhando com surpresa. - Ele está o esperando.
-Sim, é que...
-Eu sei - ela diz e coloca a mão no meu ombro. - Leve o tempo que precisar.
Maggie segue pelo corredor, me deixando ali sozinho, olhando Joaquim.
O olho estava inchado e roxo, a boca cortada e um curativo cobria metade da testa. Seu olhar estava cinza e perdido, olhando para o teto, e quando eu vi a lágrima cair...
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150 Dias de Barín
Teen FictionEm 2017, Barín Antônio foi diagnosticado com uma doença fatal. Tendo seus dias contados para viver, uma ideia surge em sua mente visando seu último ato, o jovem e mais três amigos começam a planejar "A Festa dos Balões". O que era para ser apenas um...