Quando eu fui perceber, lá estava eu novamente na maca de um hospital. Julieta estava dormindo numa poltrona no canto, Joaquim estava deitado com a cabeça perto do meu pé, na mesma maca, e Amina estava no chão encostada na parede.
Retirei a máscara do rosto e olhei ao redor, meus pais não estavam ali na sala e parecia já ser de noite. Olhei pra Joaquim, o mesmo dormia de boca aberta e fiquei com pena de chamá-lo, mas era necessário. Cutuquei seu pé e ele levantou num pulo fazendo barulho na cama, as garotas acordaram e se aproximara rapidamente.
-Calma, o que houve? - pergunto esfregando os olhos.
-Você esteve desacordado o dia todo, Barín - informa Amina. - E desde então, estamos aqui.
-Vou chamar seus pais - intervém Joaquim, que em seguida sai correndo.
As duas estavam cansadas e tinham olheiras. Não queria mais aquilo, se todos ficassem dependendo de mim o tempo todo. Elas já sabem que vão morrer, por que ninguém poderia se afastar logo? Morreria melhor sem a dor de ver os que amo sofrer.
-O que está acontecendo comigo? - pergunto.
Mas nenhuma delas quis responder, Julieta me abraçou e logo depois meus pais abriram a porta com um estrondo. Primeiro minha mãe correu ao meu encontro e meu pai a acompanhou. Não pareciam querer chorar, mas inutilmente, tentavam me manter feliz com um sorriso amarelo. A médica apareceu no corredor e acendeu a luz do quarto. Pedindo que meus amigos se retirassem.
-Oi, Barínloche - ela diz sorrindo. - Lembra de mim, certo?
-Alexia?
-Isso - então se senta ao meu lado. - Você teve um desmaio hoje cedo, em uma igreja no seu bairro. Consegue se lembrar?
-Ah... Sim.
-E como está se sentindo agora?
-Normal, eu acho. Não sinto enjoo - afirmo.
Parecia que não tinha muito o que fazer, eu iria me sentir mal, podia desmaiar e vomitar... Seria assim até os últimos momentos. Alexia nem ao menos diria para tomar um remédio, porque não tinha um remédio para "isso".
-Bom, aconselho a você a evitar sair mais, dei para seus pais um remédio para enjoo - ela mostra o frasco e me surpreende. - Tem alguma pergunta?
-Estão pesquisando sobre minha doença? Qual o nome dela? E também, tem chances de eu continuar vivo com ela?
Alexia coloca a mão na minha perna para que eu me acalme.
-Sim, estão pesquisando sobre ela há anos. Ainda não tem nome, só código... E você pode continua vivo após o dia estipulado, mas só mais uma semana mais ou menos - ela olha para baixo.
Era tão óbvio de que eu não tinha esperanças, porém ficar uma semana a mais vivo seria uma conquista. Eu acho. Durante todo o dia dentro do hospital, sendo estudado, medicado e analisado por várias pessoas. De quebra, quando eu saí, o hospital foi invadido por vários pacientes de um acidente de trem. A vida lá fora estava pior do que a minha talvez. Perdi mais um dia de vida.
No quarto, eu estava lendo "As Vantagens de Ser Invisível", a dedicatória do meu tio Rico estavam na lombada me fazendo lembrar que: Além dos adolescentes, os adultos nos enxergam como rebeldes sem causas e bêbados.
A dedicatória diz: "Sobrinho querido, achei esse livro tudo a ver com você. Apesar de você ser muito sentimental, te acho parecido com a Sam. Não sei porquê. Leia e vai entender".
Eu li, a Sam é meio rebelde... Bom, não acho que tenho a ver. Mas entende o que digo? Adultos nos enxergam assim o tempo todo. Que beijamos muitas pessoas, que transamos o tempo todo, que queremos ser advogados bem sucedidos. E cara... A adolescência é o momento que você não sabe NADA. Nem beija tanto, nem transa tanto e muito menos sabe o que quer ser no futuro. Pelo amor de Deus, eu não conheço nem nossos possíveis presidentes. Fuck it all.
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150 Dias de Barín
Teen FictionEm 2017, Barín Antônio foi diagnosticado com uma doença fatal. Tendo seus dias contados para viver, uma ideia surge em sua mente visando seu último ato, o jovem e mais três amigos começam a planejar "A Festa dos Balões". O que era para ser apenas um...