-Com quais provas você fez o que fez? - pergunta a diretora irritada. - Joaquim, você sabe que é maior de idade e...
-Carlos não irá abrir um processo contra mim.
Eu e a diretora nos viramos boquiabertos para ele, Carlos continuava massageando o queixo de cabeça baixa. A sala da diretoria era bem americanizada, tinha quadro de professores, uma mesa marrom e três cadeiras na frente da poltrona acolchoada da diretora Regina. Agora, ocupavam os três problemáticos do colégio Santo Paulo, o indeciso, o agressor e o defensor.
-Não estou querendo incitar nada, mas... Ele pode.
-Poder... Pode - desdenha Joaquim olhando pra cima. - Querer... Acho que não.
Carlos olha para ele.
-O mesmo sabe que eu ganharia o processo, ele sabe o que fez a Barín...
-Não iremos falar disso agora na presença da vítima sobre o outro ocorrido - pede ela me olhando de relance.
-Por mim está tudo bem.
-Então concorda?
-Com?
-Com isso que seu colega de classe está falando. Carlos o feriu naquele dia?
Sinto os três me encarando, mas resolvo olhar nos olhos do meu agressor. Era ali que estava meu medo, minha vingança e liberdade. Uma angústia invade meu estômago me dando ânsia de vômito, mas me mantenho firme encarando os olhos verdes de Carlos, que de frente e observando detalhes, mais parecia um cachorro buldogue.
-Não lembro quem me fez isso...
-Por Deus! Já faz mais de uma semana.
-Creio que a senhora não seja médica para saber de minha recuperação.
-Oh, não... Não mocinho. Não será grosso comigo, quero lhe ajudar - ela posiciona o óculos melhor no centro com suas unhas vermelhas, observo o pescoço fino dela, as rugas no rosto mesmo não sendo tão velha, uma maquiagem exagerada que não combinava nada com a manhã. - Você não lembra de nada mesmo?
-Não.
Joaquim bufa do meu lado.
-Olha, tanto faz ele lembrar ou não. Carlos não está coagido por mim, ele tem todo direito de me processar, você tem o direito de me expulsar, mas não pedirei desculpas por algo que não me arrependo - finaliza.
-Carlos, quer dizer alguma coisa? - era a vez do coordenador atrás dela, um homem baixinho e gorducho.
-Quero pedir para que esse caso se encerre, não tenho motivos para processar um desentendimento de amigos - ele gagueja, e depois funga o nariz, passando o mínimo de confiança.
-Vocês... Homens... São tão idiotas.
Nós três a encaramos, até mesmo o coordenador.
-Saiam da minha sala e vão caçar alguma coisa pra fazer, não deveriam ter passado da puberdade?
Levantamos em silêncio e saímos. Joaquim vai na frente com mais pressa e penso em segui-lo, ele anda decidido como se soubesse onde ia, não queria gritá-lo para parar, mas obviamente ele escutava meus passos indo atrás.
-O que está fazendo? - ele pergunta colocando as mãos no bolso.
-O que pensa? Quero lhe agradecer por...
-Pelo o que? - se vira finalmente, abre a porta da saída e continua caminhando pelo estacionamento, e vou atrás. - Me agradecer por ter feito meu papel de idiota na frente de todo mundo?
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150 Dias de Barín
Teen FictionEm 2017, Barín Antônio foi diagnosticado com uma doença fatal. Tendo seus dias contados para viver, uma ideia surge em sua mente visando seu último ato, o jovem e mais três amigos começam a planejar "A Festa dos Balões". O que era para ser apenas um...