***Aconselho a ler este capítulo com fones de ouvido e abrir esse link para escutar as músicas durante https://www.youtube.com/watch?v=iNPQ45hxWlo *** ou então, escutar após a leitura do capítulo para saber como foi a sensação da cena do carro! :)
Boa experiência..
O carro de Joaquim ficou estacionado no estacionamento, a chuva me despertou quando acordei no banco deitado. Ele estava fumando, e percebendo que acordei, aumentou o volume. Tocava uma música do Arctic Monkeys, e ele batucava o dedo no volante e assoprava a fumaça. Seu cabelo estava mais bagunçado do que nunca, tinha pintas no pescoço que nunca notei, e aquele céu nublado, dentro deste carro, deixava a cena toda incrivelmente artística.
-Sabe o que eu queria ser? - ele falou, de repente. - Mestre de capoeira.
Tragou e soprou.
-E depois eu quis ser bailarino. E também já quis ser... Só eu.
Tragou e soprou.
-É estranho saber que, me tornei algo que não estava nas minhas opções - ele me olha e dá um sorriso amarelo. - Mas eu não estou triste, pelo contrário.
Levanto e observo aquela chuva forte na frente, as palmeiras estavam agitadas e ninguém passava por ali. Era apenas o barulho da chuva com o som chiado do rádio. Olhei para ele, o cigarro já estava quase do tamanho do dedo mindinho, mas ele continuava fumando e fumando.
-Quais os seus medos? - pergunto, ele me olha com desconfiança. - Sério, diz.
E joga o cigarro pela janela.
-Morte? - arrisca. - Esse vale?
-Não, muito comum. Quero saber seus medos únicos.
Ele assenti.
-Tenho medo de fracassar comigo mesmo, e me tornar tudo o que meu pai disse que eu seria. Medos assim?
Respiro fundo, ele sorri sem graça e tento ignorar. - Me diz seus medos, como eu tenho de balões...
-Para com isso.
-Por favor.
Ele abre o maço, mas tiro da sua mão.
-Por favor?
-Ok! Tenho medo de filhotinhos. Sim, de cachorro - e começa a rir quando me vê tentando não rir. - É por isso que não queria falar.
-FILHOTES?
-Você tem medo de balões, não vale.
-É porque balões estouram, o que cachorro faz?
-Filhote faz tudo ao extremo do que o cachorro maior aprendeu a não fazer. Mordem? Latem? Andam em duas patinhas enquanto tentam te morder latindo?
Volto a rir e ele também.
-Ok, vale - concluo. - E mais o que? Não vem com dramas familiares.
-Tenho medo de abelhas. Acho que só.
-Justificável.
Ele tira o maço da minha mão e pega um cigarro, ascende e coloca na boca, enquanto me olha. Ficamos assim por um momento, era evidente que ele sabia que eu estava pensando sobre o que me disse. O que era a família de Joaquim, afinal?
-Meu pai é um bêbado, mas tem dinheiro... E minha mãe, sei lá, está tão desacreditada que prefere morrer com ele e as mil amantes - ele assopra a fumaça em forma de O. - Quando eu era criança, minha avó morreu de repente, no meio da mesa do jantar, em pleno natal...
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150 Dias de Barín
Teen FictionEm 2017, Barín Antônio foi diagnosticado com uma doença fatal. Tendo seus dias contados para viver, uma ideia surge em sua mente visando seu último ato, o jovem e mais três amigos começam a planejar "A Festa dos Balões". O que era para ser apenas um...