5 - Café Com Álcool

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Quando eu fui perceber, lá estava eu novamente na maca de um hospital. Julieta estava dormindo numa poltrona no canto, Joaquim estava deitado com a cabeça perto do meu pé, na mesma maca, e Amina estava no chão encostada na parede. 

Retirei a máscara do rosto e olhei ao redor, meus pais não estavam ali na sala e parecia já ser de noite. Olhei pra Joaquim, o mesmo dormia de boca aberta e fiquei com pena de chamá-lo, mas era necessário. Cutuquei seu pé e ele levantou num pulo fazendo barulho na cama, as garotas acordaram e se aproximara rapidamente.

-Calma, o que houve? - pergunto esfregando os olhos.

-Você esteve desacordado o dia todo, Barín - informa Amina. - E desde então, estamos aqui.

-Vou chamar seus pais - intervém Joaquim, que em seguida sai correndo.

As duas estavam cansadas e tinham olheiras. Não queria mais aquilo, se todos ficassem dependendo de mim o tempo todo. Elas já sabem que vão morrer, por que ninguém poderia se afastar logo? Morreria melhor sem a dor de ver os que amo sofrer.

-O que está acontecendo comigo? - pergunto.

Mas nenhuma delas quis responder, Julieta me abraçou e logo depois meus pais abriram a porta com um estrondo. Primeiro minha mãe correu ao meu encontro e meu pai a acompanhou. Não pareciam querer chorar, mas inutilmente, tentavam me manter feliz com um sorriso amarelo. A médica apareceu no corredor e acendeu a luz do quarto. Pedindo que meus amigos se retirassem.

-Oi, Barínloche - ela diz sorrindo. - Lembra de mim, certo?

-Alexia?

-Isso - então se senta ao meu lado. - Você teve um desmaio hoje cedo, em uma igreja no seu bairro. Consegue se lembrar?

-Ah... Sim.

-E como está se sentindo agora?

-Normal, eu acho. Não sinto enjoo - afirmo.

Parecia que não tinha muito o que fazer, eu iria me sentir mal, podia desmaiar e vomitar... Seria assim até os últimos momentos. Alexia nem ao menos diria para tomar um remédio, porque não tinha um remédio para "isso".

-Bom, aconselho a você a evitar sair mais, dei para seus pais um remédio para enjoo - ela mostra o frasco e me surpreende. - Tem alguma pergunta?

-Estão pesquisando sobre minha doença? Qual o nome dela? E também, tem chances de eu continuar vivo com ela?

Alexia coloca a mão na minha perna para que eu me acalme.

-Sim, estão pesquisando sobre ela há anos. Ainda não tem nome, só código... E você pode continua vivo após o dia estipulado, mas só mais uma semana mais ou menos - ela olha para baixo.

Era tão óbvio de que eu não tinha esperanças, porém ficar uma semana a mais vivo seria uma conquista. Eu acho. Durante todo o dia dentro do hospital, sendo estudado, medicado e analisado por várias pessoas. De quebra, quando eu saí, o hospital foi invadido por vários pacientes de um acidente de trem. A vida lá fora estava pior do que a minha talvez. Perdi mais um dia de vida.

No quarto, eu estava lendo "As Vantagens de Ser Invisível", a dedicatória do meu tio Rico estavam na lombada me fazendo lembrar que: Além dos adolescentes, os adultos nos enxergam como rebeldes sem causas e bêbados. 

A dedicatória diz: "Sobrinho querido, achei esse livro tudo a ver com você. Apesar de você ser muito sentimental, te acho parecido com a Sam. Não sei porquê. Leia e vai entender". 

Eu li, a Sam é meio rebelde... Bom, não acho que tenho a ver. Mas entende o que digo? Adultos nos enxergam assim o tempo todo. Que beijamos muitas pessoas, que transamos o tempo todo, que queremos ser advogados bem sucedidos. E cara... A adolescência é o momento que você não sabe NADA. Nem beija tanto, nem transa tanto e muito menos sabe o que quer ser no futuro. Pelo amor de Deus, eu não conheço nem nossos possíveis presidentes. Fuck it all.

150 Dias de BarínOnde histórias criam vida. Descubra agora