12 - Entrada Pela Janela Igual Filmes De Adolescente

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Quando acordei, tinha um cheiro de gesso e algo segurando meu olho esquerdo. Então, abri somente um único olho e continuei procurando alguém naquele quarto, que não era o meu. Estava no hospital, entubado, sem sentir nada no meu corpo, e eu nem lembrava o porquê de estar ali.

Só poderia ser um pesadelo.

Me estiquei para apertar a campainha embaixo da cama, e consegui. Uma enfermeira entrou pela porta um pouco desesperada, e deu pulinhos de alegria ao me ver. Bom, definitivamente algo de errado estava acontecendo e eu não sabia. Ela saiu correndo do meu campo de visão gritando por meus pais. O que meus pais estão fazendo aqui?

Logo, eles entraram já chorando de felicidade, e seguido deles, a doutora Maggie, substituta de Alexia. Correu até mim sorridente e tudo o que eles falavam não passava de zumbido, logo, a mesma percebeu que eu não estava escutando e então retirou os algodões e toda uma proteção dos meus ouvidos, que pela cor de sangue que tinham, eles deveriam estar amassados.

-Consegue lembrar de nós? – pergunta a doutora.

-Sim, claro que sim. Por que não lembraria? – pergunto.

-Você, lembra do que aconteceu, Barín? – ela indaga.

O que aconteceu... Nada vinha a minha cabeça. Olhei da médica para os meus pais e dele para três adolescentes do lado de fora da sala. Amina, que usava seu lenço na cabeça e conversava animada com Julieta, que mantinha os olhos tristes em mim porém com um sorriso grande e Joaquim...

Joaquim...

-Não! – grito. – Não, por favor!

-Se acalme, Barín – pede Maggie.

-Eles estão me machucando! – volto a gritar.

Sentia a dor, os pontapés, os desenhos no meu corpo nu e as ofensas. Lembrava de tudo, infelizmente. Aquele vestiário masculino, tudo por causa de uma difamação que se espalhou, e lá estava Joaquim, será que foi ele que me salvou daquele dia? Será que o mesmo brigou com todos os garotos?

-Por favor, me tirem daqui – pedi, agonizando.

-Daqui de onde, meu filho? – perguntou meu pai.

-Do hospital, me tirem desse lugar, quero ir pra casa – digo.

-Você precisa de um tempo de repouso – informou Maggie. – Ainda está muito nervoso com tudo, podemos deixar seus amigos conversarem com você...

Engulo em seco, não queria conversar com nenhum deles, não queria falar sobre o que aconteceu, pelo menos, não agora.

-Pode me dizer quem me trouxe aqui?

Maggie olha para os meus pais.

-O Alec – minha mãe diz. – Ele disse que te encontrou no chão após entrar no vestiário, te carregou quase sozinho pelo colégio inteiro.

Tento assimilar, Alec era menor do que eu, de onde ele tinha tirado forças para isso, eu não sabia, mas conseguiu. Então não foi Joaquim, nem Julieta e Amina, foi apenas um desconhecido com qual eu não falava muito, e não meus melhores amigos.

-Alec está aí? – digo, ficando um pouco grogue agora quase o remédio que ela injetou começa a fazer efeito.

-Não, pode dormir Barín – acalma Maggie.

-Tudo bem, mas não deixe ninguém entrar, além dos meus pais – digo, e fecho os olhos.

Os dias foram resumidos em exclusão total, não quis falar com Julieta, que protestava do lado de fora para saber o porquê. Nem com Amina, que decidiu por respeitar minha decisão, e com certeza não quis falar com Joaquim, que apareceu duas vezes na minha janela na parte da noite achando que eu estava dormindo.

150 Dias de BarínOnde histórias criam vida. Descubra agora