"Eaí pessoal, aqui é o Barín Antônio. Vim aqui dizer que estou arrumando uma festa de despedida. Não, não vou pro exército e nem me mudar, vou morrer mesmo, olha que legal. Então, no meu último dia de vida, teremos bebidas, comidas e fogo na vizinhança! Faz um vídeo também e coloque no storie do Instagram"
FOI MAIS RÁPIDO DO QUE PENSEI. Um simples vídeo na internet ganhou proporções gigantescas. Espalhei hastags com #FestaDosBaloes e todo mundo estava usando, respondi as meninas no grupo e Joaquim ainda não tinha dado sinal. Whatever, eu pensei. Dado a quantidade de vibrações que meu celular deu nas últimas horas, eu não deveria ligar para o beijo acidental e sim para minha nova "faminha".
De manhã acordei com minha mãe me acordando, fomos para o carro e eu estava faltando aula mais uma vez. O colégio já sabe da minha condição, então tanto faz se eu perder a aula de física para a prova daqui a dois meses.
O hospital estava com cheiro de aparelhos cirúrgicos (aquele cheiro bom de morte e vida, você sabe como hospital cheira não é?) e um pouco silencioso. Alexia me conduziu até uma ala de pacientes em estados terminais. Não foi muito bom ver todas aquelas pessoas sem esperanças com o futuro. Algumas quase inconscientes e outras apenas silenciosas, e atrás do grande vidro fumê, eu as observava com atenção.
Minha mãe segurou meu ombro, mas eu não queria chorar. Muito pelo contrário. Tinha o prazer de ainda estar vivo e com sã consciência. Meus amigos, os amores, a luz fraca do sol na janela, o cheiro de bolo de fubá da minha mãe. De verdade mesmo: dê importância a pequenas coisas, pois juntas, as mesmas os farão forte. Foi ali, enquanto eu observava pessoas em estados críticos, que eu pretendo não me arrepender de nada.
A partir de hoje. Se eu errar ou ganhar, fui eu o tempo todo, e isso é muito bom.
Saímos dali e demos um passeio na sala de pesquisa, a minha doença estava em somente... PASME... 5 PESSOAS.
A P E N A S CINCO.
Interligados como se fossemos uma espécie de Sense8 ou algo assim. Todos nós cinco a redor desse globo temos apenas uns míseros dias. Alexia me informou que um paciente tinha mais do que todos nós, um ano de vida. Depois dele vinha uma criança, com trezentos, um adolescente com duzentos, eu com 150 e uma idosa com apenas uma semana (ela morre nesse sábado). A doença pouco importa, tem um centro de procura nos Estados Unidos e parecem bem longe de descobrir. O código é 2118914. Pois é, parece um código do GTA por computador ou batidas em morse.
Conversamos, ela me passou mais alguns remédios de experimento. Naquele dia eu vomitei o comprimido na pia da cozinha. Voltamos lá depois na terça, Alexia me deu mais um outro e enfim esse fez resultado. Se chamava JOECTER. O apelidei de Joe.
Tomei o Joe por todo esse mês, conversava com as pessoas do colégio enquanto o digeria no meu estômago.
"Barín eu quero dizer que sempre achei você o máximo".
"Ba- o que? Tanto faz. Vou nessa festa e levarei muita bebida".
Foi assim os dias em que fui para o colégio Santo Paulo, com o frasco do Joe na mochila que deveria tomar de duas em duas horas até sentir que parei de vomitar/espirrar sangue. Nos primeiros dias eu saía correndo das aulas, na maior parte fora alarme falso. O Joe parecia estar funcionando demais, BANG BANG.
-E o incidente com o Joaquim? - perguntou Amina certa vez.
Dei de ombros.
-Ele não fala nada no grupo e não aparece no colégio com frequência, nem sequer senta com a gente quando chega a vir - reclama Julieta.
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150 Dias de Barín
Novela JuvenilEm 2017, Barín Antônio foi diagnosticado com uma doença fatal. Tendo seus dias contados para viver, uma ideia surge em sua mente visando seu último ato, o jovem e mais três amigos começam a planejar "A Festa dos Balões". O que era para ser apenas um...