13 - Não Existem Regras Quando Encostam No Antônio (Parte 1)

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-Filho, você precisa nos contar o que aconteceu naquele dia - começou minha mãe.

Era nove horas da manhã, meu corpo estava coberto por pomada e algodão, eu tomava suco direto de um canudo por que dormi de mal jeito e não conseguia mover o pescoço... E os dois, meu pai juntamente, insistiam em  perturbar ainda mais meu dia. 

-Não quero falar sobre isso.

-Mas a polícia quer saber, o colégio quer saber, e principalmente, nós queremos - era a vez de meu pai, tinha aquela voz dura para mostrar superioridade. - Não podemos dizer para sempre que você não está bem para falar.

-Realmente, não vai dar para falar pra sempre isso - digo, ironizando o fato de que eu iria morrer.

-Você está achando graça?

-Eu viro coisas horríveis em motivo de piada para amenizar a dor do fato. Sim, eu estou achando um pouco - concluo.

Minha mãe para de passar pomada na minha perna. Tinha os cabelos cacheados naquela manhã, olhos fundos e um pijama que dizia "Amazing Mom", parecia exausta, estava linda, mas cansada das noites mal dormidas desde que soube que seu único filho iria morrer. Ainda mais agora que ele quase morreu por algo que ela não fazia ideia do que era.

-Conversamos com Julieta, Amina e Joaquim.

Reviro os olhos.

-Precisávamos fazer - ela continua. - Você não diz nada, eles estão querendo te visitar.

-Não quero receber visita deles, só isso.

-Conversamos com Alec.

Me espanto, como eles conheciam ele?

-Fora ele que te levou até a ajuda de outros colegas, bem menor que você, mas teve forças para te ajudar - meu pai explica, usava um moletom da Adidas, o que lhe dava um ar totalmente ao contrário de sua idade. - O menino disse que não lhe conhecia muito, que apenas te viu lá, jogado e sangrando.

-Você estava nu, Barín.

-Eu sei mãe! Eu sei de tudo o que aconteceu, céus! Não quero contar, somente.

-Por vergonha?

Lágrimas começavam a querer aparecer no meu rosto, mas eu deveria lutar para que continuassem escondidas. Não sabia o que falar, simplesmente, não fazia ideia. Eu poderia contar que sofri bullying, ela entenderia. Mas que tipo de bullying? Aqueles que fazem com meninos gays? Por que você sofreu esse? 

Não que meus pais não me aceitem, mas ao dizer isso, eu teria a plena consciência de que não voltaria atrás. E nem eu sei o que sou no momento.

-Podemos...

-Não. Não podemos. Me conte - ela diz mais séria, naquele momento eu soube que não tinha como fugir do assunto por mais tempo. - Quem fez isso com você?

Vou lhe resumir, o resto da conversa foi recheada de choro, eu falando que não sabia ao certo quem era, mas os garotos eram do time de futebol, e que eu apenas xinguei um deles por estar me irritando. A história que passei para eles, é a história que eles passariam para a polícia. O medo tomou conta de mim, se eu mentir agora, como direi a verdade futuramente sem parecer um confuso?

A polícia ouviu meu depoimento, me arrastaram para a escola e me fizeram contar tudo o que aconteceu. Falei por horas, me amostraram quase todos os alunos de futebol, quando a foto de Carlos apareceu, congelei no banco, mas apenas disse que não lembrava se era ele.

150 Dias de BarínOnde histórias criam vida. Descubra agora