2 - Temporada Sangrenta Dos Homens

103 17 23
                                    



Eu olhava as luzes do corredor passando enquanto a enfermeira perguntava as coisas para Joaquim, o menino ensanguentado. E enquanto ela tentava entender o que aconteceu, ele tentava explicar. Nem eu sabia direito como tinha ocorrido, nem o porquê. 

Nisso, eu vi meus pais chegando bem lá no fundo correndo, minha mãe chorava e meu pai conversava com a enfermeira ainda mais desesperado. Julieta apareceu em seguida.

No fundo da minha cabeça estava tocando "Ave Maria", sim, devo estar morrendo. Ainda mais agora que, sem falar para eles, as luzes começavam a me deixar tonto e toda aquela velocidade da maca, fecho os olhos e apago.


Acordei em um quarto frio, era noite e Julieta estava no pé da minha cama. Mexia no celular deslizando o dedo pela tela apressada, sorria perversamente, então deduzi que era algum aplicativo de namoro. Enrolava os cachos caramelos nos dedos, lambia os lábios a cada um minuto e então pensei, o que deu em mim em nunca reparar em Julieta amorosamente? É a garota que mais se preocupa comigo. Talvez não seja porque somos de diferentes sexos que nascemos pra ficar juntos. A considero como uma irmã, imagina se ela me considerar como algo mais?

-Idiota?! Que foi que está me encarando? 

-Estive pensando...

-No vômito que deu no menino do colégio? Em como ficou horas desacordado? Ou nos apelidos que vai dar para o evento? Eu voto em "Carrie - A Estranha ataca"

-Não, sem noção - me sento. 

Julieta ignora e senta perto de meu pé, mostra os matches com os garotos e logo minha pergunta tem sua resposta. Os meninos que Julieta dão "like" é totalmente diferente de mim, isso me conforta, mas ao mesmo tempo não. Fazem parte daquele núcleo "aspirantes a artistas", piercing, tatuagens, um rosto que diz "roubou vinho na loja da esquina".

-Que cara é essa? - ela pergunta intrigada olhando pro celular como se estivesse algo nele que eu não deveria ver.

-Esses meninos... São, sei lá...

-Feios? Nem pensar Barín...

-Não disse isso.

-Então o que é? - arqueia a sobrancelha.

Penso na resposta que não a deixaria com pena de mim. Mas não consigo.

-São tão diferentes de mim.

Seu semblante muda de curiosa para "coitadinho" em segundos.

-Não que sejam melhores, mas acho que é a preferência de garotas – explico, mas ainda não a convenci a parar de sentir pena.

-Sério?

-Sério.

Julieta revira os olhos como se eu dissesse um crime. Mas é a realidade, garotas preferem os "badboys".

-Barín, você é homem...

-E o que tem?

-Não conhece as mulheres, cala a boca. 

Ela tinha razão. Mas ainda, eu acredito que esteja em uma pequena parcela no que agrada uma pessoa. Talvez eu só agrade a mim mesmo. Pra quem estou mentindo? Nem a mim consigo agradar.

-Odeio quando você fica em silêncio.

-Eu estou pensando, Ju - digo, irritado. - Cadê o menino?

-O do vômito...

-Joaquim.

-Sei o nome - revira os olhos. - Ele saiu há pouco tempo, disse que precisava ir para casa. Perdemos o primeiro dia.

150 Dias de BarínOnde histórias criam vida. Descubra agora