14 - Não Existem Regras Quando Encostam No Antônio (Parte 2)

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-Com quais provas você fez o que fez? - pergunta a diretora irritada. - Joaquim, você sabe que é maior de idade e...

-Carlos não irá abrir um processo contra mim.

Eu e a diretora nos viramos boquiabertos para ele, Carlos continuava massageando o queixo de cabeça baixa. A sala da diretoria era bem americanizada, tinha quadro de professores, uma mesa marrom e três cadeiras na frente da poltrona acolchoada da diretora Regina. Agora, ocupavam os três problemáticos do colégio Santo Paulo, o indeciso, o agressor e o defensor.

-Não estou querendo incitar nada, mas... Ele pode.

-Poder... Pode - desdenha Joaquim olhando pra cima. - Querer... Acho que não.

Carlos olha para ele.

-O mesmo sabe que eu ganharia o processo, ele sabe o que fez a Barín...

-Não iremos falar disso agora na presença da vítima sobre o outro ocorrido - pede ela me olhando de relance.

-Por mim está tudo bem.

-Então concorda?

-Com?

-Com isso que seu colega de classe está falando. Carlos o feriu naquele dia?

Sinto os três me encarando, mas resolvo olhar nos olhos do meu agressor. Era ali que estava meu medo, minha vingança e liberdade. Uma angústia invade meu estômago me dando ânsia de vômito, mas me mantenho firme encarando os olhos verdes de Carlos, que de frente e observando detalhes, mais parecia um cachorro buldogue. 

-Não lembro quem me fez isso...

-Por Deus! Já faz mais de uma semana.

-Creio que a senhora não seja médica para saber de minha recuperação.

-Oh, não... Não mocinho. Não será grosso comigo, quero lhe ajudar - ela posiciona o óculos melhor no centro com suas unhas vermelhas, observo o pescoço fino dela, as rugas no rosto mesmo não sendo tão velha, uma maquiagem exagerada que não combinava nada com a manhã. - Você não lembra de nada mesmo?

-Não.

Joaquim bufa do meu lado.

-Olha, tanto faz ele lembrar ou não. Carlos não está coagido por mim, ele tem todo direito de me processar, você tem o direito de me expulsar, mas não pedirei desculpas por algo que não me arrependo - finaliza.

-Carlos, quer dizer alguma coisa? - era a vez do coordenador atrás dela, um homem baixinho e gorducho.

-Quero pedir para que esse caso se encerre, não tenho motivos para processar um desentendimento de amigos - ele gagueja, e depois funga o nariz, passando o mínimo de confiança.

-Vocês... Homens... São tão idiotas.

Nós três a encaramos, até mesmo o coordenador.

-Saiam da minha sala e vão caçar alguma coisa pra fazer, não deveriam ter passado da puberdade?

Levantamos em silêncio e saímos. Joaquim vai na frente com mais pressa e penso em segui-lo, ele anda decidido como se soubesse onde ia, não queria gritá-lo para parar, mas obviamente ele escutava meus passos indo atrás.

-O que está fazendo? - ele pergunta colocando as mãos no bolso.

-O que pensa? Quero lhe agradecer por...

-Pelo o que? - se vira finalmente, abre a porta da saída e continua caminhando pelo estacionamento, e vou atrás. - Me agradecer por ter feito meu papel de idiota na frente de todo mundo?

150 Dias de BarínOnde histórias criam vida. Descubra agora